ESCUTAR O AMOR…
Dois
seres humanos estão, nesta semana, sob a atenção do mundo inteiro. Nelson
Mandela e Francisco, o bispo de Roma.
A morte
do líder sul-africano, cujo funeral se realiza domingo, emocionou o mundo
inteiro. A sua atitude perante os responsáveis pelo apartheid, o caminho de
reconciliação que percorreu em cada momento, dentro e fora da prisão, ficará
gravado no coração de todas e de todos os que desejam uma Terra mais amável para
cada ser humano. A nomeação feita pela TIME, conhecida ontem, do Papa Francisco
como figura do ano significa o reconhecimento da sua nova maneira de exercer a
comunhão universal entre os católicos e a sua abertura, não apenas aos crentes
de outras confissões, mas também a todas as mulheres e homens de boa vontade.
Quando,
em 1964, Nelson Mandela foi condenado a prisão perpétua com mais 156 membros do
ANC, em pleno tribunal declarou: “Desejei o ideal de uma sociedade livre e
democrática, na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com igualdade de
oportunidades. Espero poder viver para defender e alcançar este ideal. Mas se
for necessário, é uma aspiração pela qual também estou disposto a morrer”.
Esta
sociedade fraterna e reconciliada foi ele que a construiu, a partir de 1990,
depois de ser libertado e se tornar Presidente da África do Sul. Ao Delegado da
Cruz Vermelha para a África, Jacques Moreillon, que o visitou seis vezes na
prisão de Robben Island, disse um dia: “O ódio não serve para nada. É um sentimento
de autodestruição, porque apenas magoa e fere aquele que odeia e não aquele que
é odiado” (*). As palavras dirigidas aos juízes e as que confidenciou na sua
cela a Moreillon já revelavam o ser humano que, sem ressentimentos, entregou
toda a sua vida à construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Um
apelo genuíno à fraternidade universal é precisamente o tema escolhido pelo
bispo de Roma para a sua mensagem para o Dia Mundial da Paz (1 janeiro de
2014).
“(…) no
coração de cada homem e mulher, habita o anseio duma vida plena que contém uma
aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em
quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e
abraçar.” Estas palavras iniciais da mensagem constituem um apelo: só faz
sentido o ser humano viver de acordo com um plano de harmonia fraterna que,
conforme o Papa Francisco enuncia ao longo do seu texto, deverá ser integrado
em todos os sectores da convivência social – a política, a economia, a busca da
paz, a perseveração da natureza, a rejeição da corrupção e a eliminação da
pobreza…
“Há
necessidade que a fraternidade seja descoberta, amada, experimentada, anunciada
e testemunhada”, propõe Francisco, como convite a uma mudança de coração que
possibilitará um novo modelo de vida pessoal; será sempre impossível uma
reconversão das estruturas políticas e sociais enquanto, cada um e cada uma de
nós não estiver convicto da urgência de uma Humanidade mais humanizada. E esta
decisão, sublinha o bispo de Roma, “implica tecer um relacionamento fraterno,
caracterizado pela reciprocidade, o perdão, o dom total de si mesmo.” A
concretização deste projeto pode ser alimentado no exemplo de vida comprometida
de Nelson Mandela com a defesa da dignidade humana.
(*) ver
semanário EXPRESSO do passado dia 7 Dezembro.
grão de mostarda
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