domingo, 7 de abril de 2013

ESPERANÇA: CAMINHO E HORIZONTE



Caríssimas e caríssimos,

em “tempo de Páscoa”, a carta de Valentim Gonçalves remete-nos para uma “esperança renovada”, nos sinais dados pelo novo bispo de Roma. Em jeito de síntese, anota: “O Papa que foi ‘buscado no fim do mundo’ aponta para uma geografia muito mais ampla, já não eurocêntrica e, pela sua prática pastoral anterior, dá a entender que o escândalo da desumanidade não nos pode impedir de sonhar com a eternidade que é construída já a partir do aqui e agora.” (ver ANEXO)



As expectativas de renovação que a escolha do papa Francisco desencadeou entre os cristãos católico-romanos não são, certamente, indiferentes aos outros cristãos de outras Tradições. O seguimento do projeto de Jesus, realizado na caminhada ecuménica, recorda-nos que “a Igreja somos todos. E, portanto, de todos depende a tão esperada e ansiada renovação”, como sublinhou José María Castillo no seu blogue Teología sin censura (*), precisamente a propósito das esperanças de renovação que a eleição do ex-arcebispo de Buenos Aires criou na Igreja Católica e no mundo.



Com estima fraterna,
grão de mostarda


NOVAS PISTAS PARA O REINO 




Estimada Luísa,




Estamos todos debaixo da pesada nuvem da crise que parece barrar a possibilidade de uma vida alegre e confiante. O desafio a sermos, como escreves, “plataformas de estabilidade” para os outros não nos permite desistir nem deixar de “acreditar na humanidade”. E a fé em que nos apoiamos provoca a esperança enquanto nos lança na caminhada fraterna com quem o Senhor coloca no nosso caminho. E há sempre sinais dessa esperança renovada. As últimas semanas apresentam-nos alguns no que se refere ao novo Papa. Essas forneceram-nos uma série de emoções e expetativas, por variadas razões: umas sérias, outras irrelevantes, algumas a raiar o folhetim descontraído e alienante. Felizmente, para além de tudo isso, a Igreja tem um Papa que não estava alinhado nos palpites nem nas apostas: o Papa Francisco, o irmão que tem por missão “confirmar os seus irmãos na fé”. Isso é que é importante e aí se encontra a essência da sua missão. 


Sem fazer futurologia, reconhecemos, no entanto, alguns sinais que apontam para o núcleo da missão da Igreja no seu contexto, que é o mundo todo, incluindo aquilo que ele tem referido no seu discurso – o ambiente. Começa a surgir um novo desenho da geografia da Igreja e da sua missão de levar a vida abundante a todos, no seguimento do Mestre que veio “para que todos tenham a vida e a vida em abundância”. 


Essa “vida” que se não limita à dimensão do “depois da morte”, mas que começa no aqui e agora, onde cada pessoa “criada à imagem e semelhança de Deus” tem de ser acolhida e respeitada na sua dignidade; essa vida que continua a ser violada grosseiramente pelos valores assumidos e pelas práticas adotadas pelos poderosos, que vão conduzindo este mundo para a desigualdade e para a negação da liberdade efetiva: no coração dos seus valores está o lucro, o imediato, o interesse pessoal, sem olhar para a pessoa e sem considerações de corresponsabilidade e muito menos de fraternidade. Por isso os pequenos gestos e sinais do Papa parecem apontar para a genuína missão da Igreja, onde “o verdadeiro poder é o serviço” e onde a “pobreza evangélica” nada tem a ver com a pobreza crescente e escandalosa que vai ganhando foros de cidadania, perante um aparente silêncio e resignação dos que acreditam; aceitando-a está-se assumindo e consolidando a mentira e dando poder àquele que é o “Mentiroso” por excelência. Por isso a evangelização não se poderá realizar sem essa luta contra a pobreza, que é uma mentira que nega a fé; não a pobreza das estatísticas, mas sim a pobreza das vidas espezinhadas, envergonhadas, humilhadas e sem esperança; também a pobreza de vidas vazias, confinadas ao imediato e ao que agrada; a pobreza que vamos notando cada vez mais à nossa volta, apesar de contextualizados numa Europa que redigiu declarações de direitos, que criou uma Comunidade Europeia e a seguir uma União Europeia; criou-a para uma realidade baseada na justiça e na solidariedade, mas que agora, por outros valores assumidos como essenciais, é incapaz de ver a humilhação e a falta de meios para que as pessoas possam ser livres, uma vez que, para terem um pouco de pão, se vêm obrigadas à esmola daqueles que lhe dizem o que são, o que devem fazer e mais nada. Uma obra de domesticação perfeita, imitando bem aquilo que o homem inteligente conseguiu fazer com os animais que hoje chama domésticos. 



O Papa que foi “buscado no fim do mundo” aponta para uma geografia muito mais ampla, já não eurocêntrica e, pela sua prática pastoral anterior, dá a entender que o escândalo da desumanidade não nos pode impedir de sonhar com a eternidade que é construída já a partir do aqui e agora. A ressurreição de Jesus é o paradigma da nova criatura e do mundo novo em que precisamos de acreditar para assim encontrarmos a alegria de viver e de caminhar com os outros num mundo que é a nossa casa, a casa de todos.


Uma Páscoa abençoada!



Valentim


Sem comentários:

Enviar um comentário