Caríssimas
e caríssimas,
retomado
o ritmo normal do quotidiano, reiniciamos as reflexões ESCUTAR A VIDA… (ver
ANEXO) Caminhos mais humanizadores havemos de descobrir todos juntos. Quem desejar partilhar experiências
pode propor um texto para: graodemostardacomunidade@gmail.com
grão de mostarda
Na segunda-feira, as agências
internacionais de comunicação social davam conta da morte de Rawan, uma menina
iemenita de oito anos de idade, na sequência de relações sexuais durante a
“noite de núpcias” com um homem de 40 anos, que a comprara para ter direito a
casar-se com ela. Entretanto, hoje, ficamos a saber que a Justiça indiana
condenou à morte quatro rapazes acusados de violação de Jyoti, uma estudante de
23 anos, que acabara por morrer, em Dezembro passado.
Olhamos estas duas mortes com
indignação. Não com a indignação nascida do desprezo pelos causadores de tamanho
infortúnio. Não deixemos que o coração se enrede com juízos severos!
Aqueles acontecimentos colocam-nos interrogações sobre os cuidados que
a comunidade internacional deveria assumir sobre os direitos humanos. A morte
de civis na Síria devido a um ataque com armas químicas foi alvo de repulsa e
de promessas de retaliação por parte de diversos países… Contudo, são bem
conhecidos, além dos negócios do petróleo, os interesses geoestratégicos pela
região por parte dos países que agora pressionam o governo de Damasco. Atitudes
de repulsa tão exemplar não têm sido adotadas por um tão significativo grupo de
governos e de nações, em casos idênticos aos que vitimaram a menina Rawan e a
jovem Jyoti – em causa não estão conveniências financeiras nem poderio militar.
O Centro Iemenita de Direitos Humanos há muito reivindica do governo
do seu país a restrição do casamento a menores de 18 anos. Contudo, sabe-se que
mais de um quarto das meninas no Iémen casam-se com menos de 15 anos. E após a
divulgação da morte de Rawan, ouviu-se apenas a voz da responsável pela
diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, a exigir ao Governo iemenita
que proíba os CASAMENTOS FORÇADOS com menores de idade…
O caso da violação e morte de Jyoti não constitui uma exceção. A violência
contra as mulheres e a violação parecem constituir situações comuns na
sociedade indiana, reconhecem diversas organizações de defesa dos direitos
humanos. A dimensão que assumiu este caso, através destas instituições,
tornou-o quase num “assunto de Estado”, levando agora o Supremo Tribunal
indiano a condenar à pena de morte os violadores de Jyoti. Diante a iniquidade
desta pena, as palavras de Tara Rao, diretora da Amnistia Internacional na
Índia, apontam as consequências desta sentença: “Enforcar estes homens não terá
outro efeito além de proporcionar uma vingança de curto prazo”. O Estado está a
cometer o mesmo crime de que acusa os quatro violadores, decisão que não atinge
questões de fundo, como situações de rotura social e familiar ou mesmo hábitos
ancestrais admitidos socialmente e que menorizam a mulher…
Também aqui, mais perto de nós, há mortes e violações invisíveis,
executadas de modo menos expedito, mais sofisticado mas não menos gravoso… Que
modelo civilizacional surgirá da destruição que tão levianamente se está a
levar a cabo na Europa de toda uma cultura democrática e de responsabilidade
social que emergiu depois da II Guerra Mundial como dever primordial dos
Estados? Que teias de ódio estão a ser construídas nos corações com as injustiças
sociais que os poderes financeiros exigem contra as populações, particularmente
os mais desprotegidos?
Iniciar a percorrer caminhos de diálogo que renovem os corações não
permitirá a tentação da revolta, mas a construção de uma consciência solidária
e de uma esperança atuante. Permanecendo atentos às dificuldades e injustiças
geradas pelas decisões políticas injustas possibilitará movimentos de
solidariedade alternativos, mesmo que realizados em pequeníssimas escalas. Só
assim germinarão caminhos de confiança na humanidade que, pouco a pouco, hão-de
submergir todas as violências.
grão de mostarda
Foto: manifestações no Iémen contra a morte de Rawan
Sem comentários:
Enviar um comentário