Caríssimas e caríssimos,
os PENSAMENTOS EM BUSCA
desta semana inspiraram-se em poetas que nos interpelam pelas opções essenciais
da nossa existência. Hoje, em ESCUTAR A VIDA, recorremos às palavras de Manuela
Carmena, ex-juíza espanhola. Numa entrevista, a propósito do lançamento do seu
livro “Por qué las cosas puedem ser diferentes”, propõe-nos: só a convicção
individual de que uma nova Terra é possível, poderá mobilizar a vontade
colectiva.
Fraternalmente,
grão de mostarda
UM CAIXOTE DE ALTERNATIVAS
A rua não é
muito grande e pouco curvilínea; consegue-se mesmo olhá-la toda de um só
relance, ladeada de pequenas casas, rodeados de campos cultivados. Em cada uma
das entradas existe um caixote para o lixo público, daqueles verdes com uma
grande tampa por cima. Quase sempre, de cada vez que o homem passa pela entrada
poente, o caixote está aberto…
“Há que procurar alternativas para cada
situação”, diz Manuela Carmena, ex-juíza espanhola, em entrevista à “21 – la
revista cristiana de hoy” (edição de Julho), a propósito do seu livro “Por qué
las cosas puedem ser diferentes” (edição Clave Intelectual). Nele se levantam
questões éticas sobre o momento presente, na perspectiva da responsabilidade
individual na vida colectiva, a nível político e social.
Reconhecida pela sua atitude ética nos cargos
exercidos no sistema judicial de Espanha, Manuela Carmena (70 anos), agora
reformada, assume nesta entrevista uma enorme confiança na humanidade, nas suas
capacidades de transformação do actual sistema político-financeiro. E a exemplo
do que sublinha no livro, refere que a urgência das mudanças não surgirá de uma
revolta gerada pelo pessimismo, nem tão pouco revoluções de massas. “Esse é o
grande equívoco...”, diz.
Que fazer? Manuela Carmena valoriza “a imensa
capacidade de transformar que qualquer pessoa tem”, o que não significa que
privilegie as atitudes individualistas: “O modelo realmente relevante para mim
é a reorganização da sociedade em pequenos projectos”, adianta à “21 – la
revista cristiana de hoy”, recordando a existência de “experiências
interessantes” nascidas dessa premissa.
E se ressalta que “a imaginação tem de ser a
essência das nossas vidas”, não tem dúvidas em reconhecer que a atitude comum
ainda é a de dizer: “Não tenho meios, o sistema está mal organizado…”. Para
Manuel Carmena o poder colectivo de gerar alternativas está suspenso da decisão
individual: “Cada um de nós podemos mudar o curso de um processo com a nossa
atitude pessoal”. Só esta convicção – “que é imprescindível”, reforça – permite
“imaginar uma alternativa possível”.
…Mas de cada
vez que ali passa, o homem desvia um pouco o caixote da parede e fecha a tampa.
Como se fosse uma rotina. E um dia, já o sol caía, ao passar pelo caixote,
estranhamente fechado, escuta duas vizinhas, encostadas ao umbrais das suas
casas, a comentar: “Agora, parece que já não cheira tão mal aqui na nossa rua…”
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