sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

vivemos o momento oportuno para uma “nova atitude existencial”? A insatisfação poderá levar ao desânimo, perante os diferentes muros que se vão erguendo no quotidiano das sociedades.

O caminho exige-nos distinguir as razões das novas injustiças, que além de gerar vítimas humanas conduz ao desaparecimento da nossa casa comum, a Terra.
Com as palavras desassombradas de Serge Latouche e as propostas do irmão Aloïos de Taizé para um nova solidariedade, desejamos animar os nossos corações a buscar o mundo que existe no mundo em que vivemos.

Fraternalmente

grão de mostarda


ENCANTAR O MUNDO – a utopia de uma nova solidariedade



“Voltar a encantar o mundo” para que desponte “a utopia concrecta” é o apelo de Serge Latouche, na última página do seu livro “Vers une société d’abondance frugale” (1). Para este professor emérito de economia da Universidade de Pais-Sud (Orsay), trata-se de “DESCOBRIR QUE HÁ UM MUNDO NO SEIO DO MUNDO EM QUE VIVEMOS…”.

A obscuridade do tempo presente parece esvaziar de sentido as propostas de Latouche: uma minoria com interesses financeiros, depredadores de recursos naturais e das vidas de multidões – as vítimas de novas escravaturas –, está a instigar uma civilização alicerçada na desconfiança e no medo, que paralisa e rouba o quotidiano.
De modo avisado, Latouche situa o problema no seu adequado contexto: “O excesso de consumo dos bens materiais coloca um número cada vez maior da população [mundial] na escassez e nem sequer assegura um verdadeiro bem-estar para os restantes”. E conclui que “a criação de necessidades e de bens ilimitados” tornou-se um “círculo vicioso” causador de uma “crescente frustração.” E continua a sê-lo, de modo desenfreado…

Não será este o momento oportuno para se empreender um caminho rumo a “uma nova atitude existencial”, como propõe Hans Küng? (2). Este caminho levar-nos-ia, certamente, ao paradigma de Latouche: a descoberta do mundo que existe no mundo que hoje nos é dado viver… Uma ruptura com o actual modelo de soluções políticas e financeiras, que transformaria as nossas vidas em projectos de fraternidade luminosa.

No Encontro Europeu deste ano em Praga, o irmão Aloïs de Taizé, diante a realidade presente, fez uma proposta “rumo a uma nova solidariedade”. Nas suas «Quatro propostas para ‘ser sal da terra’» (3), desenha o mapa da “nova atitude existencial”, somente concrectizável no nosso quotidiano se iniciada por uma mudança interior:
Partilhar o gosto de viver com os que estão à nossa volta. Como conseguir, “perante um grande número de obstáculos”, perguntarmo-nos: «Para quê continuar a lutar?».

Comprometer-nos pela reconciliação. “Há situações em que é urgente a reconciliação.” Um compromisso nesse caminho exige-nos “compreender os medos que aprisionam o outro nos nossos preconceitos.” Por isso, é nosso encargo também “ganhar consciência de que os outros podem ter algo contra nós.”

Trabalhar pela paz. “O desejo de paz alarga o nosso coração e enche-o de compaixão por todos.” Esta decisão interior conduz “algumas pessoas comprometem-se na promoção da paz assumindo responsabilidades na vida pública dos seus países…” Será possível avaliar “situações de injustiça” oferecendo “a nossa protecção aos que estão vulneráveis” e assim identificar “as formas modernas de escravatura”?

Cuidar da nossa terra. “A terra não é propriedade nossa.” Este princípio leva-nos à consciência de que “temos um dever de solidariedade entre pessoas e povos e para com as próximas gerações.” E será a nossa “maneira de consumir e de utilizar os recursos naturais” que edificará na sociedade “um estilo de vida que permita um desenvolvimento sustentável…” Necessitamos de “imaginação e de criatividade”. E assim nascerão “novos projectos para a sociedade.”

E assim a Humanidade voltará a “encantar o mundo”!

grão de mostarda

(1) Seguimos a tradução em espanhol “La sociedad de la abundancia frugal”, Icaria editorial, Barcelona, 2012
(2) “Lo que yo creo”, Editorial Trotta, Madrid, 2011




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