domingo, 15 de setembro de 2013

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimas,
retomado o ritmo normal do quotidiano, reiniciamos as reflexões ESCUTAR A VIDA… (ver ANEXO) Caminhos mais humanizadores havemos de descobrir todos juntos. Quem desejar partilhar experiências pode propor um texto para: graodemostardacomunidade@gmail.com
grão de mostarda

SUBMERGIR TODAS AS VIOLÊNCIAS
 

Na segunda-feira, as agências internacionais de comunicação social davam conta da morte de Rawan, uma menina iemenita de oito anos de idade, na sequência de relações sexuais durante a “noite de núpcias” com um homem de 40 anos, que a comprara para ter direito a casar-se com ela. Entretanto, hoje, ficamos a saber que a Justiça indiana condenou à morte quatro rapazes acusados de violação de Jyoti, uma estudante de 23 anos, que acabara por morrer, em Dezembro passado.

Olhamos estas duas mortes com indignação. Não com a indignação nascida do desprezo pelos causadores de tamanho infortúnio. Não deixemos que o coração se enrede com juízos severos! 

Aqueles acontecimentos colocam-nos interrogações sobre os cuidados que a comunidade internacional deveria assumir sobre os direitos humanos. A morte de civis na Síria devido a um ataque com armas químicas foi alvo de repulsa e de promessas de retaliação por parte de diversos países… Contudo, são bem conhecidos, além dos negócios do petróleo, os interesses geoestratégicos pela região por parte dos países que agora pressionam o governo de Damasco. Atitudes de repulsa tão exemplar não têm sido adotadas por um tão significativo grupo de governos e de nações, em casos idênticos aos que vitimaram a menina Rawan e a jovem Jyoti – em causa não estão conveniências financeiras nem poderio militar.

O Centro Iemenita de Direitos Humanos há muito reivindica do governo do seu país a restrição do casamento a menores de 18 anos. Contudo, sabe-se que mais de um quarto das meninas no Iémen casam-se com menos de 15 anos. E após a divulgação da morte de Rawan, ouviu-se apenas a voz da responsável pela diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, a exigir ao Governo iemenita que proíba os CASAMENTOS FORÇADOS com menores de idade…

O caso da violação e morte de Jyoti não constitui uma exceção. A violência contra as mulheres e a violação parecem constituir situações comuns na sociedade indiana, reconhecem diversas organizações de defesa dos direitos humanos. A dimensão que assumiu este caso, através destas instituições, tornou-o quase num “assunto de Estado”, levando agora o Supremo Tribunal indiano a condenar à pena de morte os violadores de Jyoti. Diante a iniquidade desta pena, as palavras de Tara Rao, diretora da Amnistia Internacional na Índia, apontam as consequências desta sentença: “Enforcar estes homens não terá outro efeito além de proporcionar uma vingança de curto prazo”. O Estado está a cometer o mesmo crime de que acusa os quatro violadores, decisão que não atinge questões de fundo, como situações de rotura social e familiar ou mesmo hábitos ancestrais admitidos socialmente e que menorizam a mulher…

Também aqui, mais perto de nós, há mortes e violações invisíveis, executadas de modo menos expedito, mais sofisticado mas não menos gravoso… Que modelo civilizacional surgirá da destruição que tão levianamente se está a levar a cabo na Europa de toda uma cultura democrática e de responsabilidade social que emergiu depois da II Guerra Mundial como dever primordial dos Estados? Que teias de ódio estão a ser construídas nos corações com as injustiças sociais que os poderes financeiros exigem contra as populações, particularmente os mais desprotegidos?

Iniciar a percorrer caminhos de diálogo que renovem os corações não permitirá a tentação da revolta, mas a construção de uma consciência solidária e de uma esperança atuante. Permanecendo atentos às dificuldades e injustiças geradas pelas decisões políticas injustas possibilitará movimentos de solidariedade alternativos, mesmo que realizados em pequeníssimas escalas. Só assim germinarão caminhos de confiança na humanidade que, pouco a pouco, hão-de submergir todas as violências.

grão de mostarda



Foto: manifestações no Iémen contra a morte de Rawan

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