terça-feira, 25 de junho de 2013

ESPERANÇA: CAMINHO E HORIZONTE



Caríssimas e caríssimos,


Quais são as nossas “plataformas de esperança”? Em que ESPERANÇA fundamos o nosso SER?
Luísa Alvim, na sua Carta de resposta a Valentim Gonçalves conduz-nos ao seu tempo, ao quotidiano que, também a ela, a interroga… “Dos fracos, dos frágeis, dos pequenos, dos que não têm nada, dos que acreditam em respostas vêm sinais esperançosos.” E assim nos convoca os corações: “Mais do que uma revolução política e social, é preciso uma revolução interior…” (ver ANEXO)



Fraternalmente,

grão de mostarda


PLATAFORMAS DE ESPERANÇA


Caríssimo Valentim,



São inquietantes e perturbadoras as questões que levantas na tua última carta (*). Perguntas o que é que o Espírito continua a dizer às igrejas? Qual é a força do fermento no meio da massa? Por que é estamos a olhar o céu? 

As nossas cartas têm vindo a exprimir a esperança no caminho de hoje e para o futuro nas vidas que cruzamos com as nossas comunidades. Mas há na sociedade uma carência na escrita e na dádiva de “cartas de esperança” para a vida das pessoas. 

Visitou-me no local de trabalho um ex-recluso que trabalhou connosco num projeto de leitura e escrita durante a sua pena no estabelecimento prisional. Veio para pedir um poema que escreveu e para me mostrar as suas mãos. Eram mãos de trabalho, mãos calejadas e sujas. Fiquei feliz por estas mãos de esperança. Pelo trabalho que perseguiu para encontrar, pela força da procura num poema que escreveu, pela reconversão de vida que queria manifestar.

À porta da casa da minha filha, em Lisboa, dormem os sem-abrigo que os vizinhos teimam em afastar e a queimar os poucos haveres que possuem. Depois de uma dessas queimadas, na manhã seguinte, o prédio acordou com um grafiti na parede em que está escrito FUTURO e um barco pintado que ruma ao horizonte.
Recentemente, as crianças da catequese escreveram cartas a Jesus no dia da sua primeira comunhão. Pérolas de oração de confiança. Agradeciam tudo o que têm e o que são. O Gil escreveu:

“Querido Jesus:
Obrigada por tudo:
Pela vida
Por este belo planeta
Ajuda-nos e protege-nos.
Ámen.”

A semana passada, na Praça de S. Pedro em Roma, durante a audiência do Papa, vi uma mulher com um filho entregar uma carta dirigida ao “Papa Francesco” a um polícia. Este perguntou-lhe se tinha lá dentro o nome e a morada, depois atravessou a praça, subiu a escadaria dirigiu-se ao secretário do Papa e entregou-a. Sem antes garantir veementemente à mulher que o Papa lhe responderia. 

Estas são as minhas plataformas de esperança. 

Dos fracos, dos frágeis, dos pequenos, dos que não têm nada, dos que acreditam em respostas vêm sinais esperançosos. É desta força que o fermento faz crescer a massa. Esta é a minha gramática da esperança. É aqui que do nada se gera o amor que muda o mundo. Com Jesus, sabemos que temos que ser iguais aos sem nada, aos sem terra, aos sem-abrigo, aos pequenos. Pois são estes que estão dispostos a acolher a esperança.

Mais do que uma revolução política e social, é preciso uma revolução interior ao homem na contramão redentora: para encontrar Deus, que nos enche de privilégios, é preciso ir a Jesus que se faz igual a cada um de nós. 

O que é que o Espírito continua a dizer às igrejas? Pressuponho que as Igrejas têm que ser uma presença qualificadora do homem e da mulher no bem-estar social, no tratamento igualitário entre seres. Têm que rejeitar a forma arrogante como a economia neoliberal nos diferencia. Terão que ser fontes evangélicas a alimentar a humanidade no encontro sagrado entre si e o Pai. Terão que ensinar o homem e a mulher a confiar no advento dos privilégios e nas dádivas de Deus na vida de cada um, através da procura da igualdade social que Jesus nos propõe.

Ter esperança no horizonte futuro é fazermos no hoje das nossas vidas diárias uma luta pela igualdade. Lutar para que a fraqueza e a pobreza a social desapareçam e possamos finalmente ser fracos e “pobres em espírito”, necessitados do Amor, falíveis e imperfeitos para acolher o Pai. 

No hiato entre o desespero e a confiança, recuperemos a salvação e a Justiça do Deus cristão, que Torres Queiroga nos fala[i]: Deus é Pai e Mãe de todos e quer o bem e a igualdade para todos os homens e mulheres.

Haja uma esperança ressuscitada!

Abraço fraterno,

Luísa Alvim, que acredita que cada ser humano será um privilegiado se encontrar Jesus na sua vida





(*) Publicada a 17 de maio passado.



[1] Del terror de Isaac al Abbá de Jesús: hacia una nueva imagem de Dios. Editorial Verbo Divino, 2000






Luísa Alvim, cristã empenhada na paróquia católica de S. Victor, em Braga – os seus “diários” da catequese no Facebook constituem verdadeiras parábolas sobre o Amor Infinito –, é também membro do Metanoia – movimento de profissionais católicos. Técnica superior (área de Biblioteca e Documentação), na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão – atualmente a trabalhar na Casa de Camilo - Museu e Centro e Estudos –, diz-se uma “sonhadora do impossível


Valentim Gonçalves é pároco da comunidade católica de S. Pedro do Prior Velho, desde a sua constituição como paróquia, em Outubro de 1999. A população do Prior Velho (concelho de Loures) conhece este missionário do Verbo Divino, desde há duas décadas, quando começou a empenhar-se no serviço aos moradores da Quinta da Serra – bairro ilegal, constituído maioritariamente por imigrantes africanos. Membro da Comissão de Justiça e Paz dos Institutos Religiosos, assume também trabalho pastoral na antiga Quinta do Mocho (atual Terraços da Ponte, em Sacavém), igualmente habitado por uma população de imigrantes africanos.















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