Caríssimas e
caríssimos,
A reflexão do ESCUTAR A VIDA
desta semana parte de uma outra reflexão do mais recente livro do monge Carlos
Maria Antunes. Paula Constantino aponta o horizonte que se nos revela quando
consentimos “descer à terra”. Empreender o caminho de ir ao mais profundo de
nós mesmos e deixarmo-nos “amassar como quem amassa o pão” levar-nos-á
inevitavelmente “à partilha e à fraternidade”, ao dom do reconhecimento do
“outro tal como ele é com toda a sua originalidade.” (ver ANEXO)
Fraternalmente,
grão
de mostarda
“Descer à terra”
“Descer à terra, uma e outra vez, acolher o
contraditório, o sombrio, o que nos dói, sem desalento e com ternura. Sempre
com ternura, porque a terra que somos é o nosso melhor tesouro. Quando abrimos
assim o coração, caem os medos, a liberdade ganha outra amplitude, aprendemos a
olhar os outros com compaixão e vamos experimentando que Deus vive e respira em
nós. Quanto mais descemos à nossa terra, mais nos tornamos transparência do
Mistério de Deus. A nossa terra é o nosso Céu.”
Esta passagem do novo livro do padre Carlos
Maria Antunes – “Só o Pobre se faz Pão”
(1) – fez-me parar e tomar ainda mais
consciência de como é tão precioso tornar-me pequena, porque só assim poderei
amar-me e poderei amar. Só assim poderei descobrir o tesouro que tenho dentro
de mim. Só assim poderei acolher dentro de mim o outro tal como ele é com toda
a sua originalidade.
“Descer à terra” significa tocá-la, mexer e
remexer, cultivá-la, plantar e semear a boa semente para que dê fruto e fruto
em abundância, isto é, deixarmo-nos tocar pelo autor da VIDA, para que a vida
nasça em nós, e a seiva que dela corre estenda os seus braços a outros campos –
os outros.
“Descer à
terra” significa ir ao mais profundo de mim mesma e deixar-me amassar como quem
amassa o pão e volta a amassar até que a farinha, o fermento, o sal e a água se
entrelacem entre si e formem uma massa de tal forma homogénea que não se
desfaz, pelo contrário, leveda e prepara um pão que dá vida, leva à comunhão, à
partilha e à fraternidade.
“Descer à terra” significa perceber que a
minha primeira atitude a ter quando estou com alguém é saber colocar-me aos
seus pés e servi-lo, tal como Jesus fez na Última Ceia que, ao colocar a toalha
à cintura e lavar os pés aos seus discípulos, os ensinou a servir para que
também servissem (2).
E é neste despojar-me de mim própria, é neste
olhar para a terra que sou, neste “descer à terra” permanente, que me vou
tornando mais “transparência do Mistério de Deus”, porque “Deus vive e respira
em nós”, amassa-me o coração e torna-o mais Amor, mais ternura, mais
fraternidade.
Quanta terra a remexer, quanta pedra a
afastar, mas é neste “descer à terra” constante que percebemos que o nosso Céu
começa aqui na terra.
Paula
Constantino
(1) Só o Pobre se faz Pão, Paulinas, Portugal, 2013. Carlos Maria
Antunes é monge cisterciense do Mosteiro de Santa Maria de Sobrado,
na Galiza (Espanha), nasceu em Tomar e foi pároco na diocese de Santarém.
(2)
Ver João 13, 1-5
Sem comentários:
Enviar um comentário