Caríssimas e caríssimos,
andaremos “sem destino”, atendendo “mil e uma tarefas”? Corremos para
TUDO e por TUDO, dentro de nós próprios, sem que muitas vezes nos
ENCONTREMOS, e no espaço de convivência, onde também dificilmente
ENCONTRAMOS alguém… Paula Constantino, a partir das palavras que o
apóstolo Paulo escreveu à comunidade de Coríntio, interroga-se: “Que
fazemos da paciência?”.
Ser
paciente, consigo mesmo e com aquelas e aqueles que nos rodeiam, seja em
que circunstância for, não será ir descobrindo que TODOS somos ÚNICOS?
Fraternalmente,
grão de mostarda
Aprender a Paciência
“O Amor é paciente, a caridade é benigna.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1)
O nosso tempo corre depressa. As pessoas
andam de um lado para o outro quase que sem destino, sem saberem para
onde ir. Não há tempo a perder, é preciso atender a mil e uma tarefas
que ainda há para cumprir em mais um dia que mais parece ter mais do que
24 horas. E no meio de toda esta azáfama tantas vezes dizemos e ouvimos
dizer: “Não tenho paciência”; “Não há paciência para isto”.
E eu pergunto-me: que fazemos nós da paciência? Como a cultivamos no nosso coração e nas nossas vidas?
Olho a natureza como ela nos brinda com paisagens tão belas, que eu me
pergunto como é que isto foi possível? Será obra da pressa ou da
paciência?
Durante um passeio observo um campo enorme de pequenas
flores amarelas e vou às raízes da formação daquela beleza: a pequena
semente que é deitada à terra e germina ao seu ritmo, e, aos poucos e
poucos, vão aparecendo os primeiros sinais de vitalidade, de que “pegou”
à terra, que vamos ter flor! Continua no seu ritmo a crescer e começa a
surgir o caule com as primeiras folhas. A seiva que corre dentro de si
alimenta a planta e ela vai crescendo até que, finalmente, surge a tão
desejada flor. É um processo lento, mas tão belo e cheio de vida.
Se
olharmos para nós, como é que nos vemos? Que paciência temos connosco? É
que muitas vezes queremos tudo muito perfeitinho, tudo a “bater” certo,
sem nenhuma falha, assim tipo puzzle onde as peças encaixam umas nas
noutras e fica um desenho maravilhoso. Ora, se temos a paciência de
estar horas a fio a fazer o puzzle que não passa de uma simples
distração, porque não havemos de ter essa mesma capacidade para nós?
Ninguém nasceu perfeito por isso, é preciso aceitar e assumir os nossos
limites para, de seguida, sermos capazes de valorizar os talentos que
temos e, com surpresa, veremos que nos tornamos em pessoas mais felizes
e, porque nos amamos, temos uma maior capacidade de Amar o outro.
Transportando isto para as nossas vidas, questiono-me sobre a paciência
que temos com os outros, e de que tipo é essa paciência: será uma
paciência ao nosso jeito, em que tudo tem que estar dentro dos nossos
parâmetros e as pessoas têm que andar ao nosso ritmo; ou pelo contrário,
somos nós que temos que andar mais devagar, perceber e respeitar mais,
muito mais, o ritmo dos outros?
É que às vezes queremos fazer tanto
pelo outro, ajudá-lo a dar passos na sua vida, queremos libertá-lo de
tantas angústias, tristezas e privações, que parecemos as ervas daninhas
que abafam a flor e não a deixam crescer, não permitindo que o outro
emirja, cresça verdadeiramente e assuma a sua vida nas suas próprias
mãos.
O respeito pelo outro exige de nós muito cuidado com a forma
como lidamos com ele, como permitimos que ele cresça, faça o seu
caminho. Não nos basta dizer que Amamos temos primeiro que respeitar.
Deus fez-nos livres e dá-nos a possibilidade de escolhermos entre o bem
e o mal e não é por isso que deixa de nos Amar ou que nos abandona,
pelo contrário, continua sempre do nosso lado. Tem uma paciência e um
Amor infinito por cada um de nós.
“Tu és o meu filho muito amado, em
ti ponho todo o meu encanto, todo o meu enlevo” (2). Ora, se Deus diz
isto a cada um de nós, que somos seus Filhos Únicos, porque não há outro
como nós, também deve ser esta a medida do Amor e da Paciência que
devemos ter para com o outro, porque também ele é Filho Único de Deus.
Paula Constantino
(1) 1ª Carta aos Coríntios 13, 4, 7;
(2) Mateus 17, 5