Caríssimas e caríssimos,
no
tempo presente, a corrupção banqueteia-se em cada espaço sociedade, somente
pela “ilusão do dinheiro”.
Recuperando excertos de uma entrevista feita ao
bispo de Roma, Paula Guerreiro conduz-nos ao exercício, que nem sempre o
quotidiano nos permite, de fazermos uma reflexão sobre a corrupção, que além de
se tornar um “hábito mental” e uma “forma de vida”, impede-nos “de olhar para o
futuro com esperança”, como expressa Francisco.
Fraternalmente,
grão de mostarda
CORRUPÇÃO: O
ESTORVO DA ESPERANÇA
RECENTEMENTE foi
publicado o livro do Papa Francisco, "O Nome de Deus é Misericórdia"
(1). Este livro resulta de uma longa entrevista com o jornalista Andrea
Tornielli (*). O livro analisa o conceito de misericórdia, “tema central do seu
pontificado e a que recentemente decidiu dedicar um jubileu extraordinário, que
começou a 8 de Dezembro, prolongando-se até Novembro deste ano.”
O Papa apela à abertura do coração da Igreja, que acolhe, abraça e
perdoa: “Uma igreja que não existe para condenar pessoas mas para promover o
encontro com o amor visceral da misericórdia de Deus”. Neste livro, delicioso,
o Papa aborda o pecado como uma ferida que precisa de ser curada, deixando um
apelo aos líderes católicos: cuidem com compaixão da "humanidade que tem
feridas profundas”.
Nos últimos tempos, e em determinados contextos, tenho escutado
com alguma insistência a palavra “corrupção” e a este propósito há uma frase
conhecida que foi citada pelo Papa durante uma homilia em Santa Marta:
“Pecadores sim, corruptos não!”. E esclareceu que a “corrupção é o pecado que
em vez de ser reconhecido como tal e de nos tornar humildes, se tornou
sistema, torna-se um hábito mental, uma forma de vida. Não sentimos necessidade
de perdão e de misericórdia, mas justificamo-nos e aos nossos comportamentos.
(…) O corrupto não conhece a humildade, não sente necessidade de ajuda. Não se
envergonha.” A vergonha, um sentimento de desconforto, o Papa Francisco
considera-o como sendo uma graça: “Quando alguém experimenta a misericórdia de
Deus, sente uma grande vergonha de si mesmo, do próprio pecado.”
NO FINAL DO LIVRO o Papa faz um apelo: “Que a palavra do perdão
possa chegar a todos e a chamada a
experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente”, solicitando ainda
“que este convite chegue também às pessoas fomentadoras ou cúmplices
de corrupção.”
Referindo-se à corrupção como uma “praga putrefata da sociedade”,
o Papa Francisco acentua ser “um pecado grave que brada aos céus, porque mina
as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o
futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os
projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos
diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia
no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de
poder.”
“Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de
se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o
momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da
dignidade, dos afetos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal é fonte
apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus não se cansa
de estender a mão (..). Basta acolher o convite à conversão.”
Paula Guerreiro
(1) Editorial Planeta, 2016
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