Caríssimas e caríssimos,
a serenidade do nosso
interior nasce das decisões que, experiência após experiência, vamos tomando ao
longo dos dias das nossas vidas… E uma das mais importantes decisões é o uso
que fazemos do tempo, do momento presente. Raras vezes olhamos e vivemos o
agora como um encontro de placidez com o “acontecimento” que nos é dado viver.
Paula Guerreiro
transporta-nos, na reflexão de ESCUTARA VIDA, para a experiência que fez de “um
tempo que vai ao encontro do Amor”. Ou seja, o tempo que se nos entrega,
devolvendo-nos serenidade de coração (ver ANEXO).
Fraternalmente,
grão de mostarda
- pedimos desculpa por
só hoje ser possível enviar esta reflexão, que vos deveria ter chegado no
passado dia 4.
A importância da lentidão
Um apontamento no jornal, de sábado passado, dava nota de um evento: "A Festa é aqui." "A Festa é aqui" iria desenrolar-se numa das ruas principais do Porto. Resolvemos ir, eu e a minha mãe de 83 anos. Uma delícia…
Havia
animação de rua, palhaços em monociclos, dj's nas varandas e bandas de jazz. Um
rasto de pequenos vasos honrava o nome desta rua pedonal, Rua das Flores. Uma
jovem encantava com o seu realejo. Mais à frente um livreiro alfarrabista dava
à manivela uma grafonola de 1930, demonstrando-nos como funcionava. Estávamos
na presença de instrumentos musicais próprios de uma cultura que remonta à
primeira metade do Séc. XX.
A minha
mãe deliciava-se a observar, a ver. O olhar despertava-lhe os sentidos e
apelava à sua memória, uma memória cheia de recordações, de estórias - houve
uma vez... e começava a contar...
Parávamos junto às vitrinas das lojas. Nos seus vidros, e associados aos produtos que comercializavam, havia desenhos bastante coloridos acompanhados de um poema ou de uma rima, ou ainda, uma adivinha onde nos detínhamos a descobrir a resposta.
Passeávamos
ao nosso ritmo, um ritmo que pertence ao tempo, mas pouco tolerável no nosso
Tempo. A propósito, lembrei-me de um livro do Luís Sepúlveda "História de
um caracol que descobriu a importância da lentidão" (*). Sim, estávamos a
saborear e a absorver porque estávamos sem pressa, atentas ao apelo dos
sentidos.
Foi
maravilhoso ver a Rua das Flores com tanta vida… Mas delicioso foi partilhar
dessa vida, com as experiências, as estórias da minha mãe e apreciar a
sabedoria deste tempo que passamos juntas. Um tempo que vai ao encontro do
Amor, pois o Amor é parcimonioso.
(*)
Porto Editora, Abril 2014
Paula Guerreiro
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