sábado, 24 de novembro de 2012

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,
na sua primeira reflexão em ESCUTAR A VIDA, Emília Pinto anota: “Escutar a vida leva-me ao Encontro na mais radical nudez do meu coração”. E nos nossos corações se acolhe uma amável e transparente confissão de momentos que a fizeram (ou ainda fazem) “descobrir a capacidade de sentir o coração diferente…” (ver ANEXO).
Caminhos de VER, TOCAR e ESCUTAR… convertidos em “Boa Notícia” e repercutidos na poesia de Rainer Maria Rilke. Caminhos de uma mulher que, tão só, se identifica como “cristã”.

Com estima fraterna,

grão de mostarda


Escutar a vida?


 Nunca como estes dias parei a perguntar-me:  quais foram ou são os momentos que me fizeram ou fazem descobrir a capacidade de sentir o coração diferente, de uma alegria imensa de viver, de um despertar de conquistas novas, de cores novas, toques novos, formas novas de ver e escutar a vida?!

Desde que este desafio me foi proposto reflecti muito sobre isto. Nas viagens do meu pensamento vi pessoas, o que fui e vou cultivando nas minhas relações, na minha proximidade com o outro. Foi na alegria do Encontro, nos momentos de partilha e diálogo, de Silêncio e Oração, na disponibilidade interior e de entrega do irmão, que ganhei olhos e ouvidos novos.

Só consigo ver rostos... aqueles que acreditaram em mim mais do que eu própria. Aqueles que nunca desistiram e não se cansam de me dizer "tu és capaz"! Aqueles em quem eu aprendi a confiar e a deixar-me guiar por horizontes de Amor e Esperança.  Foi este amor que rompeu lugar no meu coração e o levou a abrir-se à Novidade... Aos poucos tudo começou a ser diferente. À medida que vou caminhando com eles, a minha fé vai ganhando raízes; e a esperança vai sendo a inspiração que me move e me faz sorrir a cada dia.  São muitas descobertas de experiências novas que guardo com muita Gratidão.

Sendo deficiente visual, nunca os verbos VER, TOCAR, ESCUTAR,  ou mesmo a palavra Luz,  fizeram tanto sentido na vida como agora... O Evangelho vivido há dois mil anos faz-se, hoje, na minha carne Boa Notícia. Tal como o cego da piscina de Siloé sinto a lama a curar-me (1), ou o olhar a repousar em mim como aconteceu com aquela mulher que Lhe tocou no manto (2). Como são belos os pés do mensageiro da Paz que se faz presente no rosto de pessoas que desenham todos os dias a Vida.

Escutar a vida leva-me ao Encontro na mais radical nudez do meu coração. Por isso, acredito que ao Escutar a Vida, se possa nascer de novo; e assim, um presidiário possa (re)descobrir a alegria de experimentar o verdadeiro sentido da palavra Liberdade, ou um paralítico possa (re)descobrir o prazer de uma caminhada, ou um cego as cores da Nova Aliança.

“Tira-me a luz dos olhos - continuarei a ver-te
Tapa-me os ouvidos - continuarei a ouvir-te
E, mesmo sem pés, posso caminhar para ti
E, mesmo sem boca, posso chamar por ti.
Arranca-me os braços e tocar-te-ei com o meu coração como se fora com as mãos...
Despedaça-me o coração - e o meu cérebro baterá
E, mesmo que faças do meu cérebro uma fogueira,
Continuarei a trazer-te no meu sangue.” (R. M. Rilke*)

Emília Pinto, cristã

*Rainer Maria Rilke, nasceu em Praga, 1875-1926
(1) ver evangelho de João 9, 1-41
(2) ver evangelho de Marcos 5, 21-43







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