terça-feira, 29 de janeiro de 2013

ESCUTAR A VIDA



Caríssimas e caríssimos, 

Acreditar na bondade do coração humano… foi o “acto de fé” que a Florinda realizou no seu coração, como Constantino Alves nos relata e que transparece na oração-poema do caboclo, por ele citado, da autoria de Fátima Irene Pinto (ver ANEXO).

Com estima fraterna,

grão de mostarda

Esta reflexão ESCUTAR A VIDA…  deveria ter sido enviada no final da semana passada. Pedimos desculpa.



A gente rezou para que Deus enviasse o seu Espírito…

A alegria estampava-se no rosto da Florinda: “A gente rezou a Deus para que enviasse o seu Espírito antes de começarmos o trabalho… e veja, padre, o resultado!”. No passado dia 17, num hipermercado (com o seu consentimento), membros do grupo Caritas entregaram sacos de plástico, apelando a quem ia fazer compras para que oferecesse alguns géneros alimentícios para os pobres e carenciados da paróquia. Existia algum receio e expectativa. A Florinda tinha dito às companheiras: “Vamos invocar o Espírito Santo para que toque o coração das pessoas. Como na pesca milagrosa o resultado foi surpreendente! Quando ela sorria de satisfação a memória trouxe-me a bela “oração do caboclo”, que me faz lembrar a multidão de pobres e carenciados que me procuram expondo as suas dores e necessidades…


Constantino Alves, Padre de Setúbal, na paróquia católica de Nossa Senhora da Conceição



ORAÇÃO DO CABOCLO


 Ói, Deus!
 Nóis tá sempre pedindo as coisas pro Sinhô.
 Nóis pede dinhero,
 Nóis pede trabaio
 Nóis pede pra chovê
 E se chove demais
 Nóis pede pra pará
 Mode a coiêta num afetá.

Nóis pede amô,
 Nóis pede pra casá
 Pede casa pra morá
 Nóis pede saúde
 Nóis pede proteção
 Nóis pede paiz,
 Nóis pede pra dislindá os nó
 Quando as coisa cumprica
 Mode a vida corrê mió.

 Quano a coisa aperta nóis reza
 Pedindo tudo que farta
 É uma pedição sem fim
 E quano as coisa dá certo,
 Nóis vai na igreja mais perto
 E no pé de argum santo
 Que seja de devoção
 Nóis deixa sempre uns merréis
 E lá no cofre da frente
 Nóis coloca mais uns tostão.

Mais hoje Meu Sinhô
 Bateu uma coisa isquisita
 E eu me puis a matutá
 Nóis pede, pede e pede
 Mais nóis nunca pregunta
 Comé que o Sinhô tá
 Se tá triste ou tá contente
 Se percisa darguma coisa
 Que a gente possa ajudá
 E por esse esquecimentp
 O sinhô tem que nos adiscurpá.

 Ói Deus, nóis sempre pensa
 Que o Sinhô num percisa de nada
 Mas tarvez num seja assim
 Tarvez o Sinhô percisa de mim
 Sim, o Sinhô percisa, sim
 Percisa da minha bondade
 Percisa da minha alegria
 Percisa da minha caridade
 No trato c’os meus irmão.

Nóis semo seu espêio
 Nóis semo a Sua Criação
 Nóis num pode fazê feio
 Nem ficá fazendo rodeio
 Nem desapontá o Sinhô
 Nem amargá o seu sonho
 Que foi um sonho de amô
 Quando essa terra todinha criô.

Ói Deus, eu prometo
 Vo rezá de ôtro jeito
 Vo pará com a pedição
 E trocá milagre por tostão
 Tarvez eu inté peça uma graça
 Mas antes vo vê direitinho
 O que é que andei fazendo de bão.
 E se nada de bão eu encontrá
 Muito vo me envergonhá
 E ainda vo pedi perdão.

Fátima Irene Pinto

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