Caríssimas e caríssimos,
na
semana passada, a Susana Monteiro deixou-nos “uma boa notícia”, o testemunho da
sua determinação em não se deixar vencer pela doença… A sua confiança na vida
revelou-se-nos como um farol de confiança vida.
Entretanto,
através da ENCRUCILLADA – revista galega de pensamento cristão (1), chegou mais um
testemunho de confiança absoluta na vida, de entrega total à Humanidade… Uma
mulher francesa, Geneviève Boyé, de 89 anos de idade, viveu desde 1952 com uma
tribo dos Tapirapé, índios brasileiros do Mato Grosso. Ali permaneceu até
morrer (24 de Setembro), apesar da congregação a que pertencia, as Irmãzinhas
de Jesus, terem desejado que ela se mudasse para uma das suas casas para,
naturalmente, a acolher com mais cuidados naquele momento da sua vida.
Companheira
do conhecido bispo espanhol Pedro Casaldáliga, (nomeado bispo de S. Félix de
Araguaia, no Mato Grosso, em 1968) na luta pelos direitos dos índios e de todos
os despojados das suas terras, Geneviève foi entre os Tapirapé uma “presença
silenciosa e frágil e nessa fragilidade está a sua fortaleza”, escreve Avelino
Muñoz, num texto introdutório a uma entrevista a Pedro Casaldáliga, na
ENCRUCILLADA, efetuada em Maio, 4 meses antes da morte de Geneviève.
Avelino
Muñoz quis conhecer algumas das pessoas que caminharam com o bispo Casaldáliga
“na busca de um estilo de vida libertadora”. E uma dessas pessoas foi Veva,
como era conhecida Geneviève Boyé entre os Tapirapé. O retrato que nos é dado
de Veva é uma parábola de gratuidade total, de “amor gratuito” como sublinha
Muñoz, a quem agradecemos o amável texto que reproduzimos (ver ANEXO).
Fraternalmente,
grão
de mostarda
VEVA, PARÁBOLA DE GRATUIDADE ABSOLUTA
“(…)
Outra mulher
extraordinária que admirou Pedro foi Veva (Geneviève Boyé), nascida em França,
89 anos, religiosa das irmãzinhas de Jesus de Carlos Foucauld. Depois de estar
dois anos em Argélia, muda-se para o Brasil em 1952 e vive, com outras duas
irmãzinhas, numa tribo dos Tapirapé no Mato Grosso. Uma delas enfermeira,
faleceu recentemente; outra, irmã Odile, é professora. Veva, a única com quem
nos encontramos, é reflexo da encarnação tornada presença, presença silenciosa
e frágil e nessa fragilidade está a sua força. Não ensina, aprende; não prega,
nem dá nada de material, simplesmente ama e esse amor gratuito é apoio e gera
consciência da sua dignidade nas pessoas mergulhadas em tribos decadentes. Ela
considera-os iguais, irmãos, filhos queridos do Pai Deus e da Mãe Terra.
Visitámo-la na sua
povoação índia, onde vive integrada numa das cabanas de barro com teto feito de
palmeira, uma cabana sempre aberta. Custa muito imaginar a mulher francesa que
foi na sua juventude. Do seu corpo restou o essencial: una braços sulcados
pelas veias e os tendões envolvidos numa pele engelhada, umas mãos grandes
calejadas e uns olhos vivos que enchem de luz um rosto doce e enrugado.
Tornou-se índia com os índios, veste como eles, fala o seu idioma e é mais uma
da tribo. A sua cabana não está vazia, entram crianças; vem tomar um chá, a
caminho da escola, Luiz, um professor colaborador na povoação; repousa uma
mulher doente que busca sossego na cabana das irmãs. Num recanto vemos uma
pequena capela com uma cruz e uma fotografia de Carlos de Foucauld; ali rezamos
juntos. Nesta choupana há muita PRESENÇA.
Neste momento Veva debate-se entre seguir os desejos da sua
comunidade religiosa, que deseja acolhe-la e cuidá-la na sua velhice, ou
permanecer com a sua família dos tiparapés, que a cuidam sempre que necessita, do
mesmo modo como ela o fez durante a sua longa vida. Quando Pedro chegou a esta
zona, Veva já vivia com a tribo índia há 16 anos. Parte do vigor do qual está
constituído Casaldáliga resulta, sem dúvida, desta mulher e da profunda
espiritualidade encarnada do fundador Carlos de Foucauld.”