Caríssimas e caríssimos,
Dois adolescentes irmãos nossos
vizinhos (ela de 13 e ele de 15) iluminam-nos os corações… As suas vidas rompem
o cinzento aborrecimento que parece pairar sobre tantos jovens e adolescentes.
Aqueles dois irmãos são amados com ternura.
Fraternalmente,
grão de mostarda
AMADOS COM
TERNURA
O olhar
ilumina-se-lhes quando lhe damos a mais pequena atenção… Basta um acenar de mão
ou um “olá” e um beijinho, para que os seus rostos se abram num sorriso de
alegria sincera.
Ela e ele, a
entrarem na adolescência, são nossos vizinhos. Vivem com o pai, dois tios
(irmãos do pai) e a avó, que os cuida como uma mãe. E todos eles habitam uma
casa modesta, ainda por terminar – tijolo e cimento à vista, divisões separadas
por cortinas…
Tanto o pai
como os tios trabalham em pequenos comércios locais. Da mãe pouco sabemos –
partiu, deixando o pai e os filhos entregues ao seu cuidado. Mas aquelas duas
crianças nunca perdem o sorriso. Quando os vemos, rua acima, com o pai ou com
um dos tios, parecem dois pequenos pardais a brincarem um com outro. Nunca os
vimos com telemóveis ou outros “acessórios” que qualquer criança hoje exibe,
nunca os encontrámos sentados à mesa de um café a comer bolos e a beber sumos, nem
ostentam as “roupas de marca” que nenhum aluno dispensa, quando ultrapassa o
portão da escola.
Por vezes, visitamo-los. A avó mostra-se contente com o seu
comportamento, expressando uma afectividade profunda pelos netos. Diríamos que
tudo é simples naquela casa, mas não: tudo é modesto, parcimonioso. Mas em cada
visita aquelas crianças mostram sempre felicidade, entrelaçada numa timidez
própria de quem vai ganhando consciência da situação de precariedade material,
relativamente às crianças com quem convivem…
Ontem
voltámo-nos a encontrar. Desciam a mesma estrada, na companhia do pai, contente
pelo início ano escolar dos filhos. Tratava-os com delicadeza e uma ternura de
coração. E, tanto ela como ele falaram dos novos colegas e da alegria de
regressarem à escola. Nunca reclamaram de, durante as férias, não terem saído
da terra…
Num dos seus
livros, o irmão Roger, fundador da Comunidade de Taizé, escreveu: “Se
soubéssemos até que ponto certas crianças precisam que olhemos para elas com
confiança para que possam reencontrar a alegria de viver…”. E estas duas
crianças experimentam esta existência.
Por vezes
interrogamo-nos: porque andam sorumbáticos tantos adolescentes, enquanto
“carregam” telemóveis e tablets ou quando, encostados aos muros da escola,
atiram para a rua as latas vazias de Coca-cola que sofregamente bebem? Talvez
estes adolescentes desconheçam, na sua própria casa, o que é serem amados com
ternura… Amar com ternura “pode ser fonte de paz para toda a vida”, como
sublinha o irmão Roger (1).
(1) “Deus só pode amar”, Gráfica de Coimbra,
2004
Sem comentários:
Enviar um comentário