Caríssimas e caríssimos,
Por que razão estamos no
mundo? “A nossa missão consiste em, durante a nossa vida, tornar este mundo,
através da nossa pessoa, um pouco mais brilhante, caloroso e humano.” Anselm
Grün, monge beneditino alemão, na abordagem que faz, no conjunto de textos
sobre o sentido da vida e a questão da morte, dá-nos esta resposta que poderá
parecer-nos demasiado simplista… (*).
Na reflexão desta
semana, Paula Guerreiro coloca-nos precisamente diante desta interrogação ao
partilhar a experiência que recentemente fez entre os corredores de um
hospital, a propósito do internamento urgente de um familiar que acabou por
falecer. Diante do que observou, e viveu, Paula Guerreiro sugere,
esperançosamente, que os profissionais de Saúde “coloquem a inteligência ao
serviço do coração e adotem medidas adequadas para que o doente venha a ter
toda a dignidade no seu tratamento, na sua higiene, no seu conforto, na sua
recuperação, no seu descanso...”.
Diante da fragilidade
humana – e a maior, senão mesmo a mais perceptível, é quando a doença nos
coloca na dependência dos outros seres humanos – é desejável que a missão maior
da Saúde, do sistema que a estrutura, seja tornar a vida um pouco mais
“calorosa”, como propõe Anselm Grün.
(*) “O livro das
respostas”, Paulinas, 2008.
Fraternalmente,
grão de mostarda
CUIDAR A VIDA…
A esperança de vida é cada vez maior e por isso é
natural que vivamos mais tempo. Com o passar da idade é normal que os problemas
de saúde nos visitem mais vezes e com maior frequência. As doenças aparecem e
devemos tratar-nos. Recorremos ao hospital e constatamos que somos muitos.
Verificamos que somos mais um doente internado nas urgências, no meio de outros
tantos doentes, que aguarda para ser atendido por um profissional de saúde.
Não há médicos suficientes, não há enfermeiros suficientes e
não há auxiliares suficientes. Será que é difícil olhar e ver que há uma enorme
descompensação? Muitos doentes – cada vez mais idosos, débeis, frágeis,
vulneráveis, incapacitados – a necessitar de cuidados prementes e poucos
profissionais de saúde… Não será a situação das urgências caótica o ano todo e
não apenas nos chamados “picos de gripe”? O doente está indefeso e fraco, a
família sente-se impotente para ajudar. A doença que já “roubou” a dignidade à
pessoa, alimenta-se das faltas de condições hospitalares. Expande-se e leva a
dela a avante…
Há poucos dias perdi um familiar que me era muito querido. Um
problema de saúde fê-lo recorrer às urgências de um hospital central.
Diagnosticaram-lhe uma infeção renal e administraram-lhe tratamento
adequado. Como não havia cama nas enfermarias teve que se manter nas urgências
por mais alguns dias. Estava a recuperar e a reagir bem ao tratamento até
apanhar uma infeção respiratória que lhe foi fatal. É muito triste e dói:
a pessoa morre, não do problema que a levou a recorrer à urgência mas de um
outro que apanhou lá no próprio hospital. Acabei por tomar conhecimento que era
mais um caso no meio de tantos outros semelhantes. O que deveria ser uma
situação de exceção está a acontecer regularmente.
A minha intenção não é atemorizar. Apenas pretendo alertar,
para que situações destas voltem a acontecer, como se nada se tivesse passado!
O doente tem o direito a ser internado nas condições de higiene e saúde
adequadas. Assim como o médico, o enfermeiro e o auxiliar deveriam ter tempo
suficiente para tratar o doente com maior proximidade.
Quero acreditar que temos bons hospitais. Quero acreditar que
temos bons profissionais de Saúde. Tenho a esperança que os responsáveis por
esta matéria coloquem a inteligência ao serviço do coração e adotem medidas
adequadas para que o doente venha a ter toda a dignidade no seu tratamento, na
sua higiene, no seu conforto, na sua recuperação, no seu descanso... E caso
nada puder ser feito para evitar a morte, que seja em paz, com dignidade e
rodeado de atenção e amor. Porque, tem de ser possível!
Paula Guerreiro
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