segunda-feira, 15 de setembro de 2014

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos,

escrita em cativeiro, há quase quatro décadas, uma carta de Nelson Mandela abordava questões que, à partida poderiam parecer despropositadas para um homem condenado a prisão perpétua. O conhecimento pessoal e a conduta humana constituía praticamente o seu conteúdo…

Em que consiste a santidade? Thomas Merton (1915-1968) responde-nos: “Para mim, ser santo significa ser eu mesmo”, concluindo: “Por isso o problema da santidade (…) é, na realidade, o problema de chegar a saber quem sou eu e descobrir o meu verdadeiro ser” (1).

Ao recordar-nos um excerto da carta de Mandela, Paula Guerreiro desvela-nos a actualidade e o que de comum têm o pensamento do então líder anti-apartheid Nelson Mandela e as palavras do monge cisterciense Merton: o encontro com o nosso ser mais profundo, conduz-nos a caminhos de bondade, tão urgentes no tempo presente.

(1) “Nuevas semillas de contemplacíión” (Santander, 2003)

Fraternalmente,

grão de mostarda


Uma carta inspiradora



Excerto de uma carta de Nelson Mandela a Winnie Mandela, na ocasião sua esposa, escrita na prisão sul-africana de Kroonstad, e datada de 1 de Fevereiro de 1975.
A sua profundidade, autenticidade e beleza é maravilhosa e simultaneamente inspiradora. A mim faz-me bem lê-la e transmite-me uma enorme serenidade.

Paula Guerreiro


“… a cela é o lugar ideal para nos conhecermos a nós próprios, para aprofundarmos de forma realista e regular os processos da nossa mente e dos nossos sentimentos. Ao avaliarmos a nossa evolução enquanto indivíduos tendemos a concentrar-nos em fatores externos como a posição social, o poder de influência e a popularidade, a riqueza e o nível de instrução. Estes são, de facto, fatores importantes para a avaliação do sucesso individual no que se refere a aspetos materiais e é perfeitamente compreensível que muitas pessoas se empenhem em alcançá-los. 

Existem no entanto fatores internos que podem ser ainda mais decisivos na avaliação de uma pessoa enquanto Ser Humano: a honestidade, a sinceridade, a simplicidade, a humildade, a generosidade, a ausência de vaidade, a disponibilidade para ajudar os outros – qualidades ao alcance de todas as almas – constituem os alicerces da vida espiritual de cada um de nós. A evolução em matérias desta natureza é impensável sem uma introspeção séria, sem nos conhecermos a nós próprios, sem conhecermos as nossas fraquezas e os nossos erros. 

No mínimo, se não nos der mais nada, a cela proporciona-nos a oportunidade de analisarmos todos os dias a nossa conduta na sua globalidade, de ultrapassarmos o que de mau houver em nós e desenvolvermos o que possamos ter de bom. A meditação frequente, nem que seja durante 15 minutos por dia, antes de adormecer, pode ser muito proveitosa a este respeito. No início pode parecer-nos difícil identificar os aspetos negativos da nossa vida, mas com perseverança este exercício poderá revelar-se altamente compensador. Não devemos esquecer que um santo é um pecador que não cessa de se esforçar” (*).


 (*) Edição portuguesa: “Arquivo íntimo de Nelson Mandela”, Editora Objectiva



 

Sem comentários:

Enviar um comentário