sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

a serenidade do nosso interior nasce das decisões que, experiência após experiência, vamos tomando ao longo dos dias das nossas vidas… E uma das mais importantes decisões é o uso que fazemos do tempo, do momento presente. Raras vezes olhamos e vivemos o agora como um encontro de placidez com o “acontecimento” que nos é dado viver.

Paula Guerreiro transporta-nos, na reflexão de ESCUTARA VIDA, para a experiência que fez de “um tempo que vai ao encontro do Amor”. Ou seja, o tempo que se nos entrega, devolvendo-nos serenidade de coração (ver ANEXO).

Fraternalmente,

grão de mostarda

- pedimos desculpa por só hoje ser possível enviar esta reflexão, que vos deveria ter chegado no passado dia 4.


A importância da lentidão

Um apontamento no jornal, de sábado passado, dava nota de um evento: "A Festa é aqui." "A Festa é aqui" iria desenrolar-se numa das ruas principais do Porto. Resolvemos ir, eu e a minha mãe de 83 anos. Uma delícia…

Havia animação de rua, palhaços em monociclos, dj's nas varandas e bandas de jazz. Um rasto de pequenos vasos honrava o nome desta rua pedonal, Rua das Flores. Uma jovem encantava com o seu realejo. Mais à frente um livreiro alfarrabista dava à manivela uma grafonola de 1930, demonstrando-nos como funcionava. Estávamos na presença de instrumentos musicais próprios de uma cultura que remonta à primeira metade do Séc. XX.

A minha mãe deliciava-se a observar, a ver. O olhar despertava-lhe os sentidos e apelava à sua memória, uma memória cheia de recordações, de estórias - houve uma vez... e começava a contar...

Parávamos junto às vitrinas das lojas. Nos seus vidros, e associados aos produtos que comercializavam, havia desenhos bastante coloridos acompanhados de um poema ou de uma rima, ou ainda, uma adivinha onde nos detínhamos a descobrir a resposta.

Passeávamos ao nosso ritmo, um ritmo que pertence ao tempo, mas pouco tolerável no nosso Tempo. A propósito, lembrei-me de um livro do Luís Sepúlveda "História de um caracol que descobriu a importância da lentidão" (*). Sim, estávamos a saborear e a absorver porque estávamos sem pressa, atentas ao apelo dos sentidos.

Foi maravilhoso ver a Rua das Flores com tanta vida… Mas delicioso foi partilhar dessa vida, com as experiências, as estórias da minha mãe e apreciar a sabedoria deste tempo que passamos juntas. Um tempo que vai ao encontro do Amor, pois o Amor é parcimonioso.




(*) Porto Editora, Abril 2014

Paula Guerreiro

Ilustração de Paulo Galindro, no livro citado de Luís Sepúlveda

Sem comentários:

Enviar um comentário