Caríssimas e caríssimos,
no mais profundo da nossa
consciência escapam-se-nos, tantas vezes, as genuínas relações humanas… O
quotidiano parece absorver, quando não mesmo congelar, a sensibilidade interior
que nos permitiria alimentar uma confiança de abertura a cada ser humano.
Ricardo Brochado, nesta semana,
aponta-nos: mesmo em situações exigentes, esta abertura de confiança torna-se
dom na delicada e frágil arte de estimar cada momento de um relacionamento
humano.
Fraternalmente,
grão de mostarda
DA ARTE DE HUMANIZAR
Todos
os dias sou submetido a volumes enormes de dados que sou obrigado a
descodificar. Através da internet chegam-me imensos estímulos que me obrigam a
ser uma máquina de descodificação e relacionamento entre os volumes, fazendo
com que o meu cérebro esteja em constante actividade.
No meu trabalho relaciono-me com pessoas que
não têm cara, porque estou constantemente a trocar emails com as mesmas. É
difícil manter a capacidade de que estou a comunicar com um ser humano que tem
sentimentos e não é só mais um cifrão que assim que usufruir dos meus serviços
se converterá em mais dinheiro no banco. Fico por vezes apático e mecânico,
repetindo sempre as mesmas respostas, as mesmas soluções.
Por filosofia
das duas empresas com as quais colaboro, ficou definido que, uma vez por semana
tenho que ir para o terreno e comunicar verbalmente com os nossos clientes. Aí,
redescubro os factores que nos tornam, a todos, humanos: o toque, um aperto de
mão, dois beijos, o riso, o interesse genuíno nas coisas que dizemos, a
interacção à volta de uma mesa com comida, olhos a sorrir, sobrancelhas
carregadas de novidades e surpresas...
Estas informações descodifico facilmente, até
porque somos seres empáticos, que reagem a estímulos de outros seres com a
mesma massa e espírito.
Depois de um dia
com pessoas, fico cada vez mais triste por ser um refém das tecnologias e
saudosista dos tempos em que o convívio não tinha hora marcada.
Por falar nisso,
vou ver se encontro amigos na rua.
Ricardo
Brochado
Ilustração: Dila Rodrigues
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