Caríssimas e caríssimos,
Hoje, Adérito Marcos reflete sobre “práticas de injustiça laboral
travestidas de competitividade” que transformam “trabalhadores como recursos
descartáveis”. As situações relatadas “toleradas e sub-repticiamente promovidas
pelos governantes” remetem-nos para a nossa responsabilidade de cidadania… (ver
ANEXO)
As reflexões de “DE ONDE SOPRA O VENTO?”, sem periocidade
obrigatória, são um espaço aberto a todas e a todos que desejem trazer convocar
os nossos corações para as esperanças e as dores do quotidiano, criando assim
um espaço de diálogo cordial. Quem desejar pode enviar textos para graodemostardacomunidade@gmail.com
Fraternalmente,
grão de mostarda
Da dignidade no trabalho
Não nos desenvolveremos como país, nem muito menos sairemos desta
crise, quando práticas de injustiça laboral travestidas de competitividade
forem um lugar-comum.
Neste
últimos dois anos, aqueles em que a crise económica mais se tem feito sentir no
nosso país, temos tomado conhecimento, uns mais que outros, de situações que
demonstram um preocupante crescente desrespeito pela dignidade do ser humano
enquanto trabalhador que se vê gradualmente aprisionado em procedimentos e
comportamentos de quem contrata e/ou supervisiona, gerando relações laborais de
autêntica escravização.
A
reboque da crise e explorando sobretudo o clima psicológico que acompanha o
medo do desemprego e da precariedade económica, impõem-se horários de trabalho
para lá do contratualizado, responsabilidades não remuneradas, cortes
arbitrários no salário, alterações do horário de trabalho, etc. A quem protesta
é-lhe apontada a porta da rua ou a suspensão unilateral do trabalho.
Sabemos
hoje com absoluta certeza que a produtividade e o desenvolvimento das empresas
anda de mãos dadas com o sentido de justiça e de equidade no espaço de
trabalho. O trabalhador é tanto mais motivado quanto se sente parte do projeto
da sua empresa/organização e se vê respeitado como motor essencial para o seu
sucesso.
Qualquer
empresário experiente sabe que os seus trabalhadores constituem a seu ativo
mais valioso, pelo que importa o seu acarinhamento em prol do desenvolvimento
sustentável da sua empresa. Considerar os trabalhadores como recursos
descartáveis, retirando-lhes espaço e dignidade, levará forçosamente a danos
insanáveis nesse mesmo desenvolvimento.
Não
se desenvolve a empresa, quando uma mãe operária se vê impossibilitada sistematicamente
de ir buscar os filhos à escola ou de acompanhar a sua família em casa ao
jantar, depois de uma jornada de 10-12 horas, porque repentinamente é
necessária na fábrica e essas horas extraordinárias não chegam a ser
remuneradas; ou quando o pai de família recebe um salário reduzido por
quaisquer malabarismos de contabilidade; ou quando um jovem trabalha
gratuitamente porque lhe é assegurado que como estagiário não tem ainda direito
ao salário.
Não
nos desenvolveremos como país, nem muito menos sairemos desta crise, quando
práticas de injustiça laboral travestidas de competitividade forem um
lugar-comum, toleradas e sub-repticiamente promovidas pelos governantes.
A
injustiça laboral mina a coesão no seio das empresas e organizações, gerando
sentimentos de revolta e de frustração, e levando à inevitável desvinculação do
seu projeto coletivo.
Os
caminhos da escravização servem apenas os interesses obscuros do lucro e da
ganância. Jamais conduzirão à coesão social e ao desenvolvimento sustentável de
uma nação.
Adérito Marcos
45 anos, irmão leigo membro da Paróquia S. Tomé, da
Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica – Comunhão Anglicana,
Castanheira do Ribatejo; membro da comunidade grão de mostarda.
Contato: aderito.marcos@gmail.com
•Ilustração: Trabalhador rural nos Açores
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