sábado, 4 de abril de 2015

O ÚNICO AMOR



O ÚNICO AMOR,

O AMOR DE TODO O AMOR

É O QUE SE ENTREGA NA GRATUIDADE…






Conhecida popularmente como Mariquita-de-Perna-Clara, o seu peso não vai além dos 12 gramas. Todas as primaveras, esta pequenina voa mais de 2500 quilómetros sobre o mar para se reproduzir. Chegou agora, em finais de Março, às florestas boreais da América do Norte e só dali sai, já com família aumentada, no final do outono para regressar ao seu lar de inverno, na América do Sul (1).


Identificado pelos cientistas comoSetophaga striata”, este pássaro não se rende à sua vulnerabilidade, arriscando uma travessia sem qualquer certeza de chegar ao seu destino. É num local mais ameno que prepara as condições para procriar. No Sul, na ilha de Espanhola ou em Porto Rico, nas Caraíbas, a fragilidade dos seus descendentes ficaria em risco, pela possibilidade de não conseguirem conviver com temperaturas menos afáveis.


Mariquita-de-Perna-Clara entrega-se a um gesto totalmente gratuito, sem se perguntar pelos riscos… Vive da confiança em si mesma, assim como da certeza de cada um dos seus lugares de acolhimento, a Norte ou a Sul, permanecerem disponíveis, inteiros, numa solidariedade total. A pequenina ave procura somente espaços de hospitalidade, enquanto as florestas reconhecem que o seu tesouro é conservar-se vivas. 


Avezinha e bosques do Norte e do Sul alimentam-se deste relacionamento, desta permuta… A Natureza deixa-se habitar por esta beleza profunda de não se afadigar pela ânsia, pela insatisfação de tudo possuir e do supérfluo. Na Natureza não existem caminhos de busca isolada; a sua “experiência de vida” é realizada num total intercâmbio, numa simbiose integral.



Confiança e gratuidade



Quando se inicia um percurso de confiança absoluta, a ansiedade e a resignação deixam de tomar conta das nossas vidas. Não se trata de entregar a nossa liberdade a um qualquer “destino”, mas sim de, no momento de cada decisão, ensinar o nosso coração que o caminho individualista como itinerário de felicidade é uma ilusão.


“A confiança não é uma ingenuidade cega nem uma palavra fácil, mas provém de uma escolha (…). Todos os dias somos chamados a refazer o caminho que vai da inquietude à confiança” (2).


Abrir caminhos de confiança não é uma aventura sem futuro. Aquela avezinha, apesar da sua fragilidade, só se anima a empreender cada viagem, a partir da experiência acolhedora das florestas, no Norte e no Sul. Também os desertos da desconfiança humana só serão possíveis de transpor quando cada uma e cada um de nós se propuser a assumir a atitude daqueles bosques. Reconheceremos, então, que as nossas capacidades, as nossas possibilidades humanas não são património para sustentar o nosso individualismo. 


Somente uma vida construída na confiança e na gratuidade total, visíveis em cada relação de genuína hospitalidade e momentos de partilha fraterna, é que permitiu a Jesus que a morte não tomasse conta da sua VIDA…






(2) Irmão Aloïs, “Rumo a uma nova solidariedade” in Carta de Taizé, 2012.




Foto: PÚBLICO/Centro para Ecoestudos de Vermont

grão de mostarda

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