domingo, 18 de outubro de 2015

ESCUTAR O AMOR



Jesus disse: Se para ti a tua mão é um empecilho, corta-a; se o teu pé não te permite caminhar, deita-o fora; e se o teu olho te faz cair, arranca-o de ti…” (ver Marcos 9, 38-50)

Viver é assumir a vida enquanto um caminho de felicidade e não de permanentes inquietações e suspeitas, que nos lançam numa inércia e numa infidelidade a nós e aos outros.




sábado, 17 de outubro de 2015

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,


que significa ESCUTAR A VIDA em todo o tempo e lugar? 


Entre o caos e o sofrimento dos “habitantes” da estação ferroviária de Komlaphur (Bangladesh) a comunidade de Taizé vem sendo sinal de transformação, assim como a Natureza, neste mês, nos remete para um processo de mudança…



Fraternalmente,

comunidade grão de mostarda


Quando Outubro tudo renova…

Em Outubro toda a Natureza inicia um processo de mudança… Deixamos de escutar o cantar de algumas aves migratórias, as folhas de algumas árvores ganham tonalidades extasiantes, para logo iniciarem a sua queda, e o céu apresenta-se mais denso, com nuvens que, pouco a pouco, vão regando terras e preenchendo leitos de rios. 


É assim todo o ano, em cada momento de viragem, em cada estação do ano. Todavia, este mês sentimo-lo como um tempo de aprofundamento de toda a Vida, recordando-nos a urgência de uma transformação despojada, para que seja possível o renascimento… 


Também nesta altura do ano, com a aproximação do Inverno, o ambiente na estação ferroviária de Komlaphur, em Dacca, capital do Bangladesh, começa a alterar-se. As chuvas perturbarão o viver de um sem-número de empobrecidos que habitam naquele que é o maior terminal de comboios do Bangladesh. E foi precisamente naquele espaço, que uma multidão de casais, crianças abandonadas e idosos adoptou como sua casa, que aconteceu o inesperado: Yann, um palhaço francês, proporcionou-lhes cerca de uma hora de diversão… 
 
“Ele demonstrou muito respeito por todos aqueles que participaram no encontro”, escreve Fiona, uma inglesa voluntária nas actividades semanais que os irmãos de Taizé mantêm junto com aquelas pessoas, sublinhando que Yann “convidou muitas crianças” a participarem em alguns dos seus números.


Ao chegar a Komlaphur, Fiona descreve “as primeiras impressões” como sendo tudo “caótico, mas à medida que decidimos parar e observar, há uma tomada de consciência de que há muitos que estão a cozinhar, sentados, a dar de comer a bebés, a apreciar uma chávena de chá e ainda nos oferecem um pedaço do seu pão ganho de forma árdua...” E foi precisamente a oferta de um pedaço de pão, feita por um jovem, que “roubo o coração” daquela voluntária, que nos descreve assim quem ali vive: jovens, idosos, órfãos, prostitutas e portadores de deficiência. E todas estas pessoas “revelam imensa coragem”, conclui Fiona que recorda a presença dos irmãos de Taizé, através da memória do irmão Frank, falecido em Janeiro do ano passado, e que fundou em 1974 a primeira fraternidade no Bangladesh.


“Descobrimos que os que são rejeitados pela sociedade por causa da sua fraqueza e da sua aparente inutilidade são uma presença de Deus. Se os acolhermos, eles conduzem-nos progressivamente de um mundo de hipercompetição para um mundo de comunhão de corações.” Nas palavras com que o irmão Frank identificou aqueles desprezados, conseguimos intuir os processos de mudança acontecidos ao longo de tantos anos. 


E é precisamente a partir de um incidente durante a exibição de Yann que se poderá compreender um renascer da dignidade dos moradores naquela estação ferroviária, conforme descreve a Fiona: “Quando a polícia chegou para separar a aglomeração, Yann conseguiu colocar-se ao lado da audiência e, com o seu humor, persuadir a polícia e permitir que ele continuasse o espetáculo mais 10 minutos.” Mas não foi tudo bem assim, porque nesta estação também tudo se renova, revela a voluntária inglesa: tudo continuou pacificamente, “mesmo indo contra os desejos das autoridades, que raramente respeitam as crianças, ou às suas atividades. Foram 45 minutos de diversão!”


domingo, 11 de outubro de 2015

ESCUTAR O AMOR



“Jesus disse: um homem foi assaltado, ficando estendido na estrada como morto… Um outro homem que passava por ali, tratou-lhe das feridas e levou-o até uma pousada. No dia seguinte, entregou algum dinheiro ao dono da estalagem e pediu-lhe: “CUIDA-ME DELE, que quando regressar pagarei o que gastaste a mais…” (ver Lucas 10, 25-37)

A expressão usada pelo homem que recolheu o assaltado [o samaritano] só pode ser assim traduzida: “CUIDAMO-LO”. Como salienta Mari Paz López Santos, o termo utilizado pelo samaritano significa que ele entrega ao hospedeiro “alguém que reconhece como seu. Este prenome pessoal, integrado na palavra que expressa atenção ao outro, intensifica a compreensão do compromisso que assumiu (…). Este termo compreende-se quando se fala de alguém da própria família ou de um amigo muito chegado. Não é normal para quem se encontra na margem do caminho, maltratado e abandonado (...) ”.
Ao referir-se assim ao homem que socorreu, o samaritano revela “a Misericórdia que está a actuar na primeira pessoa”. (1)

(1) Agradecemos a Mari Paz López Santos por ter iluminado o ESCUTAR O AMOR… de hoje com a sua reflexão ¡CUÍDAMELO! ver: https://eclesalia.wordpress.com/2015/10/09/cuidamelo/





domingo, 4 de outubro de 2015

ESCUTAR O AMOR



Jesus disse: Poderá um cego guiar outro cego? Não acabarão por cair os dois num buraco? (ver Lucas 6, 39)

“Toda visão da vida e do mundo que não tenha em conta a ‘totalidade’ dos acontecimentos é logicamente uma visão ‘parcial’. Na verdade, a sociedade em que vivemos está construída precisamente para que não vejamos a ‘totalidade’, mas para que nos fixemos somente no ‘parcial’…” José María Castillo, “La Relión de Jesus”, Desclée de Brouwer, 2008




ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

será ainda possível assumir uma conduta ética, um novo paradigma social que nos convoque à  alegria de vivermos “como os lírios dos campos, neste tempo de escassez de atitudes humanizadoras nos diferentes instâncias políticas, financeiras e sociais,?

Nesta semana, buscámos iluminação nas palavras de dois judeus, Etty e Jesus, ambos assassinados por acreditarem na esperança, enquanto caminho e horizonte da Humanidade…~

Fraternalmente,

comunidade grão de mostarda


SER COMO OS LÍRIOS DOS CAMPOS: horizonte e caminho 


Etty Hillesum, no seu diário redigido durante a inominável crueldade nazi, escreveu: “Gostava muito de viver como os lírios do campo. Se as pessoas entendessem esta época, seriam capazes de aprender com ela a viver como os lírios do campo” (1).
 

As decisões de esperança só poderão surgir a partir da bondade humana. Não é uma ingenuidade. E Etty compreendeu e experimentou isto, no seu interior, num momento da história humana que exigiu, a ela e a milhões de pessoas, um desprendimento total. E assim se encaminhou para o essencial, por estar consciente da situação de precariedade, não apenas material, mas sobretudo humana que então se vivia. E apesar do que presenciava no campo de concentração de Westerbork (Holanda) um “foco de sofrimento humano” –, o que a impelia era nunca perder o sentido de como a vida é “digna de ser vivida”. Daí a urgência em desejar “viver como os lírios do campo” (2).


Naquele discurso, Jesus evoca que o essencial é a felicidade humana, a fraternidade universal. Mas “não se trata de uma felicidade barata e rápida, em que andamos à nossa volta e ignoramos todos os aspectos negativos do mundo…”, anota Anselm Grün (3). Jesus, de facto, adverte-nos que não podemos servir a “dois senhores”. Não ensina a despreocupação. O apelo que faz é o de uma conduta ética que nos convoca à mudança do objecto das nossas preocupações, e assim inscrita na conclusão do seu discurso: “Buscai antes de tudo o reinado de Deus e a sua justiça…”. Aqui reside a chave de interpretação da proposta de Jesus: só na mudança de paradigma, na mudança de objectivos, pessoais e colectivos, poderemos “viver como os lírios do campo”. 


Quando se desce ao essencial, àquilo que torna a vida um acto de generosidade é possível viver “despreocupados” como as aves do céu e os lírios dos campos… Só a simplicidade permite a generosidade. De contrário viveremos, sempre, (pre)ocupados, senão mesmo obcecados, com a manutenção do sistema – “Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?” – e não com “o reinado de Deus e a sua justiça”, enquanto horizonte e caminho de esperança...



(1) Etty Hillesum, “Diário – 1941-1943”, Assírio & Alvim, Lisboa, 2008.

Etty (diminutivo de Esther) Hillesum, filha de um casal judeu de Amesterdão (Holanda), morre no campo de extermínio nazi em Auschwitz, a 30 de Novembro de 1943. O seu “Diário”, além de permitir descobrir o seu empenhamento humano e social, percorre o seu itinerário espiritual nos tempos conturbados da ocupação hitleriana



(2) “Observai como crescem os lírios selvagens, sem trabalhar nem fiar (…).” (Mateus 6, 27)  

(3) “O livro das respostas”, Paulinas, Lisboa, 2008