domingo, 31 de agosto de 2014

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

“A confiança de coração fortalece-se em nós quando permitimos que impregne as nossas vidas: quando não respondemos demasiado depressa a uma palavra que nos magoou, quando nos recusamos a acusar todo um povo por algo que apenas uma parte faz, quando permanecemos próximos de um doente mesmo se não o podemos ajudar” (*).

Os PENSAMENTOS EM BUSCA desta semana foram inspirados em reflexões sobre a confiança, escritas pelo irmão Roger, fundador da Comunidade de Taizé, e do qual se recordou, no dia 16, a sua morte violenta há nove anos. As palavras do irmão Aloïs, acima citadas e proferidas naquela ocasião, ajudam-nos a integrar os diferentes momentos da vida, quando construímos o nosso SER na confiança no amor incondicional.

(*) Irmão Aloïs, “Em memória do irmão Roger”:


Fraternalmente,
grão de mostarda


FERMENTO DE PAZ…


As actuais situações de conflito no Mundo repercutem o “ambiente” dos corações daqueles que lhes dão origem. As crueldades vividas entre a Ucrânia e a Rússia; Gaza e Israel; Síria, Iraque e “Estado Islâmico” tornam a vida das suas populações num “tempo de crueldade”.

Os nossos corações estremecem perante o recrudescer da desumanização e conivências da comunidade internacional... Quem vende as armas, quer seja aos Estados internacionalmente reconhecidos quer aos grupos de sublevação? Sabemos que o armamento utilizado nos diversos conflitos não se adquire num qualquer “mercado de flores”; o seu transporte, uso e manutenção exigem um conjunto de logísticas e de conhecimentos, só possíveis as estruturas organizadas.

Quem subvenciona financeiramente todos estes conflitos? A quem interessa a implantação de toda a estrutura de recuperação das zonas destruídas? No fundo, que interesses económicos submetem tantas populações indefesas a uma inominável iniquidade?

“Sentimo-nos desconcertados pelas violências e catástrofes no mundo”, afirmou o irmão Aloïs na sua reflexão do passado dia 14, a propósito dos conflitos na Ucrânia, no Iraque, na Palestina e noutros locais, acentuando: “No entanto, não estamos condenados à passividade.”

Gesto animador desta proposta foi o da própria Comunidade de Taizé ao reunir cristãos ortodoxos russos e ucranianos no passado dia 21, e que diante dos milhares de jovens reunidos na reflexão da noite expressaram as suas experiências (1). 

Também os nossos corações não podem deixar-se submergir pela indiferença... Como construir um ambiente de paz? 

“Comecemos em pequenos grupos, nos locais onde vivemos, nos locais aonde somos enviados. Saibamos que a eficácia durável não parte de uma acção espectacular (…)”, sugere o irmão Aloïs, recordando palavras de um cristão ortodoxo, Serafim de Sarov: “Adquire a paz e uma multidão à tua volta há-de encontrá-la também.” 

Somente nos é pedido que sejamos fermento de paz…


grão de mostarda


sábado, 23 de agosto de 2014

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

“Qual o sentido da minha vida?”. O monge beneditino Anselm Grün afirma em “O livro das respostas” que esta é “uma questão que não devemos evitar” e que ao colocá-la tem ir ao mais profundo da “essência da nossa humanidade”, pois só assim poderemos agir “livremente”.

Paulo França, amigo e presença fraterna do grão de mostarda, fez este percurso… Um percurso de libertação, que hoje ele nos revela de modo tão amável e afectivo, partindo também de um livro, “Ensaio sobre a lucidez” de José Saramago.

Fraternalmente,

grão de mostarda


A LUCIDEZ DO OLHAR…



“Ao contrário do que toda a gente julga, o espelho retrovisor não serve só para controlar os carros que vêm atrás, também serve para ver a alma dos passageiros [...] ” in ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ, de José Saramago

Talvez o que nos tem faltado mais, é este olhar para dentro uns dos outros, saber escutar e dizer o que nos vai dentro da alma.

No ano de 2000, vim de visita a Lisboa, na primavera. Apanhei um táxi. Nessa altura da minha vida, eu dependia do consumo de álcool e estupefacientes. Era uma mistura bombástica e destrutiva…

Lembro-me que o taxista foi falando comigo olhando-me no retrovisor e sugeriu-me que, quando eu chegasse a casa, me mirasse no espelho e visse a minha figura. Segui o conselho do taxista. Fiquei deveras indignado com o meu aspeto inchado.

Nessa altura, libertei-me dos estupefacientes e, mais tarde, reportando-me também da mesma receita do taxista, libertei-me do álcool.

O taxista era um heroinómano recuperado. Naquele dia, o espelho retrovisor foi um instrumento precioso, sendo complementado pelo visionamento de mim mesmo ante o espelho em casa. Senti, como ninguém, o sentido profundo e sábio desta frase de José Saramago.

Paulo França

terça-feira, 19 de agosto de 2014

PENSAMENTO EM BUSCA



A MAIOR VITÓRIA PERTENCE ÀQUELE QUE VENCE SEM DESEMBAINHAR A ESPADA (*)

Perante um defeito ou um erro de alguém, o mais funesto é atacar ou agir com severidade. Só a misericórdia conduz à pacificação interior e ao reconhecimento por parte de quem fracassou…

(*) pensamento atribuído a Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.)





grão de mostarda  

domingo, 17 de agosto de 2014

ESCUTAR O AMOR



Escutar o coração, o que de mais genuíno somos, levar-nos-á, inevitavelmente, a decisões de amável solidariedade… Se o escutarmos descobriremos que “no centro do nosso ser há um pequeníssimo ponto (…) que pertence inteiramente a Deus (…) e que é inacessível às fantasias da nossa mente e às brutalidades da nossa vontade.” (*)


(*) “Conjeturas de un espectador culpable” (Santander, 2011), de Thomas Merton (1951-1968), monge cisterciense.



sábado, 16 de agosto de 2014

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

a reflexão de ESCUTAR A VIDA recorda-nos a queda significativa de nascimentos no nosso país – “em quatro anos perdemos 20 mil nascimentos…” –, a propósito a publicação recente de um relatório sobre política de natalidade (*). Álvaro Carvalho todavia anota: “A maioria dos casais jovens” apontam na generalidade dos inquéritos e dos estudos que desejariam “ter mais filhos do que os que têm”. Ninguém ignora que numa sociedade, o exercício da confiança no seu futuro realiza-se também, e de modo significativo, na esperança dos índices de natalidade.

No nosso quotidiano de “vizinhos entre vizinhos” escutamos mulheres a queixarem-se de não terem sido admitidas numa empresa, por não “garantirem” à entidade patronal que não engravidariam; casais a lamentarem o despedimento da mulher, após ter sido mãe; mulheres a serem penalizadas, com medidas coercivas, por necessitarem de acompanharem filhos a consultas, a estarem presentes em reuniões nas escolas; de serem ameaçadas com castigos se, em dias de horas extraordinárias, saem para ir buscar os filhos aos infantários... Os exemplos poder-se-iam multiplicar.

Quando, no momento presente, a legislação é ignorada mesmo pelo Serviço Público, como agir? Como ser fermento de transformação das mentalidades e dos corações? A dignidade humana exige-nos presença fraterna e diálogo actuante…

Fraternalmente,
grão de mostarda
(*) Consultar documento em www.porto.ucp.pt/central-noticias


Que FUTURO?





Foi apresentado há cerca de um mês o relatório sobre Política de Natalidade para Portugal, coordenado pelo Prof. Joaquim Azevedo. ”Por um Portugal amigo das crianças, das famílias e da natalidade”, considerado por muitos analistas como um excelente estudo, o seu debate foi completamente “abafado” pelas notícias do escândalo financeiro de um importante grupo económico do nosso país.


A baixa da natalidade desperta em mim grande preocupação, não só porque como diz o poeta: “…mas o melhor do mundo são as crianças…” (“Liberdade”, de Fernando Pessoa), mas também pelas implicações que a baixa de natalidade representa para cada um de nós e para o país.


Em quatro anos perdemos 20 mil nascimentos, fenómeno que não acontece em países como a Irlanda, o Reino Unido, a França, a Suécia, a Finlândia e a Noruega.


Portugal tem sofrido profundas mudanças de valores e atitudes: a idade média do casamento e a idade da mãe quando do nascimento do 1º filho (cerca dos 30 anos); o número de divórcios, bem como a proporção do número de abortos por gravidez – em 80 mil nascimentos, cerca de 16 mil interrupções voluntárias da gravidez (IVG) representam uma taxa de 20%, acrescendo que à volta de 40% das mulheres que fizeram IVG não têm filhos. 


Desta análise muito sumária resulta que é necessário e urgente medidas que removam os obstáculos à natalidade desejada. Dado que a maioria dos casais jovens têm referido, em todo o tipo de inquéritos e de estudos, que querem ter mais filhos do que os que têm, duas perspectivas se tornam claras: o problema tem solução; a solução mais adequada, em termos de políticas públicas, mais do que criar incentivos, é remover os actuais obstáculos à natalidade com que as famílias se deparam.



Álvaro Carvalho