Caríssimas
e caríssimos,
será possível avaliar “situações de injustiça” oferecendo “a nossa
protecção aos que estão vulneráveis” e assim identificar “as formas modernas de
escravatura”?, interrogava-se o irmão Aloïs, de Taizé, no Encontro
Europeu do ano passado, em Praga, numa
das suas «Quatro propostas para ‘ser sal da terra’» (*).
Um médico da República
Democrática do Congo acreditou, desde muito novo, que sim: só uma nova atitude
é possível perante os mais vulneráveis. E foi a sua “extraordinária acção
humanitária” que, em Julho, o levou a Lisboa para receber o Prémio Calouste
Gulbenkian 2015. Antes, Denis Mukwege já fora distinguido com o
Prémio dos Direitos Humanos das Nações Unidas de 2008, o Prémio Olof Palme
pelos resultados excepcionais na promoção da paz, o título de “Cidadão do
mundo” da Fundação Carter, e, no ano passado, o Prémio Sakharov.
No decorrer da primeira guerra
civil no seu país, em 1996, Denis Mukwege viu o hospital que fundara destruído
pela violência gerada pelas diferentes facções étnico-políticas… Não se
resignou: “Não se pode desistir, não se pode deixar de fazer alguma coisa”. Foi
esta convicção que, em 1999, fundou o Hospital Panzi, destinado
fundamentalmente a assistir mulheres e crianças vítimas de violação… (**).
O luminoso exemplo de
fraternidade daquele médico, tornou presente nos nossos corações o final da
“Carta em busca” deste ano: “Somente de uma
amabilidade comprometida poderá nascer um ‘tempo de paz’, de uma
genuína hospitalidade e de uma gratuidade total.”
Fraternalmente,
comunidade grão de mostarda
(**) ler na íntegra: http://www.publico.pt/mundo/noticia/medico-que-tratou-21-mil-mulheres-vitimas-de-violacao-recebe-premio-gulbenkian-1702265?
LUMINOSO GESTO
DE FRATERNIDADE
20 mil é um número excepcional… Denis Mukwege já
cuidou e curou mais de mil e duzentas mulheres e meninas por ano, desde 1999
até agora. E como muitas delas não podem regressar às famílias ou às próprias
aldeias, devido às mais diferentes rejeições a que são sujeitas, criou um
conjunto de apoios e serviços, como casas-abrigo e formação profissional, para
lhes proporcionar integração social.
“A
violência sexual nunca foi levada verdadeiramente a sério. Quando armas
químicas são usadas num conflito considera-se que uma linha vermelha foi
ultrapassada. Onde está a linha vermelha na violência sexual?”. A esta questão
do médico congolês ainda não corresponderam as instâncias internacionais de
Direitos Humanos, incluindo a ONU.
A
“linha vermelha” ultrapassa-a ele em cada dia, Hospital de Panzi (*), a
instituição que fundou e onde chega a atender meninas vítimas de abuso sexual
com menos de cinco anos…
Não deixar que o mal tome conta da própria
vontade interior; não permitir que a vida se paute pelo “deixar passar”
exige-nos iniciar um percurso irreversível, uma consciência profunda “de que o
que pode paralisar o ser humano é o cepticismo ou o desânimo” (1).
É a partir deste olhar do coração que nos
tornamos “artesãos de paz, mulheres e homens de compaixão” (2). E assim
descobriremos, como Denis Mukwege, que de decisões de amabilidade comprometida
nascem gestos luminosos de fraternidade, capazes de uma mais eficaz denúncia
das novas injustiças.
comunidade
grão de mostarda
(1) Irmão Roger
de Taizé, “Viver para amar – Palavras escolhidas”, Paulinas, 2010
(2) Da reflexão do irmão
Aloïs, prior da Comunidade de Taizé, na oração da noite de 14 Julho de 201
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