domingo, 3 de maio de 2015

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

Por que razão estamos no mundo? “A nossa missão consiste em, durante a nossa vida, tornar este mundo, através da nossa pessoa, um pouco mais brilhante, caloroso e humano.” Anselm Grün, monge beneditino alemão, na abordagem que faz, no conjunto de textos sobre o sentido da vida e a questão da morte, dá-nos esta resposta que poderá parecer-nos demasiado simplista… (*).

Na reflexão desta semana, Paula Guerreiro coloca-nos precisamente diante desta interrogação ao partilhar a experiência que recentemente fez entre os corredores de um hospital, a propósito do internamento urgente de um familiar que acabou por falecer. Diante do que observou, e viveu, Paula Guerreiro sugere, esperançosamente, que os profissionais de Saúde “coloquem a inteligência ao serviço do coração e adotem medidas adequadas para que o doente venha a ter toda a dignidade no seu tratamento, na sua higiene, no seu conforto, na sua recuperação, no seu descanso...”.
Diante da fragilidade humana – e a maior, senão mesmo a mais perceptível, é quando a doença nos coloca na dependência dos outros seres humanos – é desejável que a missão maior da Saúde, do sistema que a estrutura, seja tornar a vida um pouco mais “calorosa”, como propõe Anselm Grün.

(*) “O livro das respostas”, Paulinas, 2008.

Fraternalmente,
grão de mostarda


CUIDAR A VIDA… 



A esperança de vida é cada vez maior e por isso  é natural que vivamos mais tempo. Com o passar da idade é normal que os problemas de saúde nos visitem mais vezes e com maior frequência. As doenças aparecem e devemos tratar-nos. Recorremos ao hospital e constatamos que somos muitos. Verificamos que somos mais um doente internado nas urgências, no meio de outros tantos doentes, que aguarda para ser atendido por um profissional de saúde.
  
Não há médicos suficientes, não há enfermeiros suficientes e não há auxiliares suficientes. Será que é difícil olhar e ver que há uma enorme descompensação? Muitos doentes – cada vez mais idosos, débeis, frágeis, vulneráveis, incapacitados – a necessitar de cuidados prementes e poucos profissionais de saúde… Não será a situação das urgências caótica o ano todo e não apenas nos chamados “picos de gripe”? O doente está indefeso e fraco, a família sente-se impotente para ajudar. A doença que já “roubou” a dignidade à pessoa, alimenta-se das faltas de condições hospitalares. Expande-se e leva a dela a avante…

Há poucos dias perdi um familiar que me era muito querido. Um problema de saúde fê-lo recorrer às urgências de um hospital central.  Diagnosticaram-lhe uma infeção renal e administraram-lhe tratamento adequado. Como não havia cama nas enfermarias teve que se manter nas urgências por mais alguns dias. Estava a recuperar e a reagir bem ao tratamento até apanhar uma infeção respiratória que lhe foi fatal.  É muito triste e dói: a pessoa morre, não do problema que a levou a recorrer à urgência mas de um outro que apanhou lá no próprio hospital. Acabei por tomar conhecimento que era mais um caso no meio de tantos outros semelhantes. O que deveria ser uma situação de exceção está a acontecer regularmente.
  
A minha intenção não é atemorizar. Apenas pretendo alertar, para que situações destas voltem a acontecer, como se nada se tivesse passado! O doente tem o direito a ser internado nas condições de higiene e saúde adequadas. Assim como o médico, o enfermeiro e o auxiliar deveriam ter tempo suficiente para tratar o doente com maior proximidade. 

Quero acreditar que temos bons hospitais. Quero acreditar que temos bons profissionais de Saúde. Tenho a esperança que os responsáveis por esta matéria coloquem a inteligência ao serviço do coração e adotem medidas adequadas para que o doente venha a ter toda a dignidade no seu tratamento, na sua higiene, no seu conforto, na sua recuperação, no seu descanso... E caso nada puder ser feito para evitar a morte, que seja em paz, com dignidade e rodeado de atenção e amor. Porque, tem de ser possível!

Paula Guerreiro

Sem comentários:

Enviar um comentário