Caríssimas e caríssimos,
Jean Onimus, no seu
livro “Jesús en directo” (*), quando no final reflecte sobre o facto de a
mensagem de Jesus “continuar a ser actualmente válida” – apesar de “tão
rapidamente absorvida pelos sistemas e pelas doutrinas” –, anota: “(…) o que
resiste ao tempo não são as ideias (que envelhecem e morrem diante de um novo
contexto), mas sim os valores, e em particular esse ideal de amor que se revela
‘humano’”.
Na reflexão ESCUTAR A
VIDA, Ricardo Brochado traz-nos dois testemunhos de amor nos quais, se
consentimos no coração que o mais humanamente importante é o Amor, revemos
“riquezas espirituais que se deveriam valorizar”.
Fraternalmente,
grão de mostarda
(*) Editorial Sal Terrae, Espanha, 2000
SÓ O AMOR É
RELAMENTE IMPORTANTE…
As orgânicas familiares tradicionais estão
cada vez mais ultrapassadas. Numa sociedade em que todos os valores se vão
modificando muito rapidamente, em que cada vez mais a produção de riqueza
parece ser o valor mais importante e nos vai cegando para a real importância do
que é importante, em que pobreza material se ignora, mesmo estando debaixo dos
nossos olhos, há riquezas espirituais que se deviam valorizar. Fruto de uma
cegueira de séculos e de um paradigma parolo e mesquinho, a homofobia vai
preenchendo as nossas mentes e obstrui a visão para um valor que, esse sim, é
realmente importante: o Amor.
Nestes meses de época alta de turismo (e
dizem muitos ser o futuro de Portugal) tive o privilégio de conhecer pessoas
fantásticas dos dois lados da “barricada” hetero/homossexual, que me deram
lições de vida pela forma como observam e vivem a vida.
Um casal de
senhoras, uma médica e uma militar, sem preconceitos de forma alguma,
mostraram-me o mesmo tipo de relação que os casais heterossexuais me mostram
todos os dias com as mesmas idiossincrasias, as mesmas relações, as mesmas
discussões, os mesmos gestos de carinho. São americanas, e uma delas, de nome
de família Amarante, insistia que queria visitar a terra no Norte sua homónima.
Em tom de brincadeira dizia que queria visitar o seu “reino”. O problema é que
tinham poucas horas para o fazer.
Num acto de puro altruísmo, a sua companheira
comprou os bilhetes de autocarro para fazerem uma viagem de duas horas, ida e
volta, e passarem em Amarante 25 minutos. Tudo para que conhecessem o “reino”.
Um outro casal, também dos Estados Unidos, e
desta feita de homens, contratou-me com uma única exigência, que fizesse um
percurso à medida para a mãe de um deles, que tinha problemas de mobilidade e
83 anos. Respondi-lhes que só faria a visita ao Porto se fosse tudo criado para
a senhora se sentir confortável e feliz.
Ora, seria natural pensar que esta senhora
tivesse algum tipo de preconceito em relação à opção sexual do seu filho, mas
enganem-se, tratava os dois por filho e tinha exactamente o mesmo tipo de
relação com os dois.
Ao fim do dia, estavam os três felizes, e
notava-se a alquimia do Amor entre estas três pessoas, que, uma vez
ultrapassadas as mesquinhices impostas pela sociedade, se entregavam a uma
experiência de compreensão e dádiva.
Cada vez mais sou crente de que dar cem por
cento nos vai devolver um por cento, mas este valor é de qualidade, não de
quantidade.
Ricardo
Brochado
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