Caríssimas
e caríssimos,
poderá
reflectir-se sobre a coexistência pacífica dos povos, através do olhar sobre a
História de uma cidade?
Ricardo
Brochado presenteia-nos com um texto que nos remete às recentes acções de
terror em Paris e Bruxelas. Mas teremos de acautelar o nosso espírito. Esta
reflexão, tão despretensiosa como feliz, porque não pretende ser um tratado
sociológico, aponta para o essencial: onde a pluralidade habita é mais fácil
coexistirem as diferenças… quer sejam políticas, artísticas, sociais,
urbanísticas, culturais ou mesmo religiosas.
Fraternalmente,
grão de mostarda
DA PLURALIDADE À COEXISTÊNCIA…
TODOS OS DIAS
ME INTERROGO por
que razão é que o Porto é especial. Faz parte do meu trabalho tentar entender
este mistério para poder transmitir de uma forma eficaz a minha paixão por esta
cidade. O Porto é rico em arquitecturas, artes e gastronomias; em cores escuras
e coloridas que nos tornam cinzentos em comparação com cidades mais a sul.
Somos charmosos dentro da rudeza granítica que nos envolve, e disfarçamos com o
excesso de azulejos a sensibilidade que nos aproxima do resto dos seres
humanos, das culturas, das religiões, de nós.
Embora se diga que os muçulmanos ocuparam o
Porto no passado, é falso e temos pena. Seríamos culturalmente mais evoluídos,
se tivéssemos tido uma influência mais activa desses "mouros", como
de brincadeira apelidamos todos os habitantes além-Douro. No entanto, fomos
muito influenciados por comerciantes judeus, por ingleses protestantes, por
franceses liberais, por "loucos" (leia-se esclarecidos) imperadores
brasileiros e por escritores romântico/realistas que continuaram a promover um
espírito pelo qual nos diferencia do resto do País.
Não quero com isto dizer que no Porto somos
melhores que o resto de Portugal. Cada qual tem as suas qualidades, as quais
gosto de apreciar, saindo do Porto. O que quero dizer é que, até hoje, temos
uma regra, que embora não esteja escrita, está no ADN de quem cá vive, e entra
na corrente sanguínea de quem cá se instala por opção: devemos integrar e
integrar-nos.
A HOSPITALIDADE PORTUENSE é como um vírus que
se propaga facilmente e, se sabemos receber bem, quem se integra, passa a agir
como quem o recebeu de braços abertos. A História diz-nos que não interessa a
religião, a nacionalidade, a cor, o clube, o partido político, a orientação
sexual - se nos ajudarem a ser maiores e melhores não interessa nada.
A título de exemplo, muitos judeus foram
protegidos da Inquisição (escondidos à vista); os franceses, que nos invadiram
3 vezes, receberam o nosso apoio incondicional na Primeira Guerra Mundial.
Somos considerados uma cidade Gay-friendly, enquanto os partidos políticos
apoiam a recandidatura do independente Rui Moreira.
No Porto não existe “Chinatown”, bairros
africanos, ou indianos. Mas numa mesma rua, há uma igreja cristã, uma sinagoga
e o colégio Alemão, que já coexistiam no decurso da Segunda Guerra Mundial.
Pensei, esta semana, como seria se houvesse
um atentado no Porto...
E continuei a pensar, concluindo que há
extremismos deste tipo onde não há hospitalidade, integração; onde as pessoas
são postas de parte, olhadas de lado ou colocadas em ghettos. Acontece porque
não entendemos a diferença de opiniões, crenças, opções.
…Fico mais descansado.
Ricardo
Brochado
Foto: www.vortexmag.net
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