sábado, 6 de julho de 2013

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

Paula Constantino evoca-nos a infeliz persistência social de “falta de compreensão, sensibilidade e de afeto pelo diferente”. A sua reflexão traz-nos à memória as palavras de Antoine de Saint-Exupéry, no seu livro Piloto de Guerra: “Creio que o primado do Homem fundamenta a única Igualdade e a única Liberdade que têm significado. Creio na Igualdade dos direitos do Homem através de cada indivíduo.”
Fraternalmente,

grão de mostarda


DIFERENTES MAS IGUAIS

Sou particularmente sensível à forma como às vezes as pessoas falam dos outros, daqueles que são diferentes tão só porque têm uma deficiência, têm poucos rendimentos, têm uma orientação sexual diferente ou são de uma raça também diferente, como se cada um de nós fosse o “modelo” a seguir em tudo, fosse a perfeição personificada.
 
Sei por experiência própria como às vezes é tão difícil ouvir expressões e comentários sobre as minhas deficiências, e, se algumas vezes brinco com isso (o humor também é necessário) noutras vou tendo capacidade de os deitar ao lixo e de interpelar as mentalidades incapazes de perceber que ser diferente não significa não ter valor, não prestar para nada, não ter um lugar na comunidade e na sociedade, bem pelo contrário, por aquilo que cada um tem que enfrentar para superar as suas limitações mostra aos outros que, se calhar, os inúteis e verdadeiros deficientes são eles.
 
Chocam-me ainda mais esses mesmos comentários quando estão em causa pessoas que têm pouca capacidade de se defender e que, por isso, sofrem em silêncio. Não basta estar ali naquele momento, é preciso muitas vezes ir ao encontro, porque só aí temos a possibilidade de entrar dentro dessas mesmas pessoas e podemos compreender o tamanho do seu sofrimento. Tal como fez Jesus com todos aqueles que de algum modo queriam aproximar-se dele. Nunca deixou nenhum sem uma resposta. Amou incondicionalmente. É também essa a nossa missão. 
 
A falta de compreensão, sensibilidade e de afeto pelo diferente, seja ele deficiente, homossexuais, gordo ou magro, alto ou baixo, deixa marcas muito profundas na vida dessas pessoas pelo que isso representa de desrespeito pelo ser humano que cada um é e que tem direito à sua dignidade enquanto pessoa.
 
Essas situações fazem com que muitas vezes essas pessoas tenham receio de falar, de sair de casa, de se amar, de se deixar amar, de ter afetos, e isso mata a pessoa por dentro. Uma pessoa sem Amor e sem Afetos é uma pessoa incompleta. O ser humano foi feito para o Amor e não para o egoísmo.
 
A cultura de respeito pela diferença ainda não é muito grande na nossa sociedade. E cabe-nos a nós sermos portadores dessa diversidade nas diversas situações que vivemos, sobretudo para com os mais fragilizados, a quem é preciso saber dar o lugar que lhes pertence, ajudando-os a encontrar-se para poderem encontrar os outros e olhá-los olhos nos olhos, sem medo.
 
Para uma sociedade ser verdadeiramente justa tem que ser plural, pois só na pluralidade é que podemos construir uma comunidade onde TODOS têm lugar, porque o tesouro que habita no coração de cada ser humano leva à plena Comunhão.



Paula Constantino

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