Caríssimas e caríssimos,
vivemos o momento
oportuno para uma “nova atitude existencial”? A insatisfação poderá levar ao
desânimo, perante os diferentes muros que se vão erguendo no quotidiano das
sociedades.
O caminho exige-nos
distinguir as razões das novas injustiças, que além de gerar vítimas humanas
conduz ao desaparecimento da nossa casa comum, a Terra.
Com as palavras
desassombradas de Serge Latouche e as propostas do irmão Aloïos de Taizé para
um nova solidariedade, desejamos animar os nossos corações a buscar o mundo que
existe no mundo em que vivemos.
Fraternalmente
grão de mostarda
ENCANTAR O MUNDO – a utopia de uma nova
solidariedade
“Voltar a encantar o mundo” para que desponte “a utopia concrecta” é o apelo de Serge
Latouche, na última página do seu livro “Vers une société d’abondance frugale”
(1). Para este professor emérito de economia da Universidade de Pais-Sud
(Orsay), trata-se de “DESCOBRIR QUE HÁ UM MUNDO NO SEIO DO MUNDO EM QUE
VIVEMOS…”.
A obscuridade
do tempo presente parece esvaziar de sentido as propostas de Latouche: uma
minoria com interesses financeiros, depredadores de recursos naturais e das
vidas de multidões – as vítimas de novas escravaturas –, está a instigar uma
civilização alicerçada na desconfiança e no medo, que paralisa e rouba o
quotidiano.
De modo avisado,
Latouche situa o problema no seu adequado contexto: “O excesso de consumo dos
bens materiais coloca um número cada vez maior da população [mundial] na
escassez e nem sequer assegura um verdadeiro bem-estar para os restantes”. E
conclui que “a criação de necessidades e de bens ilimitados” tornou-se um
“círculo vicioso” causador de uma “crescente frustração.” E continua a sê-lo,
de modo desenfreado…
Não será este o momento oportuno para se empreender um caminho rumo
a “uma nova atitude existencial”, como propõe Hans Küng? (2). Este caminho
levar-nos-ia, certamente, ao paradigma de Latouche: a descoberta do mundo que
existe no mundo que hoje nos é dado viver… Uma ruptura com o actual modelo de
soluções políticas e financeiras, que transformaria as nossas vidas em
projectos de fraternidade luminosa.
No Encontro Europeu deste ano em Praga, o
irmão Aloïs de Taizé, diante a realidade presente, fez uma proposta “rumo a uma
nova solidariedade”. Nas suas «Quatro propostas para ‘ser sal da terra’» (3),
desenha o mapa da “nova atitude existencial”, somente concrectizável no nosso
quotidiano se iniciada por uma mudança interior:
Partilhar
o gosto de viver com os que estão à nossa volta. Como conseguir, “perante um grande número de obstáculos”,
perguntarmo-nos: «Para quê continuar a lutar?».
Comprometer-nos
pela reconciliação. “Há situações em que é urgente a
reconciliação.” Um compromisso nesse caminho exige-nos “compreender os medos
que aprisionam o outro nos nossos preconceitos.” Por isso, é nosso encargo também
“ganhar consciência de que os outros podem ter algo contra nós.”
Trabalhar
pela paz. “O desejo de paz alarga o nosso
coração e enche-o de compaixão por todos.” Esta decisão interior conduz
“algumas pessoas comprometem-se na promoção da paz assumindo responsabilidades
na vida pública dos seus países…” Será possível avaliar “situações de injustiça” oferecendo “a nossa
protecção aos que estão vulneráveis” e assim identificar “as formas modernas de
escravatura”?
Cuidar da
nossa terra. “A terra não é propriedade nossa.”
Este princípio leva-nos à consciência de que “temos um dever de solidariedade
entre pessoas e povos e para com as próximas gerações.” E será a nossa “maneira
de consumir e de utilizar os recursos naturais” que edificará na sociedade “um
estilo de vida que permita um desenvolvimento sustentável…” Necessitamos de
“imaginação e de criatividade”. E assim nascerão “novos projectos para a
sociedade.”
E assim a Humanidade voltará a “encantar o
mundo”!
grão
de mostarda
(1) Seguimos a
tradução em espanhol “La sociedad de la abundancia frugal”, Icaria editorial,
Barcelona, 2012
(2) “Lo que yo
creo”, Editorial Trotta, Madrid, 2011
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