sábado, 23 de agosto de 2014

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

“Qual o sentido da minha vida?”. O monge beneditino Anselm Grün afirma em “O livro das respostas” que esta é “uma questão que não devemos evitar” e que ao colocá-la tem ir ao mais profundo da “essência da nossa humanidade”, pois só assim poderemos agir “livremente”.

Paulo França, amigo e presença fraterna do grão de mostarda, fez este percurso… Um percurso de libertação, que hoje ele nos revela de modo tão amável e afectivo, partindo também de um livro, “Ensaio sobre a lucidez” de José Saramago.

Fraternalmente,

grão de mostarda


A LUCIDEZ DO OLHAR…



“Ao contrário do que toda a gente julga, o espelho retrovisor não serve só para controlar os carros que vêm atrás, também serve para ver a alma dos passageiros [...] ” in ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ, de José Saramago

Talvez o que nos tem faltado mais, é este olhar para dentro uns dos outros, saber escutar e dizer o que nos vai dentro da alma.

No ano de 2000, vim de visita a Lisboa, na primavera. Apanhei um táxi. Nessa altura da minha vida, eu dependia do consumo de álcool e estupefacientes. Era uma mistura bombástica e destrutiva…

Lembro-me que o taxista foi falando comigo olhando-me no retrovisor e sugeriu-me que, quando eu chegasse a casa, me mirasse no espelho e visse a minha figura. Segui o conselho do taxista. Fiquei deveras indignado com o meu aspeto inchado.

Nessa altura, libertei-me dos estupefacientes e, mais tarde, reportando-me também da mesma receita do taxista, libertei-me do álcool.

O taxista era um heroinómano recuperado. Naquele dia, o espelho retrovisor foi um instrumento precioso, sendo complementado pelo visionamento de mim mesmo ante o espelho em casa. Senti, como ninguém, o sentido profundo e sábio desta frase de José Saramago.

Paulo França

Sem comentários:

Enviar um comentário