sábado, 17 de janeiro de 2015

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

no Porto, um sem-abrigo é alimentado por uma família islâmica da Turquia… Ricardo Brochado, que a propósito do atentado à revista Charlie Hebdo, em Paris, reflecte sobre o perigo de permitirmos o nosso coração direcionar a revolta “para o Todo que é o Islão”, relembra-nos a amabilidade a que nos convoca a pluralidade religiosa.

Fraternalmente,

grão de mostarda


DO ESPÍRITO DE VINGANÇA AO CAMINHO DE BONDADE


Os recentes acontecimentos do Charlie Hebdo, em Paris, trouxeram à baila um sentimento que não achava possível alastrar tão rapidamente.

Confesso que me incomodou, e incomoda, o que dois “iluminados” são capazes de fazer com a encapotada desculpa de uma religião, de um teísmo qualquer ou de um fundamentalismo que atinge não só os inimigos das suas crenças, mas também os crentes moderados dessas mesmas crença.
Não podemos esquecer que a revolta por todos sentida contra os algozes dos infelizes cartoonistas e restante corpo editorial do malogrado jornal, não podendo ser descarregada nos dedos que premiram o gatilho, em alguns casos será direccionada para o Todo que é o Islão.

Numa rua abaixo da minha casa vive uma família de turcos muçulmanos. Nessa mesma rua, no alpendre de uma casa abandonada pernoita um sem-abrigo de religião indefinida mas, sabendo a religião dominante em Portugal, presumo seja cristão.
Ora, à hora das refeições, este sem abrigo bate à porta daquela família que lhe oferece um tabuleiro com comida, e que ele ingere sentado num degrau de entrada. No final, bate à porta, devolve o tabuleiro, agradece e vai à sua vida…
Este mesmo sem-abrigo foi, aqui há tempos, humilhado pelos seus pares, brancos, talvez cristãos de formação, que lhe viraram um garrafão de água pela cabeça abaixo enquanto estava sentado, indefeso e alcoolizado.

Todas as religiões são boas e conduzem as pessoas para o caminho da bondade, com preceitos morais que nos orientam para uma conduta justa.
Em todas as religiões há pessoas boas ou más; crentes, praticantes ou fundamentalistas.
O que não nos podemos esquecer é de que há respeito a guardar pelos outros, não nos deixando envenenar pelo espírito de vingança.

Ricardo Brochado


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