Caríssimas e caríssimos,
neste tempo em que a palavra Paz foi, certamente, a mais
pronunciada, quer em discursos oficiais dos responsáveis pela governação dos
povos, quer nos encontros natalícios das famílias, recuperamos o sentido que ainda
pode ter a Paz, partir de uma frase atribuída a Jesus, pelo autor do Evangelho
de João.
Que a fraternidade seja a força criadora do nosso viver em Paz.
Com estima,
grão de mostarda
A PAZ COMEÇA EM NÓS… (*)
Jesus disse: “Deixo-vos com a
Paz. A minha Paz vos dou, mas não como o mundo a dá…” (ver João 14, 27)
SÓ É POSSÍVEL A PAZ quando há acolhimento.
Acolhimento de nós mesmos e de todos os seres da Terra, a nossa casa comum. “O
acolhimento traz à luz a estrutura básica do ser humano…” (1), recorda-nos
Leonardo Boff.
Podemos ficar desiludidos com “a paz do mundo”,
orientada pela sofreguidão do tudo, originando impulsos de violência. Pode
causar-nos sofrimento “a paz do mundo” encoberta por bons intuitos, mas que no
seu “canto de sereia” nos mascara um único e insaciável desejo que produz
milhões de vítimas: alimentar interesses particulares, destruidores da
convivência humana.
Esta é “a paz como o mundo a dá”, sublinha
Jesus. E quantas vezes não será também a paz que tranquiliza o nosso
individualismo, que nos descompromete…
O que a proposta de Jesus nos suscita é
precisamente iniciarmos a descoberta da fraternidade universal, a partir de
cada decisão, cada gesto e cada palavra, no nosso quotidiano. Somente no
acolhimento de cada ser humano seremos capazes de iniciar uma caminhada para a
compreensão da bondade acolhedora com que nos inunda a Natureza. E que Miguel
González Martín narra assim: “Fomos acolhidos pela Terra, pela corrente da
Vida, pela natureza, pelos nossos pais, pela sociedade. O acolhimento,
portanto, nos constitui” (2).
QUANTAS VEZES sentimos um apelo maior para
nos constituirmos membros de grandes causas, muitas vezes longínquas
geograficamente… Não se trata de ignorar o sofrimento ou os dramas de
sobrevivência de tantos seres humanos, esmagados pelos interesses financeiros e
pelos senhores de todas as guerras. Até porque a consciência global infunde-nos
mais e maiores responsabilidades… A questão, porém, coloca-se: não “poderei ser
fermento de confiança onde vivo, manifestando compreensão pelos outros, que se
irá estendendo cada vez mais?” (3).
Jesus disse: “dou-vos a minha Paz”. Ele
falava da Paz que nasce do mais profundo de nós mesmos, a partir de uma
aprendizagem feita a partir da experiência, trabalhada interiormente, de
“caminhar com um coração reconciliado…” (3). Só assim, como recorda o irmão
Roger de Taizé, se iniciará uma nova etapa na convivência humana: a confiança
tornada experiência no meu espaço de vivência será como um fogo que, pouco a
pouco, se irá propagando ao próximo do nosso próximo… E assim, cada uma e cada
um tornar-se-á “um foco de paz” (3).
(*) título inspirado num dos capítulos de
“Não pressentes a felicidade?”, do irmão Roger deTaizé
(1) citação feita por Miguel González Martín,
em Cuadernos Cristianisme i Justícia, de Novembro de 2015 (acesso gratuito em www.cristianismeijusticia.net)
(2) “De la hostilidade a la hospitalidade”,
de Miguel González Martín, em Cuadernos Cristianisme i Justícia, de Novembro de
2015
(3) irmão Roger de Taizé, “Não pressentes a felicidade?”,
Paulinas, Julho 2014
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