RE-COMEÇAR... viver na confiança e ser fermento
Caríssimas e caríssimos,
no passado sábado fomos
arrebatados pelas palavras de Henri Teissier, o ex-bispo (católico) de Argel,
numa entrevista ao jornal PÚBLICO (1), na qual se recorda o assassinato de sete
monges cistercienses do mosteiro de Tibhrine, na Argélia, em Março de 1996.
Quando dois anos depois voltou a Tibhrine para auscultar o chefe da aldeia
sobre a possibilidade de um grupo de monges poder regressar ao mosteiro, Henri
Teisser ouviu da população estas palavras: “O perigo está aí; se estiverem cá
[os monges], viveremos com esperança; se não estiverem, viveremos sem
esperança”.
Como o ex-bispo de Argel
sublinhou, a permanência deste sentimento por parte da população da aldeia de
Tibhrine só foi possível pela “relação de confiança, de colaboração, de serviço
recíproco” que os monges haviam cultivado com os seus vizinhos muçulmanos...
Foi a partir de uma atitude de confiança mútua – bem visível no filme Dos
Homens e dos Deuses, realizado a propósito daquele trágico acontecimento –
que aquela população indefesa, perante o conflito que então opunha milícias
islâmicas ao Estado argelino, foi fortalecendo um sentimento de esperança.
Viver com esperança... Não
a partir de uma ilusão, de um qualquer pressuposto alheio à vida concreta, aos
anseios e às lutas diárias. Os monges de Tibhrine, que partilhavam o quotidiano
com a população daquela aldeia, cultivado através de uma sincera amizade,
revelaram ser possível transfigurar um ambiente de ansiedade e de medo numa
atitude de ânimo, de esperança. Foi a partir da decisão de partilhar, na
totalidade, a condição daquelas pessoas que os levou a cavar fundo uma
solidariedade que ainda hoje perdura...
Viver com esperança... É com este
apelo a queimar os corações que convosco retomamos o diálogo fraterno,
recuperando assim a proposta de uma esperança atuante, expressa nas cartas de
Luísa Alvim e de Valentim Gonçalves “De que mundo somos?” e nas reflexões
semanais “Escutar a vida”, escritas por Adérito Marcos, Olga Dias e Paulo
França, e publicadas nos últimos doze meses no mural do grão de mostarda.
Neste nosso tempo, na situação
concreta que nos é dada viver, o que a urgência dos mais frágeis nos solicita é
a criação de redes diversas, geradoras de uma confiança capaz de transformar o
desejo em realização e a espera em esperança.
Sabemos que nada é imediato nas
verdadeiras decisões humanas. É sempre necessário correr riscos, ser fermento,
enquanto a nossa vida, pouco a pouco, se vai convertendo em caminho de
confiança e em lugar de esperança. Foi por este itinerário que os monges de
Tibhrine conduziram o seu modo de viver junto daquela população, não se
deixando paralisar pelo desânimo... Este é, também, o caminho por onde se
deseja conduzir as reflexões do grão de mostarda, reconhecendo
com o irmão Roger que “a vida não é uma sujeição aos acasos de uma fatalidade”
e que mesmo com poucos meios é possível ser-se “fermento de confiança”.
Com estima fraterna,
grão de mostarda
Entrevista realizada a propósito da edição portuguesa do
livro “Christophe Lebreton – Monge, Mártir e Mestre Espiritual para os
Nossos Dias”, do bispo Henri Teissier, escrito com base no diário de um dos
sete monges assassinados.
grão
de mostarda
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