domingo, 28 de agosto de 2011

ESCUTAR O AMOR


 
“Considera o teu próximo na totalidade da sua existência e não apenas numa etapa da sua vida”


(irmão Roger, Las fuentes de Taizé – Dios nos quiere felices, PPC, 2003, Madrid)



Foto: © Taizé
 



sábado, 27 de agosto de 2011

DE QUE MUNDO SOMOS?


Caríssimas e caríssimos,
em Junho passado, Luísa Alvim e Valentim Gonçalves iniciaram um diálogo a convite do grão de mostarda, sobre o tema De que mundo somos?. Como então escrevemos, esta proposta constituía um desafio a ambos para que se interrogassem sobre o mundo em que vivemos. O Mundo com maiúscula. Ou seja, nas suas diversas realidades.
Escritas em jeito de cartas, estas reflexões quinzenais constituíram ecos de esperança na bondade humana, sem nunca deixarem de olhar os “lados sombrios” do quotidiano. E é nas propostas de confiança quer ambos foram tecendo ao longo deste tempo, que hoje alicerçamos a reflexão desta semana, escrita pelo grão de mostarda, como ficou combinado, após quatro cartas trocadas entre Luísa Alvim e Valentim Gonçalves.
Com estima fraterna,
grão de mostarda
Luísa Alvim, cristã empenhada na paróquia católica de S. Victor, em Braga – os seus “diários” da catequese no Facebook constituem verdadeiras parábolas sobre o Amor Infinito --, é também membro do Metanoia – movimento de profissionais católicos. Técnica superior (área de Biblioteca e Documentação), na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão – actualmente a trabalhar na Casa de Camilo - Museu e Centro e Estudos –, diz-se uma “sonhadora do impossível”.
Valentim Gonçalves é pároco da comunidade católica de S. Pedro do Prior Velho, desde a sua constituição como paróquia, em Outubro de 1999. Porém, a população do Prior Velho (concelho de Loures) já conhece este missionário do Verbo Divino desde há duas décadas, quando começou a empenhar-se no serviço aos moradores da Quinta da Serra – bairro ilegal, constituído maioritariamente por imigrantes africanos. Vice-provincial da sua congregação e membro da Comissão de Justiça e Paz dos Institutos Religiosos, ainda desenvolve trabalho na antiga Quinta do Mocho (actual Terraços da Ponte, em Sacavém), igualmente habitado por uma imensa população de imigrantes africanos.



Carta do grão de mostarda para Luísa Alvim e Valentim Gonçalves
Caríssima Luísa e caríssimo Valentim,
“Quando sonhamos sozinhos, tudo não passa de um sonho. Mas, quando sonhamos juntos com alguém, então o que se sonhou começa a concretizar-se”. No seu livro Was ich glaub (1), Hans Kung cita estas palavras do carismático bispo brasileiro Hélder da Câmara, para ilustrar a sua convicção no sonho que alimenta, e logo a seguir assim expressa: “Também o meu sonho é sonhado por muitos, a minha visão de um cristianismo reconciliado, de paz entre as religiões e de uma autêntica comunidade de nações é partilhada por muitos. Do mesmo modo que Martin Luther King, não viverei para ver a concretização da minha visão. Mas também não a levarei comigo para a sepultura. Será propagada pelo desejo que gerações inteiras alimentam de um mundo mais pacífico, mais justo, mais humano. Nisso eu creio, nisso eu espero”.
Depois de se tornar a ler as vossas cartas, o sentimento que nos invade é o mesmo de Hans Kung: o desejo de um “tempo novo”, de uma humanidade mais fraterna não está abandonado… Relendo cada ideia, cada experiência que, ao longo de mais de dois meses, partilhastes connosco, uma convicção ganha raízes mais profundas em nós: é possível fazer desta Terra um lugar habitável. É possível uma visão esperançosa e confiante na vida.
Não podemos ignorar os sérios momentos de desumanização a que estamos a assistir – alguns recordados nas vossas cartas –, quer sejam de âmbito nacional ou internacional, mas a verdade é que também nos chegam sinais de esperança. Em cada semana, recebemos notícias de pessoas que, no silêncio do quotidiano, alimentam a bondade de coração, tornando-se dom em favor dos injustiçados, dos desprovidos de meios humanos ou materiais, dos abandonados. Chegam-nos ecos de solidariedade fraterna: uma médica, que após o trabalho no hospital, dedica o seu tempo a cuidar de uma octogenária a viver só, que não é sua familiar; um homem que se empenha em congregar os irmãos para que apoiem um outro irmão, acabado de sair da cadeia, mas a viver problemas de saúde e de estruturação interior; vizinhos que, no anonimato, auxiliam com alimentos a família de um ex-alcoólico, agora em busca de trabalho; um casal sem filhos que aceita acolher “tornar seu filho” um menino da Roménia, abandonado pela mãe num orfanato daquele país… e ainda outros que gastam o tempo a acompanhar e a escutar pessoas sós ou doentes, que muitas vezes, o que mais esperam é poderem contar com uma palavra de confiança e uma presença amável…
E aqui recordamos uma das cartas da Luísa Alvim (17 Julho), numa das ideias que mais sensibilizaram os nossos corações: “ (…) cada um de nós é tocado para exercer o seu modo de estar no mundo de forma exemplar (…). Intervir no nosso pequeno mundo, pode fazer a diferença posteriormente no todo, no esforço conjunto (...). A nova democracia terá que ser benevolente em si mesma”. Estas palavras levam-nos à interrogação: Como buscar um sentido para a vida? Ou seja, como me tornar “uma pessoa humilde interiormente que não deixe de se questionar com espírito crítico” e intervenha “igualmente em favor de outros, em favor dos que não têm voz ou não são escutados” (Hans Kung)?
Na resposta que o nosso coração procura, vamos pressentindo que o ser humano, como escreveu o irmão Roger, não foi criado para a desesperança, mas sim para a confiança. E se tudo começar na confiança, descortinaremos, pouco a pouco, caminhos para o momento crítico que vivemos, e assim identificado pelo Valentim, na sua carta de 9 de Agosto: “O escândalo do nosso mundo não está na falta de meios para viver, mas na ausência de motivação para partilhar, sabendo que o pouco quando repartido sacia mais do que o muito retido”. Mas é nos períodos duros da história da Humanidade que, muitas vezes, basta “um punhado de mulheres e homens, dispersos sobre a Terra” para “inverter o curso de certas evoluções históricas” (irmão Roger). Saibamos nós acolher o milagre do Reino de Deus – propõe o Valentim, na carta acima citada, ao recordar-nos o relato da “multiplicação dos pães”, no evangelho de Mateus (2), e no qual Jesus solicita aos discípulos que repartam os seus “cinco pães e dois peixes” por mais de cinco mil pessoas…
De que mundo que somos? Por entre as nossas noites, buscamos viver na confiança de que o nosso sonho é também sonhado por muitos, como acredita Hans Kung.
Com estima fraterna,
grão de mostarda
(1) Usamos a versão espanhola Lo que yo creo (Editorial Trotta, Madrid, 2011)
(2) ver Mateus 14, 13-21
Foto: © Taizé

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

PENSAMENTOS EM BUSCA

 
Dois discípulos aproximaram-se de Jesus e pediram-lhe lugares de destaque… Jesus, porém, respondeu-lhes: “Os grandes do mundo submetem os povos e os poderosos impõem a sua autoridade. Entre vós, porém, não deve ser assim: o que quiser ser grande, que seja servidor, e quem desejar ser o primeiro que se faça escravo de todos” (ver Marcos 10, 35-45).

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

SINAIS DE ESPERANÇA

Na sala de exposição da Comunidade de Taizé

Artesanato africano

A comunidade ecuménica de Taizé vive exclusivamente do trabalho dos irmãos. A sua sobrevivência não resulta nem dos encontros internacionais nem da presença de milhares de pessoas que, cada ano, acorrem àquela vila francesa, onde o irmão Roger iniciou uma vida de reconciliação, acolhendo judeus e outros perseguidos, durante a IKI Guerra Mundial.

Inicialmente o artesanato vendido em Taizé era o resultado das oficinas da comunidade que ali reside. Atualmente, a presença de fraternidades em diversos países, como em África, e a entrada de irmãos de outros continentes para a comunidade, leva a que uma diversificação dos trabalhos. A presente exposição é também, em si mesma, símbolo da fraternidade universal que o irmão Roger sempre alimentou no seu coração.

A mais recente de uma série de exposições temporárias em Taizé é a apresentação de artesanato desenvolvido pelos irmãos de Taizé que vivem em «Mji wa Furaha», a «Casa da Alegria», nos arredores de Nairobi.

Depois do último encontro internacional de jovens em África, em Novembro de 2008, nasceu no Quénia uma fraternidade de Taizé.

Os irmãos acolhem, num oásis de verdura, jovens que podem fazer uma descoberta do silêncio, da escuta, da oração meditativa e da partilha. Estes jovens vão lá para reflectir num sentido a dar às suas vidas e nos seus compromissos. Vêm dos bairros de lata vizinhos ou dos quatro cantos do país; por vezes até há que chegam de países vizinhos ou mesmo do Congo RDC ou do Sudão do Sul, trazendo uma abertura e uma visão mais alargada e também a experiência das provações que atravessam e a sua esperança.

Para ganharem a vida, os irmãos desenvolveram um artesanato criativo: placas de cerâmica em estilo de azulejo, esmaltes sobre cobre, colagem de cascas recuperadas das árvores que têm à sua volta. Este trabalho está actualmente exposto em Taizé.

As precedentes exposições temporárias em Taizé foram: Caligrafia chinesa desenvolvida pelo irmão Ho (irmão Lucas); Esmaltes sobre cobre do irmão Pierre-Etienne; Pinturas e colagens dos irmãos Sylvain e Ghislain; Pinturas e vitrais do irmão Marc; Águas-fortes do irmão Éric.

Na página de internet de Taizé existe um “espaço” para encomendar artesanato:
Ver:
http://www.taize.fr/pt_article1240.html

PENSAMENTOS EM BUSCA


Os fariseus interrogaram Jesus sobre a razão por que os seus discípulos não lavavam as mãos antes de comer, desrespeitando assim a tradição. Jesus, porém, disse: “Não é o que entra dentro do homem que pode contaminá-lo, mas o que sai dentro de si próprio. De dentro do coração é que sai a maldade que contamina o homem” (1).
(1) ver Marcos7, 1-23

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PENSAMENTOS EM BUSCA




Muitos censuravam Jesus por se fazer acompanhar com pecadores e pessoas de má fama social. Mas ele retorquiu-lhes: “Se algum de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove e corre para buscar a ovelha extraviada?” (1).

(1) ver Lucas 15, 1-7

terça-feira, 23 de agosto de 2011

PENSAMENTOS EM BUSCA

Pedro perguntou a Jesus: “Se alguém me ofende, quantas vezes devo perdoar-lhe?”. E Jesus disse-lhe: “Pedro, a quem te ofender deverás perdoar sempre…” (1).

(1) ver Mateus 18, 31-33

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

PENSAMENTO EM BUSCA


Os juristas e os defensores da ortodoxia religiosa vigiavam Jesus para ver se ele curava ao sábado… Mas Jesus disse-lhes: “Pergunto: o que é permitido ao sábado: salvar uma vida ou destruí-la?”. Depois disse ao homem doente “Estende a mão”. E ele ficou curado… (1).
(1) ver Lucas 6, 1-11

sábado, 20 de agosto de 2011

ESCUTAR A VIDA

Caríssimas e caríssimos,

Viver com o coração reconciliado, mesmo quando o mal se atravessa nas relações humanas, não é fácil para ninguém. Nesta semana, Adérito Marcos coloca-nos a questão da urgência do perdão… “Chegarmos ao limite de desejarmos algum mal a esse outro, estaremos a pisar um terreno pantanoso com consequências imprevisíveis”.

Um dia, o irmão Roger escreveu: “Considera o próximo na totalidade da sua existência e não apenas numa etapa da sua vida”. Somente nesta atitude seremos capazes de “ver apenas um irmão” em quem nos ofendeu ou maltratou, como sublinha Adérito Marcos, que conclui: “Só Amor importa (…) mesmo quando tudo parece perdido e votado ao mal”.

Com estima fraterna,

grão de mostarda


Do desafio de compreender e aceitar o outro como nosso igual 



 

Seremos capazes de olhar para esse outro, especialmente aquele que nos ofendeu e maltratou, que consideramos nosso inimigo, e ver apenas um irmão perdido, longe dos caminhos do amor, da amizade?

 



Todos temos sempre alguém, um vizinho, um familiar, um colega do trabalho, ou até um antigo companheiro de infância, com quem honestamente não simpatizamos. E são muitas as razões que nos levaram a esse estado de incompatibilidade. Uma zanga antiga dos tempos da escola. Uma discussão mais acesa num dia em que estávamos (ou essa pessoa estava) menos bem-disposta. Uma qualquer expectativa que tínhamos a respeito dessa pessoa e que se gorou. São inúmeras e incontáveis as razões, infelizmente, que nos podem afastar do outro. Em casos mais graves, até pode dar-se o caso dessa animosidade ser presente e contínua, algum colega ou superior hierárquico quiçá, que nos demonstra amiúde recíproca aversão pessoal ou mesmo usando de algum poder sobre nós, nos ofende ou calúnia (como isto é comum nos ambientes de trabalho …), colocando-nos, por vezes, em situações que usualmente classificamos de “total incompatibilidade” pessoal.
E quantas vezes, por circunstâncias diversas, não nos vemos a lidar com essa pessoa, objecto da nossa “aversão”, num contexto social diferente onde a comunicação flui mais livremente e descobrimos que afinal, esse alguém, é tão frágil, tão humano e necessitado de atenção, de carinho e amor como nós, afinal, veja-se (!), descobrimos com espanto nessa pessoa um igual! E daqui pode nascer a reconciliação baseada no conhecimento, na compreensão e na descoberta do outro, com qualidades e defeitos. Estes são os casos com fim feliz.
Os outros casos são, por norma, mais complicados. Guarde-nos Deus de chegarmos ao limite de desejarmos algum mal a esse outro, pois se tal acontecer, estaremos a pisar um terreno pantanoso com consequências imprevisíveis para a felicidade e a paz que ansiamos como filhos do Deus-paizinho, pois esse outro é um nosso igual, mesmo com todos os seus defeitos, as suas más acções, a sua “falta de carácter” …
E o desafio começa aqui: sermos capazes de compreender o outro, mesmo que reprovando e repreendendo as suas acções, aceitando-o como nosso irmão, nosso igual na imperfeição e na busca do amor… ainda que por caminhos ínvios. 
Seremos capazes de olhar para esse outro, especialmente aquele que nos ofendeu e maltratou, que consideramos nosso “inimigo”, e ver apenas um irmão perdido, longe dos caminhos do amor, da amizade?
Se chegarmos até aqui estaremos a trilhar o caminho revolucionário que Jesus nos indicou quando disse “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos aborrecem” (1).  
E descobrimos uma verdade eterna de Deus: só o Amor importa na construção da Paz, connosco próprios e com o outro, mesmo quando tudo parece perdido e votado ao mal. 
(1) Lucas 6,27

Adérito Marcos
42 anos,  irmão leigo membro da Paróquia S. Tomé, da Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica – Comunhão Anglicana, Castanheira do Ribatejo; membro do grão de mostarda/comunidade fraterna de reconciliação; licenciado e Doutorado em Engenharia Informática, agregado em Tecnologias e Sistemas de Informação, professor associado da Universidade Aberta.
Contacto: aderito.marcos@gmail.com

•Ilustração: Ícone Bizantino, Sermão da Montanha

ESCUTAR O AMOR


Partilhar os próprios bens conduz à simplificação da própria existência (…) Faz falta tão pouco para acolher! (1)

(1) irmão Roger, Las fuentes de Taizé – Dios nos quiere felices, (PPC, Madrid, 2003)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

PENSAMENTO EM BUSCA


Em cada manhã, em cada dia, por toda a nossa vida nos perguntaremos pela CONFIANÇA que sustenta o SENTIDO DA VIDA…
“Pode o poder do amor mudar verdadeiramente a vida?” (1).
No final do seu livro, Hans Kung cita parte da primeira carta de Paulo aos coríntios (13, 8-13): “O amor jamais terminará. As profecias serão eliminadas, o dom das línguas acabará, o conhecimento será eliminado. Porque a nossa ciência é imperfeita e as nossas profecias limitadas. Quando chegar o perfeito, o parcial será eliminado. Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino, raciocinava como menino; ao tornar-me adulto, abandonei as coisas de menino. Agora vemos como num mau espelho, confusamente, depois veremos cara a cara. Agora conheço imperfeitamente, depois conhecerei tão bem como Deus me conhece. Agora restam-nos três coisas: a fé, a esperança, o amor. Mas a maior de todas é o amor”

(1) Hans Kung, Lo que yo creo (Editorial Trotta, 2011)