quarta-feira, 24 de abril de 2013

ESPERANÇA: CAMINHO E HORIZONTE



Caríssimas e caríssimos,

Luísa Alvim coloca um desafio: “Não deixemos as redes solidárias fraternas sem continuação.” Um desafio que toma conta dos nossos corações como estrela da manhã, para que vivamos despertos diante dos que não vivem “na alegria verdadeira” nem numa “vida liberta”. Porque, como anota, não podemos esquecer que “a resposta coletiva” que cada uma e cada um tem que dar em sociedade “é tal-qualmente importante como o gesto individual” (ver ANEXO).

Fraternalmente,
grão de mostarda

Viva caríssimo Valentim!



Em tempo de Páscoa, respondo à tua carta (*) que sonha a ressurreição hoje, assim como à carta anterior do grão de mostarda (**), que nos lembra que o horizonte é sempre a ressurreição de Jesus: à pergunta sobre o caminho de vida nova que devemos percorrer como cristãos, o teólogo Andrés Torres Queiruga responde lembrando que o Reino de Deus já cá está e a técnica para ressuscitar é ser fiel à terra, à confiança no Amor, à construção solidária no presente reverenciando o próximo e operando infatigavelmente em serviço da humanidade.


Falas de novas pistas para o Reino, recordando a eleição de um Papa que nos surpreende pelas graças renovadas que coloca na Igreja e nos abraços que dá aos irmãos de fronteira. Recorda-nos que o centro é Jesus, escapulido de dogmas, latinidades e doutrinas. Muito naturalmente, nasce-nos outro ânimo a umas tristezas que nos assombravam. 


Temos que continuar a trabalhar no desconcerto da urbanidade, na luta contra valores escandalosos e como dizes, a contrariar a “domesticação” dos seres humanos, a ajuda ao que precisa disfarçada de esmola. Li há uns meses, no Público, que se formara um grupo de investigadores sociais, ligados a universidades, para determinar o valor mínimo para se viver com dignidade em Portugal. Com um método de trabalho muito válido do ponto de vista científico, pretendem chegar a um orçamento económico consensual, determinar valores de pensões e do Rendimento Social de Inserção e de outros subsídios. Interrogo-me se este é o verdadeiro caminho que desejamos para os nossos irmãos mais desprotegidos. 


Não acredito em critérios económicos, nem em caridades para libertar a vida e estabelecer o valor da dignidade de cada um de nós. É uma tarefa complexa o que nos espera como cristãos, na bioconstrução e na educação, no estender da mão de forma perfeita à luz pascal.


Perante o olhar de paz dos que rezam e o dia-a-dia dos que têm a missão espiritual de se tornarem próximos dos outros, resta-me a consolação de fazer alguns centímetros do caminho com os que me cercam, elevando-os na alegria verdadeira e no restabelecimento de uma vida liberta. Sinto que é muito pouco, mas é o meu possível. Não esquecendo que a resposta coletiva que tenho que dar em sociedade é tal-qualmente importante como o gesto individual. Os direitos do Homem estão em permanente evolução e têm que ser acompanhados por exigentes garantias de direitos económicos e sociais que os sistemas políticos tentaram implementar ao longo dos séculos. Mas o impacto negativo das más políticas, e a crise atual, desfiguram este compromisso e responsabilidade coletiva a que todos fomos chamados também. 


Os direitos divinos progridem mais devagar do que os humanos. E é nosso dever, enquanto cidadãos cristocêntricos colaborar em grupos, associações e organizações para a construção organizada de bem-estar social, na luta contra a pobreza, contra todas as discriminações e na construção da justiça social.

Às vezes esta construção pode ter a forma de uma carta! Revivo a carta aberta a Belmiro de Azevedo de 23 de março 2013 (1), iniciativa do grão de mostarda, a quem se uniram outras vozes. Uma carta que se levantou contra declarações públicas do empresário que colocou em causa Direitos Humanos e o próprio Pacto Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais (ONU) que Portugal assinou e entrará em vigor em maio. 


Outras vezes é uma participação numa manifestação, outras vezes é um ato privado de reabilitação de alguém próximo que vive em crise. Não deixemos as redes solidárias fraternas sem continuação. Façamos demasias e excessos neste exceder-se na melhoria da dignidade do próximo, mesmo que as métricas nos apontem só algumas polegadas andadas para a excelência pascal. 


Abraço fraterno,



Luísa Alvim, que acredita na invencibilidade da esperança garantida pelo Amor.



(*) Publicada a 7 de Abril

(**) Publicada a 17 de Março



Sem comentários:

Enviar um comentário