quinta-feira, 3 de novembro de 2011

ESCUTAR A VIDA

Caríssimas e caríssimos,

palavras escritas com o coração, a partir das interrogações e da esperança que o momento actual na sociedade portuguesa lhe coloca, é o que Olga Dias nos deixa nesta reflexão. Desta situação de “mal necessário” saberemos repensar a vida para iniciarmos uma cultura de solidariedade, comportamentos novos no uso dos nossos bens?
Com estima fraterna,

grão de mostarda

Repensar a vida...

Considero-me uma pessoa bastante positiva, no entanto com a conjuntura actual estou mais apreensiva.
À minha volta o que ouço é muito pouco favorável. As pessoas estão a enfrentar problemas graves. 

Em conversa com uma amiga que é técnica de serviço social, o cenário transmitido sobre a realidade dos mais pobres é alarmante. Uns já roubam no supermercado para dar de comer aos filhos, outros passam cheques sem cobertura para poderem comer, na esperança que a lentidão da Justiça portuguesa os esqueça, o que no caso das pessoas mais pobres não acontece, como é óbvio. O Banco Alimentar Contra a Fome já não chega para atender tantos pedidos, havendo listas de espera enormes.

Aquela minha amiga diz que já não consegue desligar, que não dorme... O certo é que eu depois desta conversa também não nunca mais consegui deixar de pensar nisto tudo, desligar. A sua angústia e a minha foram como chegar a estas pessoas, como ajudá-las, como esclarecê-las. A conclusão foi que temos de estar no terreno. Ir de porta em porta, falar, conversar com as pessoas. E isto tem de ser feito de forma voluntária. É importante começar por algum lado, mas o mais difícil é sermos nós, conscientes disto, a darmos o passo, a sairmos da nossa zona de conforto. Cada vez mais temos que nos consciencializar da urgência em ajudar os outros, de que há pessoas em dificuldades.

Uma das grandes lições desta situação económica é que temos mesmo de repensar o modelo de vida segundo o qual estamos a viver. O actual modelo de vida já não é mais sustentável a todos os níveis: ambiental, económico e principalmente de valores. Questiono-me frequentemente no meu desperdício. Questiono-me sempre se preciso disto ou daquilo. O que posso fazer para reduzir? Será que alguém precisa daquilo que tenho a mais?

Penso que esta conjuntura não é mais que um “mal necessário”. Está a obrigar-nos a pensar, a reflectir, a sair de nós e a apelar à simplicidade. Tenho esperança, tenho muita esperança de que estamos a entrar em caos para surgir uma nova ordem... E acredito que seja uma ordem mais justa, de mais amor, de mudança de corações e de mais equilíbrio na distribuição e equilíbrio dos recursos da Terra.

Olga Dias

(membro do Projeto CONFIANÇA, grupo de solidariedade)

Foto: © EPA

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