segunda-feira, 22 de julho de 2013

AO ENTARDECER



Marta recebeu Jesus em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria que se sentou aos pés de Jesus para o escutar. Marta, que andava atarefada com a lida da casa, voltou-se para Jesus e disse-lhe: Não te preocupa que minha irmã me deixe sozinha com tanto que fazer? Diz-lhe que me venha ajudar. Jesus, porém, respondeu-lhe: Marta, Marta andas preocupada e aflita com tantas coisas, quando apensas uma é essencial. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada. (ver Lucas 10, 38-42)

“Seguir Cristo com um coração determinado não significa atear fogos-de-artifício, que produzem fortes clarões, mas rapidamente se extinguem. Segui-lo é entrar e perseverar num caminho de confiança, que pode durar toda uma vida.” (irmão Roger, “Cantar Cristo até à alegria serena” in Deus só pode amar; Gráfica de Coimbra, 2004)




grão de mostarda

PENSAMENTO EM BUSCA



“Nenhum ser humano nem nenhuma sociedade podem viver sem confiança. (…) A confiança não é uma ingenuidade cega nem é uma palavra fácil, mas provém de uma escolha e é fruto de um combate interior. Todos os dias somos chamados a refazer o caminho que vai da inquietude à confiança.”
(irmão Aloïs, prior da comunidade de Taizé, Carta de Taizé 2012-2015: “Rumo a nova solidariedade”)



Ilustração: H. Koppdelaney

grão de mostarda

sábado, 20 de julho de 2013

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,
que há de mais importante na nossa vida, que privilegiamos? Na reflexão desta semana de “Escutar a vida”, Emília Pinto responde, quase de forma imprevista, como acolher cada momento, cada tempo da nossa existência: no dia do seu aniversário ela decidiu celebrar a vida… (ver ANEXO)
Fraternalmente,
grão de mostarda

Celebrar a Vida

Quando em nós há Vida, encontramos todos os dias motivos para celebrar, basta sentir que estamos vivos… contemplar a natureza, sentir a beleza da Criação…  

Há datas em que fazemos memória de acontecimentos importantes e, por isso, são mais um pretexto para celebrar. A data do nosso aniversário destaca-se pela diferença de como é lembrado e festejado de um jeito especial. 

Adoro celebrar o meu aniversário!

Adoro sentir-me rodeada de gente bonita, cheia de Vida! É deste jeito que gosto de o celebrar junto dos que amo e dos que me amam.

Gosto das surpresas que os amigos ou familiares me dão, dos gestos/mimos, mensagens de carinho, dos abraços, até do Silêncio daquele olhar cúmplice que não fala e diz TANTO! Quem é que não gosta de ser mimado?!

Desta vez preparei uma festa em minha casa para mais de 30 pessoas! Claro que muitos mais Nomes palpitavam no meu coração com a vontade de os ter todos presentes mas… na reciprocidade da comunhão fraterna, tornamo-nos UM e isso faz-nos presentes e próximos em sintonia.

Foi um Dia Grande, marcado por experiências novas e únicas! 

Entre amigos já habituados a frequentar a minha casa, outros pela primeira vez, uns já se conhecerem, outros só de nome e outros que se ficaram a conhecer… Uns quantos cegos, outros de baixa visão, outros… enfim, foi surpreendente a facilidade de integração entre si.

Na questão logística preparei tudo com muito carinho e estava tudo organizado, mas há sempre coisas que implicam ser feitas na hora dos convidados chegar e, a minha preocupação, para além de que tudo saísse bom, era não ser capaz de lhes dar a devida atenção. Como já referi, muitos encontravam-se pela primeira vez, o que implicava apresentações, etc. e tal. E havia ainda pessoas cegas que não conheciam os cantos da minha casa, por isso tive, sim, uma preocupação acrescida porque queria mesmo que eles se sentissem confortáveis. 

A minha preocupação logo se tornou em tranquilidade porque visualizei a disponibilidade de cada um no sentido de se darem a conhecer, de se entregarem ao serviço como quem acolhe um irmão na sua própria casa. Foi muito bonito ver o cuidado espontâneo e natural de quem vê para quem não vê…

“Adorei a festa pela alegria do acolhimento, pela boa disposição.” “Parece que já nos conhecemos há tanto tempo…” “És uma sortuda! Tens uns amigos fantásticos, que nos trataram de igual para igual sem preconceitos… sentimo-nos em casa.” “Vê-se que és feliz…” Estes foram alguns entre outros ecos colhidos durante e depois da festa – pequenos-grandes sinais que se tornaram reveladores para cada um em muitos sentidos. 

O importante é estarmos em harmonia, independentemente de sermos cegos, coxos, mudos… como um campo de flores que só é bonito porque tem todas as cores do arco-íris.

Emília Pinto 

Foto: © Allen Hsu

ESPERANÇA: CAMINHO E HORIZONTE



Caríssimas e caríssimos,
“Estamos perante um incêndio”, escreve Valentim Gonçalves avisado pelo quotidiano dos que são “atingidos diretamente pelas chicotadas da crise”. E que fazer? Como “fugir ao calor sufocante” deste fogo não evitará “sermos engolidos pela voracidade das chamas”, propõe: iniciemos por “encontrar algum caminho”, cujo primeiro desafio exige que inevitavelmente passemos por uma “conversão da mente”… É que “na hora da verdade só o verdadeiro nos libertará”, acentua no final desta sua carta. (ver ANEXO)

Fraternalmente,
grão de mostarda

Converter a mente… e o coração

Estimada Luísa,

Condizendo com as tardes sufocantes dos últimos dias, o ar pesado que se respira a nível político e social parece conduzir-nos para atitudes compreensíveis, mas que são irracionais quando demasiado condicionadas pela emoção. Para fugir ao calor sufocante anseia-se por um refúgio debaixo de uma sombra qualquer e esquecer o que à volta se passa; ou então, ainda mergulhando mais para dentro da agitação que mexe connosco, temos a consciência de que é preciso encarar o touro de frente para dominá-lo e não seja ele a dominar-nos.

Entendendo que é a segunda opção que temos de tomar, ainda assim concluo que eu faço parte dos muitos que não são atingidos diretamente pelas chicotadas da crise. Por isso o meu discurso terá sempre algo que não me proporciona tão profunda autoridade como a daqueles que sofrem no corpo as ditas chicotadas. Ainda ontem uma mãe partilhava comigo a situação bizarra (e que se repete cada vez mais) de estar privada de qualquer apoio público, porque tendo perdido o emprego ficou a receber o respetivo subsídio e, por causa deste perdeu o abono que recebia para filha menor de quatro anos; tendo perdido agora o subsídio de desemprego, fica sem esse e sem o abono da filha, restando-lhe todos os encargos normais: renda de casa, água, energia, alimentação e demais despesas correntes. Trata-se apenas de um exemplo entre muitos e cada vez mais numerosos que diariamente nos interpelam.

Perante situações destas talvez fosse muito útil fazer um exercício mental para nos colocarmos na pele dessas pessoas e tentar saber como é que elas entendem e sentem os discursos, os confrontos, os raciocínios e os arrazoados daqueles que falam da coisa pública e também das nossas vidas. 

Estamos perante um incêndio que ameaça chegar à nossa casa. Não basta discutir sobre os causadores; sem os ignorar, há que tentar fazer algo para o extinguir; em interação com os outros que sentem o mesmo, há que encontrar algum caminho, ainda que seja um pequeno atalho, para atacar as chamas. Trata-se de uma atitude de humildade que nos conduz a uma conversão da mente, que leva ao envolvimento do coração e ao nascimento da ação.

Olhamos para as figuras de proa, para as figuras públicas que cada dia falam da nossa vida. Também há que olhar para aquelas figuras discretas, desconhecidas, insignificantes, mas que levam consigo o que há de mais belo, de mais nobre, e também de mais sólido na humanidade: a honradez, a fidelidade à palavra que por vezes mal sabem articular, o esforço e a incansável dedicação à sua missão de cada dia, que pode não passar das pequenas e banais coisas do dia-a-dia. Estou a pensar nos meus amigos A. e C. que há dias visitei no bairro: as suas vidas são uma epopeia de pequenos passos, típicos de quem se vê forçado a deixar o seu país, a viver numa barraca, a tentar ganhar espaço na sociedade para si e para os filhos. Dizia-me ela: “Estamos numa grande crise; mas para nós é igual; sempre vivemos nela; ele sempre trabalhou como servente de pedreiro e eu nas coisas aonde se podia chegar: em casa, nas limpezas, na luta pela vida vendendo peixe ou continuando como hoje a vender os couratos que preparo à sombra de uma árvore. Mas quando era preciso trabalhar até às 3 horas da madrugada eu trabalhava, sabendo que tinha que me levantar como sempre às 6 horas. E os nossos filhos foram educados nisso”. (Por isso se compreende que eles já tenham concluído a formação universitária ou estejam perto de o conseguirem). 

Ultrapassando a partidarização e a mera ideologia, creio que temos de nos aproximar das pessoas atacadas pelo incêndio e juntos ir descobrindo os pequenos passos a dar para não sermos engolidos pela voracidade das chamas. Na hora da verdade só o verdadeiro nos libertará.

Que o Espírito que renova constantemente a face da Terra te acompanhe neste tempo de “férias”.

Fraternalmente,

Valentim

Luísa Alvim, cristã empenhada na paróquia católica de S. Victor, em Braga – os seus “diários” da catequese no Facebook constituem verdadeiras parábolas sobre o Amor Infinito –, é também membro do Metanoia – movimento de profissionais católicos. Técnica superior (área de Biblioteca e Documentação), na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão – atualmente a trabalhar na Casa de Camilo - Museu e Centro e Estudos –, diz-se uma “sonhadora do impossível”.

Valentim Gonçalves é pároco da comunidade católica de S. Pedro do Prior Velho, desde a sua constituição como paróquia, em Outubro de 1999. A população do Prior Velho (concelho de Loures) conhece este missionário do Verbo Divino, desde há duas décadas, quando começou a empenhar-se no serviço aos moradores da Quinta da Serra – bairro ilegal, constituído maioritariamente por imigrantes africanos. Membro da Comissão de Justiça e Paz dos Institutos Religiosos, assume também trabalho pastoral na antiga Quinta do Mocho (atual Terraços da Ponte, em Sacavém), igualmente habitado por uma população de imigrantes africanos.