Caríssimas e
caríssimos,
Retomam-se hoje as reflexões
semanais ESCUTAR A VIDA. Emília Pinto, Paula Constantino, Henrique Scheepens e Constantino
Alves aceitaram (a partir da próxima semana) partilhar connosco o seu olhar
sobre o momento presente – a partir de situações, de perto ou de longe, que nos
envolvem, ou de experiências pessoais, e que eles reconhecem como “imagens” de
interpelação para um futuro de confiança...
Neste “texto de abertura” (ver ANEXO),
recuperando o gesto de compaixão de Aristides de Sousa Mendes – a propósito do
filme sobre a acção deste Cônsul português em favor dos judeus, por ocasião da
II Guerra Mundial –, interrogamo-nos como o olhar pessoal sobre os
acontecimentos pode determinar o nosso modo de ESCUTAR A VIDA.
Com estima fraterna,
grão
de mostarda
Um olhar de compromisso
Que olhar colocamos sobre os acontecimentos no mundo? Como olhamos
o que nos envolve, o que nos é mais próximo, ou o mais distante e que nos pode
aparecer como não fazendo parte da nossa realidade?
O anúncio da exibição do filme “Aristides de Sousa Mendes, o
Cônsul de Bordéus” traz-nos à memória um dos exemplos públicos mais reveladores
de quem consente ao coração deixar-se tocar pelos acontecimentos: o diplomata
português salvou 40 mil judeus de serem detidos e exterminados pelo regime
nazi, concedendo-lhes vistos para poderem entrar em Portugal.
O modo como olhamos a vida determina o nosso ESCUTAR A VIDA. E o
olhar de Aristides de Sousa Mendes não ignorou a realidade, mesmo sabendo que
corria riscos, que estava só na sua decisão. Ninguém o apoiava… E o Governo de
Lisboa, que proibira os responsáveis dos consulados e embaixadas de Portugal de
concederem vistos a judeus, apátridas e outros “indesejados”, decidiu expulsar
o cônsul de Bordéus, que somente entre 17, 18 e 19 de Junho de 1940,
possibilitou, com a sua assinatura, a entrada de 18 mil pessoas na fronteira de
Vilar Formoso…
Deixar-se tocar pela compaixão permite reconhecer a verdadeira
situação do outro, quer seja próximo ou distante (1). Permite tornarmo-nos próximos, derrubar preconceitos… O
momento que vivemos, a complexidade dos sistemas sociopolíticos exige que o
nosso olhar não se deixe tomar pelo medo e pela resignação. No livro citado, o
irmão Roger sublinha: “Se a compaixão do coração estivesse no começo de tudo…”.
Será a maneira como encaramos, e vivemos, tudo o que nos envolve,
incluindo as nossas relações mais próximas, que fixará o modo como agimos, como
nos comprometemos com a Humanidade.
grão de
mostarda
(1) No seu livro “Presientes una felicidad?”, o
irmão Roger escreveu: “Somente a compaixão nos deixa ver o outro tal como ele
é.”
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