segunda-feira, 12 de novembro de 2012

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos, 

Retomam-se hoje as reflexões semanais ESCUTAR A VIDA. Emília Pinto, Paula Constantino, Henrique Scheepens e Constantino Alves aceitaram (a partir da próxima semana) partilhar connosco o seu olhar sobre o momento presente – a partir de situações, de perto ou de longe, que nos envolvem, ou de experiências pessoais, e que eles reconhecem como “imagens” de interpelação para um futuro de confiança... 

Neste “texto de abertura” (ver ANEXO), recuperando o gesto de compaixão de Aristides de Sousa Mendes – a propósito do filme sobre a acção deste Cônsul português em favor dos judeus, por ocasião da II Guerra Mundial –, interrogamo-nos como o olhar pessoal sobre os acontecimentos pode determinar o nosso modo de ESCUTAR A VIDA.

Com estima fraterna,

grão de mostarda



Um olhar de compromisso

Que olhar colocamos sobre os acontecimentos no mundo? Como olhamos o que nos envolve, o que nos é mais próximo, ou o mais distante e que nos pode aparecer como não fazendo parte da nossa realidade? 

O anúncio da exibição do filme “Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul de Bordéus” traz-nos à memória um dos exemplos públicos mais reveladores de quem consente ao coração deixar-se tocar pelos acontecimentos: o diplomata português salvou 40 mil judeus de serem detidos e exterminados pelo regime nazi, concedendo-lhes vistos para poderem entrar em Portugal.

O modo como olhamos a vida determina o nosso ESCUTAR A VIDA. E o olhar de Aristides de Sousa Mendes não ignorou a realidade, mesmo sabendo que corria riscos, que estava só na sua decisão. Ninguém o apoiava… E o Governo de Lisboa, que proibira os responsáveis dos consulados e embaixadas de Portugal de concederem vistos a judeus, apátridas e outros “indesejados”, decidiu expulsar o cônsul de Bordéus, que somente entre 17, 18 e 19 de Junho de 1940, possibilitou, com a sua assinatura, a entrada de 18 mil pessoas na fronteira de Vilar Formoso…

Deixar-se tocar pela compaixão permite reconhecer a verdadeira situação do outro, quer seja próximo ou distante (1). Permite tornarmo-nos próximos, derrubar preconceitos… O momento que vivemos, a complexidade dos sistemas sociopolíticos exige que o nosso olhar não se deixe tomar pelo medo e pela resignação. No livro citado, o irmão Roger sublinha: “Se a compaixão do coração estivesse no começo de tudo…”.

Será a maneira como encaramos, e vivemos, tudo o que nos envolve, incluindo as nossas relações mais próximas, que fixará o modo como agimos, como nos comprometemos com a Humanidade.

grão de mostarda


(1) No seu livro “Presientes una felicidad?”, o irmão Roger escreveu: “Somente a compaixão nos deixa ver o outro tal como ele é.”








Sem comentários:

Enviar um comentário