Caríssimas e caríssimos,
Adérito Marcos recupera, nesta semana, uma experiência “muito enriquecedora" no contacto que foi tendo com diferentes Tradições cristãs (ver ANEXO). E como razão maior aponta: “(…) pude constatar que em todas a formas de viver o projecto de vida de Jesus, mesmo com as suas diferenças, o fundamental mantém-se, se suportado numa abertura sincera de coração na busca do Deus Paizinho”. Ou seja, na busca do Deus Amor (João 4, 8.16), e da qual o evangelho de João se torna caminho de acessibilidade.
Retomando “a proposta fundadora de Jesus de amor ao próximo” como caminho de procura da unidade, Adérito Marcos questiona os nossos corações: “Seremos capazes de esquecer as diferenças e ater-nos ao essencial?”. Uma pergunta que nos faz ressoar as palavras do irmão Roger: “Não tomes nunca partido no escândalo da separação dos cristãos, que confessam todos tão facilmente o amor ao próximo, mas permanecem divididos”.
Com estima fraterna,
grão de mostarda
Dos seguidores de Jesus e das suas diferenças
Será possível sermos apenas seguidores de Jesus, construtores de uma melhor humanidade, rumo ao Reino da Concórdia?
Nasci e cresci no seio de uma família cristã de tradição católica romana. Bebi de toda uma educação, se em parte limitadora da busca livre porque recheada de fórmulas, ritualismos e “verdades” inquestionáveis, também me transmitiu os fundamentos do respeito e do amor devidos a todo o ser humano, sem distinção, princípio com que procuro nortear a minha viva com maior ou menor sucesso.
Mais tarde, já na idade adulta, tive contacto com outras formas de viver e seguir a proposta de vida de Jesus, nas tradições ditas protestantes, renovadas, e até outras sem uma denominação precisa nem pertença sequer a uma igreja tradicional. E a experiência foi muito enriquecedora. Passada a primeira surpresa, pude constatar que em todas a formas de viver o projecto de vida de Jesus, mesmo com as suas diferenças, o fundamental mantém-se, se suportado numa abertura sincera de coração na busca do Deus Paizinho; na senda de uma paz interior resultante de uma vida pautada pela simplicidade e pela dádiva ao outro. Em qualquer tradição ou forma de seguir a Jesus, o crucial é que se mantenha viva e renovada a mensagem original, a proposta fundadora de Jesus de amor ao próximo, libertando-a de todas a formas de opressão e alienação do ser humano. Jesus visionou e ambicionou a humanidade da concórdia, uma imagem do Reino Eterno de Deus.
Uma análise mais próxima das contendas entre cristãos, as do passado e as de hoje, permite-nos concluir como estas advieram e mantiveram-se por via de questões institucionais, de poder e domínio do ser humano sobre o seu semelhante, negando na sua essência, o projecto de vida de Jesus. Aí estiveram sobretudo razões e motivações moldadas pela maldade e a cobiça humanas.
Na verdade não se trataram de questões e conflitos entre verdadeiros seguidores de Jesus. Estes são, por natureza e coerência, avessos a toda a forma de domínio e violência.
Ainda hoje existe, infelizmente, muita incompreensão instalada entre as igrejas e os grupos de cristãos de diferentes tradições, quando o que nos devia unir seria simplesmente seguir a Jesus, adoptando a Sua proposta de vida, assumindo que cada forma de fazer o caminho e a tradição até podem ser diferentes, mas o alvo é comum.
Seremos capazes de esquecer as diferenças e ater-nos ao essencial?
Será possível sermos apenas seguidores de Jesus, tornando-nos construtores de uma melhor humanidade, rumo ao Reino da Concórdia?
Adérito Marcos
42 anos, irmão leigo membro da Paróquia S. Tomé, da Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica – Comunhão Anglicana, Castanheira do Ribatejo; membro do grão de mostarda/comunidade fraterna de reconciliação; licenciado e doutorado em Engenharia Informática, agregado em Tecnologias e Sistemas de Informação, professor associado da Universidade Aberta.
Contacto: aderito.marcos@gmail.com
•Ilustração: Ícone Bizantino, Sermão da Montanha
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