sábado, 23 de janeiro de 2016

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,



“Permitídeme que me presente, son Breogán, irmán voso. Compartimos a procura da mesma fonte, estamos en partes diferentes do bosque e desexamos construir xuntos os camiños nel.”



Breogán Udías apresenta-se assim, no seu galego, nesta sua primeira reflexão do ESCUTARA A VIDA. Pai de Martina, de quatro anos, e de Paulo, com nove meses, é companheiro do grão de mostarda na descoberta de caminhos de amabilidade comprometida, juntamente com outros amigos espanhóis e portugueses, tal como a sua mulher, Natalia Fernandez, que nos desvelou o “racismo inconsciente” que levamos dentro, no ESCUTAR A VIDA, de 29 Novembro passado.



Breo transporta-nos ao essencial do nosso mundo mais próximo, do nosso viver quotidiano, colocando-o em diálogo com a inevitabilidade de consentirmos ao nosso coração “ir mais longe”.




Fraternalmente,
grão de mostarda





RETRATO DE UMA HISTÓRIA DE AMOR





MANTER UMA ATITUDE DE ESCUTA no quotidiano tem a sua dificuldade. É mais habitual uma generalização do nossos olhar sobre os sucessivos acontecimentos ao longo do dia, do que a compreensão dos pequenos-grandes acontecimentos com que somos presenteados. A nossa tendência natural em desejar as grandes magnitudes impede o efeito de valorizarmos o pequeno, o finito, o essencial. E no final do dia tudo passou e ficou para traz no esquecimento. Acostumámo-nos ao vértice do dia-a-dia, contudo a insatisfação descobre-nos que jamais nos acostumamos a viver nessa mediocridade.



A melodia sustentava Paulo, pessoa ainda bem pequenina, no meu colo. A febre e o congestionamento faziam com que não deixasse de se queixar se o colocava no berço, pois o abraço e o choro são excelentes expressões que ele revela para solicitar auxílio, nesta sua nova circunstância… Toda a noite havia sido tão breve para o descanso como para o desvelo.



Neste universo tão íntimo os dias e as suas andanças são muito semelhantes, e conduz ao esgotamento. Não queremos tanta finitude para nós, desejosos como estamos de manifestar grandes esforços, sucessos, compromissos e militâncias. As diferenças não estão tanto no que se faz, mas sim como se faz.



DO MUNDO UM POUCO MAIS DISTANTE chegam-nos diferentes notícias de amigos e irmãos que padecem, celebram, caminham ou alteram situações… E quanto mais limitados nos descobrimos, inevitavelmente mais aberto deve estar o coração para ir mais longe.



O pequenito acalmou, expressando um sorriso. Foi um instante iluminador das horas do seu mal-estar, e essa intermitência revelou todos os acontecimentos do dia, tornando audíveis os ecos longínquos. No aqui e no agora para chegar mais além.



Do mais profundo desta história subsiste uma História de Amor.



Breogán Udías










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