segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

Até que ponto a vontade e o comportamento humanos podem ser na sua totalidade livres? O monge beneditino Anselm Grün assinala: “É evidente que estamos marcados – através da nossa história pessoal, através dos nossos genes, através da nossa estrutura cerebral. Ainda assim, podemos dizer que existe uma última liberdade: podemos decidir-nos a favor da vida ou contra ela.” (*). Podemos interpretar assim esta resposta: na vida há uma escolha; ou seremos a favor do Amor ou contra. Porque verdadeiramente a liberdade só pode ser, enquanto “espaço” no Amor.

Ricardo Brochado remete-nos, nesta semana, para a morte, para a perda de alguém que amamos…
Conduzindo-nos à compreensão dos sinais que nos permitem “entender a perda de entes queridos” sublinha: permitir a dor é deixar curar… E assim vamos apreendendo as palavras do filósofo Gabriel Marcel: “Amar significa dizer ao outro: tu, tu não morrerás.”

(*) “O livro das respostas”, Paulinas, 2008

Pedimos desculpa por só hoje ter sido possível enviar ESCUTAR A VIDA

Fraternalmente,
grão de mostarda



AMAR: “espaço” de não-morte


Faz parte do ciclo normal da vida que ela termine. Aliás, o oxigénio que é tão essencial para a vida é a sentença de morte, que nos provoca o envelhecimento, a oxidação, como a ferrugem nos metais.

Faz parte da nossa vida entender a perda de entes queridos de uma forma saudável, com lutos, cerimónias, com o fecho de uma sepultura, com o espalhar de cinzas… 

Defendo de forma pragmática a memória e a saudade mas não advogo os velórios extensíssimos, as carpideiras e uma série de rituais que muitos definem como medievais e que disso não têm nada. Na Idade Média a morte era uma celebração da Vida de quem falecia, onde se contavam histórias laudatórias do falecido, algumas até embaraçosas e caricatas. As mesmas histórias que hoje são contadas nos velórios um pouco às escondidas mas que o deviam ser às claras. 

A dor faz parte de todas as curas. Da mesma forma que quando nos magoamos e sentimos aquela dor latente durante a cicatrização, também a dor espiritual vai sarando aos poucos e a saudade, que pode trazer dor, é a forma saudável de ir fechando a ferida. Com tempo.

Os Romanos diziam que as pessoas só morriam quando deixássemos de as recordar, é por essa razão que a minha família está toda VIVA.

Ricardo Brochado

Foto: Allen Hsua