segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

ESCUTAR A VIDA

Caríssimas e caríssimos,

Na reflexão desta semana, Olga Dias coloca uma questão: aceitaremos ser “cúmplices” da situação de “escravatura e da tortura” dos chineses para que possamos comprar tudo… a 1 euro? (ver ANEXO).

Sabemos que não é somente na China que um sistema injusto se impõe sobre quem trabalha. No nosso país, muitas situações de exploração laboral mereceriam também referência. Todavia, na China o ambiente laboral severamente degradante.

Reconhecendo que “as sociedades orientais têm uma história milenar de sabedoria espiritual”, Olga Dias interroga-se: porque nos afastamos tanto da nossa essência, nos afastamos tanto do amor, do melhor que há em cada um de nós para cairmos numa espiral de avareza e de desamor pelo outro?

A propósito desta reflexão, fazemos eco de uma verdadeira ocupação de terras, cujo objectivo é o máximo de lucro e o desrespeito da Natureza, que está a assolar diversos países, quer por parte da China e de outros países do Médio Oriente.

Em Novembro passado, Cristian Ferreyra foi assassinado por desconhecidos, à porta de sua casa. Tinha 25 anos e vivia em San Antonio, uma povoação a norte de Santiago del Estero, na Argentina. Este camponês negara-se a abandonar a sua terra por imposição do Governo, que pretende entregar os terrenos da região para uma massiva plantação de soja… Precisamente na Argentina é onde se está, actualmente, a fazer uma das maiores usurpações de terras por parte de grandes empresas chinesas, e não só, que pretendem impor a monocultura e um uso indiscriminado processos químicos, cujos efeitos nefastos de alteração das propriedades dos terrenos e climatéricas são ainda incalculáveis.

Enquanto os pequenos proprietários agrícolas e os trabalhadores rurais se vêm espoliados das suas propriedades e da sua sobrevivência, este sistema de produção que se está a desenvolver vertiginosamente em diversos países da América Latina e da África, coloca em causa um conjunto de terras férteis…

A denúncia da morte de Cristian Ferreyra foi feita em Dezembro passado pelo coordenador da GRAIN, Henk Hobbelink, quando recebeu o premio Right livelihood 2011, entregue pelo Parlamento sueco, pelo trabalho realizado a nível internacional, tanto ao nível da denúncia destas situações como de defesa das comunidades camponesas locais.

A Beidahuang Group é a maior empresa agro-alimentar da China e foi ela que recentemente efectuou mais um acordo na Argentina, colocando em risco uma superfície de 300 mil ha. pertencentes ao povo Mapuche…

Consultar: http://www.grain.org/es e http://www.cristianismeijusticia.net/bloc/?lang=es

Com estima fraterna,
grão de mostarda


Li, faz muito pouco tempo, uma reflexão de um cidadão brasileiro sobre o impacto da produção da China no Ocidente e em como iremos ser bastante afectados num futuro muito próximo como consumidores. Ele põe em palavras aquilo que muitos de nós falamos e sentimos no nosso quotidiano.

Diz ele que hoje compramos tudo “Made in China”. É tudo facilitismos, é tudo baratinho, compramos cegamente até o que não nos faz falta, mas como ele alerta tudo não passa de uma estratégia de poder para conquistar os mercados do Ocidente. Quando já não houver mais produção nos países, quando só houver lojas chinesas para comprarmos o que necessitamos, quando os empresários que, hoje, na ganância do lucro fácil e rápido (pois agora compram por cêntimos e vendem por muitos euros e dólares), tiverem que só comprar aos chineses, aí vamos ser confrontados com um aumento drástico dos preços, produzindo um “choque de manufactura”.

Na realidade, os empresários chineses pagam uma miséria aos seus funcionários, não há leis de trabalho, não há direitos. A maior parte deles apenas quer um emprego para sobreviver. Trabalham em regime de trabalho escravo. Levam os filhos bebés para as fábricas e prendem-nos todo o dia a correntes porque trabalham demasiadas horas e não têm onde deixá-los. Quando têm o azar de ter acidentes de trabalho, que os inutilizam, são postos imediatamente na rua, sem direito a nada. Que sociedade é esta em que vivemos? Onde vamos parar com esta cegueira, com esta esquizofrenia do dinheiro?

Estou em crer que é necessário uma tomada rápida de consciência, de modo a repensarmos o nosso estilo de vida, que provoca tanta ganância e tanto sofrimento nos outros, porque cada vez que eu estou a comprar uma jarra de vidro a 1 euro, estou a dar força a um empresário para sujeitar um operário na China a trabalhar 15 horas seguidas sem ver o seu filho ou a vê-lo preso sem lhe poder valer. Não quero ser cúmplice da escravatura e da tortura de pessoas de carne e osso como eu!

As sociedades orientais têm uma história milenar de sabedoria espiritual e de conhecimento profundo sobre as leis da Natureza e da natureza humana. A filosofia oriental é muito rica e profícua em ensinamentos absolutamente admiráveis. Questiono-me muitas vezes porque nos afastamos tanto da nossa essência, nos afastamos tanto do amor, do melhor que há em cada um de nós para cairmos numa espiral de avareza e de desamor pelo outro e, pior, o desamor por nós próprios. Porque decidimos viver vidas sem sentido quando a vida tem tanto sentido, quando vivida com amor?!.

Olga Dias

Olga Dias integra o Projeto CONFIANÇA um movimento que acredita que a “fonte de vida” é a solidariedade humana.

Sem comentários:

Enviar um comentário