segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

ESPERANÇA: CAMINHO E HORIZONTE



Caríssimas e caríssimos, 


No seu livro “Esperanza a pesar del mal – la resurrección como horizonte” (1), o teólogo católico Andrés Torres Queiruga, propõe-nos: “… a esperança não pode permanecer em constatação estática, mas sim há que converter-se necessariamente em movimento extático, enquanto tarefa que, mobilizando presente, abre ao futuro e coloca em jogo a própria vida.”


É precisamente para esta decisão que aponta a reflexão de Luísa Alvim: cultivar a Esperança nos nossos corações tem de ser tornar VIDA: abandonando o “nosso casulo”, recusando viver “em estado vegetativo”, perante “os que nos cercam”, para que SEJAMOS. E assim, a partir de do mais profundo do no SER, concretizaremos um “destino eterno” ao tempo presente, como evoca Luísa Alvim.


Com estima fraterna,

grão de mostarda

-esta CARTA de Luísa Alvim foi escrita no passado dia 3. Pedimos desculpa a todas e a todos vocês, e também à Luísa Alvim, por só agora ter sido possível enviá-la. 




Do tempo ETERNO da Esperança


Viva caríssimo Valentim!



Na última carta (*), referias que a única coisa que nos é pedida é que sejamos. 


Sejamos plataformas de estabilidade para os outros, se tivermos o dom da firmeza e do equilíbrio nas nossas posses; sejamos inadequados na sociedade para fazermos frente às contrariedades, com imaginação e confiança.


É necessário sair do nosso casulo, do conforto da nossa paróquia, do bem-estar da família e reconhecer os que nos transcendem. Contemplar os que estão à nossa volta e sustentá-los também naquilo em que esperamos. 


Se temos o dom da invencibilidade da esperança, suportada no Amor, temos que ser isso para os que nos cercam. Não podemos estar em estado vegetativo, mas sim em estado acordado, prontos a superar conflitos, a resolver desordens. Olhar de frente a via-férrea de Auschwitz-Birkenau do mundo de hoje, mesmo que para alguns continuem a existir viagens sem solução. 


Temos a tendência de por vezes nos desviarmos dos problemas, de achar que as dificuldades dos outros são impossíveis de serem ultrapassadas, esquecendo que no presente há já a eternidade, e no escuro da vida há um desejo de amor. É forçoso trazer um destino eterno ao tempo.


Sejamos contribuintes na comunidade, simplesmente com o que somos. Não temos ouro nem prata, mas podemos ter um qualquer dom gratuito que possamos consagrar ao serviço dos outros. 


Na sociedade contemporânea perdeu-se em parte o sentido de comunidade e o desumano anonimato prevalece. Luto contra isto todos os dias na tentativa de estabelecer laços com objetivos sem porquê, sem intuitos limitados, e que se não tire “proveito” deles.



A humanidade que nos cerca não é nossa inimiga, é necessário antever um coletivo solidário. A aproximação de alguém doente ou frágil não nos pode levar ao desviar do olhar só porque sabemos que há uma organização religiosa ou um estado social que tratará de lhe dar um apoio e uma ajuda.

Sejamos empreendedores solidários e ajudemos a construir a esperança dos outros.

Abraço fraterno,


Luísa Alvim, que acredita na esperança em movimento.

3 fevereiro 2013



(1) Editorial SAL TERRAE, Santander (Espanha), 2005


(*) Publicada a 18 Janeiro 2013



Ilustração: “Pentecostes”, irmão Eric, na igreja da Reconciliação, em Taizé

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