terça-feira, 31 de janeiro de 2012

PENSAMENTO EM BUSCA

Encontrar no coração um espaço para a escuta... As solicitações e as dificuldades podem tornar ruidoso o nosso interior. Perseverar na escolha de ouvir a “voz luminosa” que nos habita, levar-nos-á, pouco a pouco, a prestar atenção ao percurso dos nossos passos.



grão de mostarda

domingo, 29 de janeiro de 2012

ESCUTAR A VIDA

Caríssimas e caríssimos,

O que é a “normalidade” social, como nos habituamos a ela? Quando tudo parece congregar-se para que a indiferença se sobreponha às dores humanas, que caminhos seguem os nossos corações? A morte de idosos, abandonados em suas casas, e a ignorância de um dos maiores crimes recentes contra a Humanidade – o campo nazi de Auschwitz – evocam-nos a atitude de Jesus perante as atrocidades de Herodes cometidas contras os mais indefesos... (ver ANEXO).

Na semana em que no cabe escrever a reflexão ESCUTAR A VIDA, procuramos encontrar caminhos que contrariem a “normalidade” da indiferença, porque o quotidiano nos vai dizendo que não são necessários grandes empreendimentos, para possibilitar “tempos de humanização”.
Fraternalmente,

grão de mostarda

 
A indiferença da “normalidade”

“Não aceitem o habitual como coisa natural,
pois em tempos de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar”

Bertold Brecht



Até ontem, e somente durante este mês de Janeiro, foram mais de 10 os idosos que morreram sós em suas casas. E isto somente em Lisboa... O que as notícias reforçam é o facto de essas pessoas viverem desacompanhadas, solitárias, sem que se lhes conheça alguém que periodicamente as visite. São pessoas deixadas à sua sorte, à sua fragilidade física e interior, à sua solidão. E escutarmos estas notícias tornou-se recorrente, como as mortes em África devido à fome.

Também esta semana, a revista Stern dava conta que, dos jovens alemães entre os 18 e os 29 anos, 21% não sabe que Auschwitz foi um campo de extermínio nazi. Fernando Alves acordou-nos para este facto na quinta-feira passada, na sua rubrica SINAIS, na TSF. E, de acordo com aquela revista alemã, 31% dos jovens não consegue mesmo indicar a localização de Auschwitz no mapa... A sondagem surgiu no dia internacional em memória das vítimas do genocídio de judeus na Europa pelos nazis, que assinala a libertação daquele campo pelo Exército Vermelho, da antiga URSS.

O esquecimento. O esquecimento de que cada uma e cada um de nós é parte da humanidade... O esquecimento de que vivemos dependentes uns dos outros – sobrevivemos como seres, porque alguém antes já construíra o mundo da nossa subsistência, que encontrámos quando nascemos; sobrevivemos enquanto colectivo, porque alguém preservou os saberes, os conhecimentos, as memórias que nos tornam uma família universal e permitem avançar na construção da nossa humanização.

Podemos afirmar para nós próprios: são poucos. Não são assim tantos os idosos que morreram. Afinal, até estamos no Inverno, um tempo mais rigoroso para quem já tem alguma idade. Também não são muitos os jovens alemães que desconhecem o que, “ontem”, aconteceu a muitos dos seus avós. Afinal, 21% por cento dos “miúdos” com idade compreendidas entre os 18 e os 29 anos não podem ser olhados como uma catástrofe de inconsciência cívica.

Quando o evangelho de Marcos (1, 14-20) nos dá conta de que Herodes Antipas encarcerou João (o judeu que no rio Jordão anunciava o perdão dos pecados por meio do baptismo) por incomodar a sua política de repressão e a sua vida de luxo e usurpação, refere que, naquela ocasião, Jesus – que havia seguido João – não se escondeu, com receio de também vir a ser detido (1).

Jesus não se escondeu. “Não se ocultou no deserto. Tão pouco se refugiou entre os Seus familiares de Nazaré”, anota José Antonio Pagola, sublinhando que, não se conformando com o pensamento dominante, Jesus, em resposta ao apelo interior à bondade de coração, anunciou “Deus como algo novo e bom”, abandonando assim a atitude de João, que proclamava um Deus castigador, um futuro negro – “O machado já se encontra à raiz das árvores...” (Lucas 3,9). “Com uma audácia desconhecida, Jesus surpreende a todos anunciando algo que nenhum profeta se tinha atrevido a declarar: ‘Já está aqui Deus, com a Sua força criadora de justiça, tratando de reinar entre nós’. Jesus experimenta Deus como uma Presença boa e amistosa que procura abrir caminho entre nós para humanizar a nossa vida”, salienta José Antonio Pagola.

Fatalismo e acomodamento não coincidiam com o modo de Jesus entender a vida, com a sua fé no Deus da Vida. “Por isso, toda a vida de Jesus é um apelo à esperança. Há alternativa. Não é verdade que a história tenha que discorrer pelos caminhos de injustiça que lhe traçam os poderosos da terra. É possível um mundo mais justo e fraterno. Podemos modificar a trajectória da história”, como escreve Pagola.

Aquelas duas notícias, do esquecimento do campo nazi de Auschwitz e da morte por abandono dos idosos, não podem constituir um “muro” que nos leve a integrar no nosso interior um clima de indiferença, de acomodamento a uma “normalidade”. Apesar do alheamento, é possível abrir caminhos de confiança, de confiança nas possibilidades humanas que levamos no mais íntimo dos nossos corações.

Não são necessários grandes empreendimentos, para possibilitar “espaços humanos”, “tempos de humanização”, para que se torne possível introduzir no mundo um ambiente de confiança. E se “a confiança não é uma ingenuidade cega”, como recorda o irmão Alois, prior de Taizé, também é verdade que, se acreditarmos que o desencanto não pode tomar conta do mundo, então sentiremos que “todos os dias somos chamados a refazer o caminho que vai da inquietude à confiança” (2). Então, a nossa busca conduzir-nos-á a caminhos de transformação interior e de atitude ética, capazes de não consentir mais como “normalidade” notícias como aquelas.

grão de mostarda

(1) O teólogo espanhol José Antonio Pagola ao comentar aquele relato de Marcos (ver “Outro mundo es posible” em: http://eclesalia.wordpress.com/2012/01/18/otro-mundo-es-posible)  diz que Jesus iniciou, então, uma peregrinação por toda a Galileia anunciando “uma mensagem original e surpreendente” que pretendia levar os seus conterrâneos a tomar consciência de uma situação de “normalidade” – o ambiente de corrupção e de submissão através de um sofisticado sistema de impostos e de subjugação política e militar, apoiada por Roma, a que eram submetidos por Herodes os seus conterrâneos, aliado a uma degradação religiosa, por parte das elites do templo de Jerusalém, que viviam protegidas pelo poder político.

(2) CARTA DE TAIZÉ – Rumo a uma nova solidariedade (2012).

Foto: Crianças em Auschwitz - Fonte: news.bbc.co.uk © Getty Images

 


sábado, 28 de janeiro de 2012

DE QUE MUNDO SOMOS?

Caríssimas e caríssimos,

Perante o tempo presente – de subjugações, impérios de mentira e de desrespeito pela dignidade humana –, o pe. Valentim Gonçalves defende que “o importante dos nossos questionamentos deveria ser: o que pode ajudar a ultrapassar situações de carência em áreas fundamentais em que se encontram envolvidas tantas pessoas, muitas das quais já perderam qualquer margem de manobra para gerir as suas vidas, o que se traduz na perda de um dos valores mais fundamentais, que é a liberdade”?.

Na sua resposta à carta de Luísa Alvim (ver ANEXO), Valentim Gonçalves, interroga o porquê da falta de discernimento para uma busca de caminho comum, distante dos interesses mesquinhos do eleitoralismo e dos privilégios corporativos. Uma decisão assumida, contrária à de actual indiferença, só acontece(rá) “quando as pessoas vivem a cidadania como atitude comprometida com o viver em comum e não como peões jogados apenas em momentos de eleições”. Que falta, então, realizar? “Colocar a pessoa no coração do sistema por contraposição aos interesses económicos, utilitários e particulares”, adverte o pe. Valentim Gonçalves.
Com estima fraterna,

grão de mostarda

Luísa Alvim, cristã empenhada na paróquia católica de S. Victor, em Braga – os seus “diários” da catequese no Facebook constituem verdadeiras parábolas sobre o Amor Infinito --, é também membro do Metanoia – movimento de profissionais católicos. Técnica superior (área de Biblioteca e Documentação), na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão – actualmente a trabalhar na Casa de Camilo - Museu e Centro e Estudos –, diz-se uma “sonhadora do impossível”.

Valentim Gonçalves é pároco da comunidade católica de S. Pedro do Prior Velho, desde a sua constituição como paróquia, em Outubro de 1999. Porém, a população do Prior Velho (concelho de Loures) já conhece este missionário do Verbo Divino desde há duas décadas, quando começou a empenhar-se no serviço aos moradores da Quinta da Serra – bairro ilegal, constituído maioritariamente por imigrantes africanos.

Vice-provincial da sua congregação e membro da Comissão de Justiça e Paz dos Institutos Religiosos, ainda desenvolve trabalho na antiga Quinta do Mocho (actual Terraços da Ponte, em Sacavém), igualmente habitado por uma imensa população de imigrantes africanos.

Carta de Valentim Gonçalves para Luísa Alvim

Estimada Luísa,

A tua carta lança-nos para dentro de uma situação incómoda, porque dolorosa para tanta gente e sobretudo para os mais fragilizados; dolorosa ainda porque não se vê uma via clara para ser ultrapassada. Essa complexidade está bem patente nas atitudes e no discurso das pessoas, muito especialmente dos políticos e das organizações de cariz corporativo. Torna-se difícil vislumbrar a fronteira entre o viável e o meramente ideológico; entre o solidário e o demagógico; entre a defesa do justo e o interesse egoísta travestido de direitos adquiridos. Irrita-me, como ao comum dos mortais, o cinismo de alguns discursos cujo registo muda consoante a posição dos seus autores no tabuleiro do poder: aquilo que ontem defendiam hoje constitui arma de arremesso contra os que estão no outro lado do jogo político; ficamos com a convicção de que aquilo não passa de uma luta acalorada, não por causa do que interessa verdadeiramente à comunidade, mas sim à conquista ou manutenção de qualquer privilégio.


Assim julgo que o importante dos nossos questionamentos deveria ser: o que pode ajudar a ultrapassar situações de carência em áreas fundamentais em que se encontram envolvidas tantas pessoas, muitas das quais já perderam qualquer margem de manobra para gerir as suas vidas, o que se traduz na perda de um dos valores mais fundamentais, que é a liberdade. Não me preocupam os constrangimentos às férias no estrangeiro, ou mesmo entre nós, nem as dificuldades em substituir o carro dentro daquele período a que o mercado nos foi habituando, nem tantos outros esforços legítimos para uma vida mais cómoda ou simplesmente para criar ou manter uma imagem diante dos outros. Preocupa-me sim quando, por exemplo, a pessoa não pode alimentar-se convenientemente, ou vai deixando de ter acesso aos cuidados de saúde, quando se vê descer o nível do ensino e tudo isso num efeito bola de neve que vai degradando a qualidade de vida das pessoas e de toda a sociedade.

É verdade que a crispação social tem sido contida. Mas estou certo de que seria muito mais fácil encarar os problemas e despertar sinergias para um reconstruir de projectos pessoais ou colectivos se a crispação ideológica fosse mais verdadeira, menos cínica e honestamente crítica, demonstrando capacidade de fazer o discernimento entre o que ajuda e o que complica. Mas isto só acontece quando as pessoas vivem a cidadania como atitude comprometida com o viver em comum e não como peões jogados apenas em momentos de eleições; porque esta vivência ainda é muito rudimentar, não se acredita nos políticos, nem eles estarão tão interessados nisso, uma vez que, a tal acontecer, há erros que não seria possível repetir sem a correspondente penalização, promessas que não poderiam ficar em palavras sem sentido, programas que seriam avaliados, e representantes do povo que o comprovavam com a sua proximidade, com a proclamada igualdade que afastaria os privilégios e criaria uma sociedade com mais justiça e cada vez mais transformadora de uma sociedade de senhores e de servos numa outra de cidadãos com a mesma dignidade e com idênticas oportunidades.

Isto nos conduz para o cerne do documento da Comissão Nacional Justiça e Paz CNJP (1) e que consiste numa mudança de paradigma no que concerne à organização da sociedade e ao exercício do poder: colocar a pessoa no coração do sistema por contraposição aos interesses económicos, utilitários e particulares. Por isso a tua pergunta: “que esforço têm feito os católicos para transformar o sistema económico, tanto em teoria como em experiências no terreno?”

Neste campo penso que tem havido muita religião e pouca fé; muita religião ligada ao dever e pouco ligada ao melhor legado que Jesus nos deixou e que foi a sua proximidade e a sua preocupação pela vida/felicidade dos outros, nomeadamente dos lançados para a margem. No momento presente, o afastar-se das pessoas e dos seus problemas e angústias, faz repetir a cena do sacerdote e do levita que, na estrada de Jericó, viraram a cara ao homem maltratado e abandonado pelos bandidos, e preferiram seguir o seu caminho preocupados antes de mais com os deveres ligados ao culto a que estavam vinculados.

(1) Documento referido na carta de Luísa Alvim, publicada no passado dia 6, e disponível em:
 http://www.portal.ecclesia.pt/instituicao/ktml2/files/61/Vencer%20a%20crise.pdf

Fraternalmente

Valentim Gonçalves
 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PENSAMENTO EM BUSCA

Reconciliação... Aceitarmos a nossa totalidade – no que somos e na nossa realidade, o nosso hoje. Não permitir que os labirintos da vida confundam o mais fundo do nosso ser, que nos enganem no caminho do agora. Aceitar a nossa totalidade leva-nos a transformar o momento presente num TEMPO DE CONFIANÇA.


grão de mostarda

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

AO ENTARDECER

Os doutores da Lei que tinham vindo de Jerusalém para ver a acção de Jesus diziam: “Tem dentro si o chefe dos demónios, Belzebu, e é por ele que os expulsa”. Jesus, porém, convidou-os a aproximarem-se e disse-lhes: “Como pode o demónio expulsar o demónio? Um reino que esteja dividido entre si não subsistirá. Ninguém pode entrar na casa de um homem forte e levar os bens, se não o amarra antes…” (ver Marcos 3, 22-30).
 
“”(…) definitivamente, o que os letrados colocam em questão é se Jesus trazia salvação ou, pelo contrário, tinha um demónio dentro (…). É o mais grave que se podia dizer dele. O que mais o desprestigiava. E o que mais o podia humilhar.
Além do mais, nas leis do judaísmo estabelecia-se que quem realizasse actividades satânicas ou demoníacas merecia a pena de morte (…). Sem dúvida, uma das coisas que mais impressionam nos evangelhos é a resistência psicológica e espiritual de Jesus para suportar as piores acusações e as mais injustificadas denuncias.
(…) De um modo provocatório (próprio das parábolas), Jesus compara aqui as suas próprias acções com as de um personagem de tipo transgressor, neste caso, um ladrão que se mete na casa de um homem a quem amarra e lhe rouba os bens (…) A força de Jesus estava na sua profunda humanidade sem contradições, em plena transparência…”
 

AO ENTARDECER… espaço de busca no final do dia, a partir de pequenos comentários do teólogo espanhol José María Castillo – http://blogs.periodistadigital.com/teologia-sin-censura.php –, sobre as propostas de Jesus. Extractos retirados do seu livro “La religión de Jesús – Comentarios al evangelio diario”, editado pela Desclée De Brouwer (Bilbao), 2011.
 

ESCUTAR A VIDA

Caríssimas e caríssimos,

Na reflexão desta semana, Olga Dias coloca uma questão: aceitaremos ser “cúmplices” da situação de “escravatura e da tortura” dos chineses para que possamos comprar tudo… a 1 euro? (ver ANEXO).

Sabemos que não é somente na China que um sistema injusto se impõe sobre quem trabalha. No nosso país, muitas situações de exploração laboral mereceriam também referência. Todavia, na China o ambiente laboral severamente degradante.

Reconhecendo que “as sociedades orientais têm uma história milenar de sabedoria espiritual”, Olga Dias interroga-se: porque nos afastamos tanto da nossa essência, nos afastamos tanto do amor, do melhor que há em cada um de nós para cairmos numa espiral de avareza e de desamor pelo outro?

A propósito desta reflexão, fazemos eco de uma verdadeira ocupação de terras, cujo objectivo é o máximo de lucro e o desrespeito da Natureza, que está a assolar diversos países, quer por parte da China e de outros países do Médio Oriente.

Em Novembro passado, Cristian Ferreyra foi assassinado por desconhecidos, à porta de sua casa. Tinha 25 anos e vivia em San Antonio, uma povoação a norte de Santiago del Estero, na Argentina. Este camponês negara-se a abandonar a sua terra por imposição do Governo, que pretende entregar os terrenos da região para uma massiva plantação de soja… Precisamente na Argentina é onde se está, actualmente, a fazer uma das maiores usurpações de terras por parte de grandes empresas chinesas, e não só, que pretendem impor a monocultura e um uso indiscriminado processos químicos, cujos efeitos nefastos de alteração das propriedades dos terrenos e climatéricas são ainda incalculáveis.

Enquanto os pequenos proprietários agrícolas e os trabalhadores rurais se vêm espoliados das suas propriedades e da sua sobrevivência, este sistema de produção que se está a desenvolver vertiginosamente em diversos países da América Latina e da África, coloca em causa um conjunto de terras férteis…

A denúncia da morte de Cristian Ferreyra foi feita em Dezembro passado pelo coordenador da GRAIN, Henk Hobbelink, quando recebeu o premio Right livelihood 2011, entregue pelo Parlamento sueco, pelo trabalho realizado a nível internacional, tanto ao nível da denúncia destas situações como de defesa das comunidades camponesas locais.

A Beidahuang Group é a maior empresa agro-alimentar da China e foi ela que recentemente efectuou mais um acordo na Argentina, colocando em risco uma superfície de 300 mil ha. pertencentes ao povo Mapuche…

Consultar: http://www.grain.org/es e http://www.cristianismeijusticia.net/bloc/?lang=es

Com estima fraterna,
grão de mostarda


Li, faz muito pouco tempo, uma reflexão de um cidadão brasileiro sobre o impacto da produção da China no Ocidente e em como iremos ser bastante afectados num futuro muito próximo como consumidores. Ele põe em palavras aquilo que muitos de nós falamos e sentimos no nosso quotidiano.

Diz ele que hoje compramos tudo “Made in China”. É tudo facilitismos, é tudo baratinho, compramos cegamente até o que não nos faz falta, mas como ele alerta tudo não passa de uma estratégia de poder para conquistar os mercados do Ocidente. Quando já não houver mais produção nos países, quando só houver lojas chinesas para comprarmos o que necessitamos, quando os empresários que, hoje, na ganância do lucro fácil e rápido (pois agora compram por cêntimos e vendem por muitos euros e dólares), tiverem que só comprar aos chineses, aí vamos ser confrontados com um aumento drástico dos preços, produzindo um “choque de manufactura”.

Na realidade, os empresários chineses pagam uma miséria aos seus funcionários, não há leis de trabalho, não há direitos. A maior parte deles apenas quer um emprego para sobreviver. Trabalham em regime de trabalho escravo. Levam os filhos bebés para as fábricas e prendem-nos todo o dia a correntes porque trabalham demasiadas horas e não têm onde deixá-los. Quando têm o azar de ter acidentes de trabalho, que os inutilizam, são postos imediatamente na rua, sem direito a nada. Que sociedade é esta em que vivemos? Onde vamos parar com esta cegueira, com esta esquizofrenia do dinheiro?

Estou em crer que é necessário uma tomada rápida de consciência, de modo a repensarmos o nosso estilo de vida, que provoca tanta ganância e tanto sofrimento nos outros, porque cada vez que eu estou a comprar uma jarra de vidro a 1 euro, estou a dar força a um empresário para sujeitar um operário na China a trabalhar 15 horas seguidas sem ver o seu filho ou a vê-lo preso sem lhe poder valer. Não quero ser cúmplice da escravatura e da tortura de pessoas de carne e osso como eu!

As sociedades orientais têm uma história milenar de sabedoria espiritual e de conhecimento profundo sobre as leis da Natureza e da natureza humana. A filosofia oriental é muito rica e profícua em ensinamentos absolutamente admiráveis. Questiono-me muitas vezes porque nos afastamos tanto da nossa essência, nos afastamos tanto do amor, do melhor que há em cada um de nós para cairmos numa espiral de avareza e de desamor pelo outro e, pior, o desamor por nós próprios. Porque decidimos viver vidas sem sentido quando a vida tem tanto sentido, quando vivida com amor?!.

Olga Dias

Olga Dias integra o Projeto CONFIANÇA um movimento que acredita que a “fonte de vida” é a solidariedade humana.

PENSAMENTO EM BUSCA

Reconciliação… Como reconciliar-me, comigo e com todos aqueles que fazem parte da minha vida, com a humanidade? Nos tempos que anunciam o “salve-se quem puder”, que sentido ganha a reconciliação humana no nosso coração?


grão de mostarda

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

PENSAMENTO EM BUSCA

Se tudo na vida se resumisse à simplicidade de coração! A amabilidade transformar-se-ia no único apelo, no único desejo… E a solidariedade e a partilha transfigurariam as nossas vidas.



grão de mostarda

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

AO ENTARDECER

Uma imensa multidão seguia Jesus, vinda de diversas partes… Porque ao ouvirem o que fazia, acorriam a ele. Então disse aos discípulos para aprontarem uma barca, para que as pessoas não o apertassem. Como curava a muitos, todos os que sofriam lançavam-se sobre ele para o tocar… (ver Marcos 3, 7-12)
 
“ (…) Jesus foi um homem profundamente religioso. Mas a sua religião não tinha nada a ver com a religião do Templo, nem com a dos sacerdotes. À religião do Templo e dos sacerdotes interessava três coisas: as cerimónias sagradas, a submissão dos fiéis, o dinheiro das pessoas. A Jesus interessava outras três coisas: que as pessoas tivessem saúde, que tivessem o que comer, e que tivessem boas relações humanas.
Quando a religião se entende assim, desaparecem as fronteiras, as diferenças culturais, as distâncias religiosas. (…) A religião que responde a estas coisas, acaba com a religião dos ritos, das normas e do dinheiro. E abre caminho para religião que revela, e que não oculta, o verdadeiro rosto de Jesus no qual vemos Deus (…).”


 
AO ENTARDECER… espaço de busca no final do dia, a partir de pequenos comentários do teólogo espanhol José María Castillo – http://blogs.periodistadigital.com/teologia-sin-censura.php –, sobre as propostas de Jesus. Extractos retirados do seu livro “La religión de Jesús – Comentarios al evangelio diario”, editado pela Desclée De Brouwer (Bilbao), 2011.
 

PENSAMENTO EM BUSCA

Submergem-nos incoerências e debilidades que gostaríamos não terem saído de nós próprios? Escutar o coração, nunca desistir de escutar o “espaço amoroso” que habita em nós. Aí intuiremos que nascemos para luz; aí se forja a nossa humanidade…



Foto: ©Taizé
grão de mostarda

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

AO ENTARDECER

Jesus entrou na sinagoga. Encontrava-se ali um homem que tinha um braço paralisado. Todos estavam atentos para ver se Jesus curava em dia de sábado. Mandando o homem levantar-se, Jesus perguntou: “Que está permitido fazer ao sábado: o bem ou o mal? Salvar a vida a um homem ou deixá-lo morrer?”. Todos ficaram calados. E olhando-os com ira e dor pela sua obstinação, disse ao doente: “Estende o braço”. E logo o braço ficou curado… (ver Marcos 3, 1-6)

“ (…) Os homens religiosos mais observantes, os fariseus, ‘estavam de vigia’ para ver se (Jesus) curava algum enfermo. E se curasse alguém, denunciá-lo (…).
Jesus faz uma pergunta tão forte como provocatória: Que quer a religião? O bem ou o mal? Dar vida ou matar? (…) Quando a religião antepõe as verdades e as normas religiosas à vida plena e à felicidade das pessoas, essa religião (como aqueles fariseus) não tem nada a dizer (…).
Como o que estava em jogo era a vida, Jesus jogou ali a sua própria vida…”



AO ENTARDECER… espaço de busca no final do dia, a partir de pequenos comentários do teólogo espanhol José María Castillo – http://blogs.periodistadigital.com/teologia-sin-censura.php –, sobre as propostas de Jesus. Extractos retirados do seu livro “La religión de Jesús – Comentarios al evangelio diario”, editado pela Desclée De Brouwer (Bilbao), 2011.

PENSAMENTO EM BUSCA

Que lugar ocupa o desânimo no coração? Perante desilusões e injustiças só o Amor liberta, tornando-se luz. Não para ofuscar com o seu brilho… O AMOR DA SABEDORIA ilumina os caminhos da escuridão.



grão de mostarda

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

AO ENTARDECER

Num sábado, os discípulos de Jesus arrancavam espigas de uma seara para comerem. E os fariseus disseram-lhe: “Por que razão fazem eles o que não é permitido ao sábado?”. E Jesus respondeu: “O sábado foi feito para o Homem e não o Homem para o sábado…”. (ver Marcos 2, 23-28)
 
“ (…) Os discípulos de Jesus quebraram as normas dos mestres da Lei (…). E Jesus, não só o permite como os defende perante as acusações dos observantes fariseus (…).
Uma religião que funciona de modo a não servir para dar vida aos humanos, defender os seus direitos e liberdades, e fazê-los mais felizes, é uma religião que não cumpre a sua razão de ser”.


 
AO ENTARDECER… espaço de busca no final do dia, a partir de pequenos comentários do teólogo espanhol José María Castillo – http://blogs.periodistadigital.com/teologia-sin-censura.php –, sobre as propostas de Jesus. Extractos retirados do seu livro “La religión de Jesús”, editado pela Desclée De Brouwer (Bilbao).
 

PENSAMENTO EM BUSCA

Nunca permitir que o mal inscreva decisões no nosso coração… A bondade é uma atitude forjada com ternura, mas também com perseverança, e cujo maior compromisso é a dignidade humana.



Ilustração: ©Aracy
grão de mostarda

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

AO ENTARDECER

“ (…) O jejum baseia-se na ideia de que a Deus lhe agrada que os seus fiéis se privem de comer. Se a comida é fonte de vida, quem jejua acredita num Deus de morte.
Por isso Jesus não ensinou os seus seguidores a jejuarem. Porque o Deus de Jesus é um Deus de vida e de felicidade (…). Mas Jesus vai mais longe. Com as duas imagens, a do remendo e a do vinho nos odres, Jesus afirma que não se pode caminhar na vida fazendo compromissos, tentando uma síntese entre o antigo e o novo. Lo antigo é a religião de sempre, que impõe jejuns e privações. O novo é o Evangelho que se vive sendo feliz contagiando felicidade aos outros”.





AO ENTARDECER… espaço de busca no final do dia, a partir de pequenos comentários do teólogo espanhol José María Castillo – http://blogs.periodistadigital.com/teologia-sin-censura.php –, sobre as propostas de Jesus. Extractos retirados do seu livro “La religión de Jesús”, editado pela Desclée De Brouwer (Bilbao).