Caríssimas e caríssimos,
que significa ESCUTAR A VIDA em
todo o tempo e lugar?
Entre o caos e o sofrimento dos
“habitantes” da estação
ferroviária de Komlaphur (Bangladesh) a comunidade de Taizé vem sendo sinal de
transformação, assim como a Natureza, neste mês, nos remete para um processo de
mudança…
Fraternalmente,
comunidade grão de mostarda
Quando Outubro tudo renova…
Em
Outubro toda a Natureza inicia um processo de mudança… Deixamos de escutar o
cantar de algumas aves migratórias, as folhas de algumas árvores ganham
tonalidades extasiantes, para logo iniciarem a sua queda, e o céu apresenta-se
mais denso, com nuvens que, pouco a pouco, vão regando terras e preenchendo
leitos de rios.
É assim todo o ano, em cada
momento de viragem, em cada estação do ano. Todavia, este mês sentimo-lo como
um tempo de aprofundamento de toda a Vida, recordando-nos a urgência de uma
transformação despojada, para que seja possível o renascimento…
Também nesta altura do ano, com
a aproximação do Inverno, o ambiente na estação ferroviária de Komlaphur,
em Dacca, capital do Bangladesh, começa a alterar-se. As chuvas perturbarão o
viver de um sem-número de empobrecidos que habitam naquele que é o maior
terminal de comboios do Bangladesh. E foi precisamente naquele
espaço, que uma multidão de casais, crianças abandonadas e idosos adoptou
como sua casa, que aconteceu o inesperado: Yann, um palhaço francês,
proporcionou-lhes cerca de uma hora de diversão…
“Ele demonstrou muito respeito
por todos aqueles que participaram no encontro”, escreve Fiona, uma inglesa
voluntária nas actividades semanais que os irmãos de Taizé mantêm junto com
aquelas pessoas, sublinhando que Yann “convidou muitas crianças” a participarem
em alguns dos seus números.
Ao
chegar a Komlaphur, Fiona descreve “as primeiras impressões” como
sendo tudo “caótico, mas à medida que decidimos parar e observar, há uma tomada
de consciência de que há muitos que estão a cozinhar, sentados, a dar de comer
a bebés, a apreciar uma chávena de chá e ainda nos oferecem um pedaço do seu
pão ganho de forma árdua...” E foi precisamente a oferta de um pedaço de pão,
feita por um jovem, que “roubo o coração” daquela voluntária, que nos descreve
assim quem ali vive: jovens, idosos, órfãos, prostitutas e portadores de
deficiência. E todas estas pessoas “revelam imensa coragem”, conclui Fiona que
recorda a presença dos irmãos de Taizé, através da memória do irmão Frank,
falecido em Janeiro do ano passado, e que fundou em 1974 a primeira
fraternidade no Bangladesh.
“Descobrimos que
os que são rejeitados pela sociedade por causa da sua fraqueza e da sua
aparente inutilidade são uma presença de Deus. Se os acolhermos, eles
conduzem-nos progressivamente de um mundo de hipercompetição para um mundo de
comunhão de corações.” Nas palavras com que o irmão Frank identificou aqueles
desprezados, conseguimos intuir os processos de mudança acontecidos ao longo de
tantos anos.
E é precisamente a partir de um incidente
durante a exibição de Yann que se poderá compreender um renascer da dignidade
dos moradores naquela estação ferroviária, conforme descreve a Fiona: “Quando a polícia chegou para separar a aglomeração, Yann
conseguiu colocar-se ao lado da audiência e, com o seu humor, persuadir a
polícia e permitir que ele continuasse o espetáculo mais 10 minutos.” Mas não
foi tudo bem assim, porque nesta estação também tudo se renova, revela a
voluntária inglesa: tudo continuou pacificamente, “mesmo indo contra os desejos
das autoridades, que raramente respeitam as crianças, ou às suas atividades.
Foram 45 minutos de diversão!”
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