domingo, 20 de janeiro de 2013

ITINERÁRIO DE CONFIANÇA



ITINERÁRIO DE CONFIANÇA


“Com que me apresentarei ao Senhor, quando me reclinar perante o Deus do alto? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com novilhos que tenham um ano? Agradará ao Senhor mil carneiros ou dez mil rios de azeite? Pelo meu delito, entregar-lhe-ei o meu primogénito ou o, pelo meu pecado, fruto do meu ventre? 

Homem, já te expliquei o que é bom, o que o Senhor deseja de ti: basta que respeites o direito, pratiques com amor a misericórdia e que caminhes humildemente com o teu Deus. Como é acertado respeitares-te a ti mesmo!” Miqueas 6, 6-8


Caríssimas e caríssimos,

a unidade entre os cristãos “começa pela vida quotidiana de cada um de nós” (1). É este o compromisso que desejamos assumir em gestos concretos, na ocasião em que se celebra a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, iniciada há mais de um século (2).

Inspira-nos neste propósito o texto bíblico do profeta Miqueias, escolhido como tema deste oitavário pela unidade dos cristãos: o projecto de Deus para a Humanidade é a felicidade, somente possível pela bondade de coração e a prática da justiça (3). No nosso coração, compreendemos que este deverá ser o cuidado que unirá os cristãos, para que se torne realidade o apelo de Jesus: “Sereis minhas testemunhas” (Actos 1, 8).

O irmão Aloïs, prior da comunidade de Taizé, a propósito desta passagem do livro do Actos dos Apóstolos, escreve: “Estas palavras de Cristo ressuscitado comportam, hoje, para nós, um convite a uma profunda mudança de coração. Como poderemos nós, que somos cristãos, ser testemunhas deste Cristo que ‘destruiu o muro de separação’ entre os homens, se permanecemos divididos entre nós?” (4).

Num momento de tribulação e de grandes injustiças para o povo, o profeta Miqueias não hesitou em ser testemunha; perante situações angustiantes escolheu o caminho da esperança… (5). Saberemos nós, no tempo presente, aceitar fazer uma reflexão profunda do conteúdo das palavras de Miqueias? E depois, em comunhão, teremos a audácia do irmão Roger, que a si mesmo colocou esta questão: “Como poderá a Igreja abrir as portas da compaixão e da bondade do coração?” (6).

Sistemas políticos e financeiros, durante anos e anos, apoiaram-se num paradigma obsessivo de crescimento económico. Com promessas de uma sociedade de abundância, afirmavam garantir uma felicidade que, agora mais a descoberto, se sabe estar assente em teias injustas e desumanizadoras, para a vida humana e o próprio planeta.

Que fazer? 

O irmão Aloïs, na noite de 31 de Dezembro passado, perante os 45 mil jovens que se reuniram no Encontro Europeu de Roma (7), afirmou: “Se nós, cristãos, assumíssemos juntos um compromisso prioritário pela justiça e pela paz, uma nova vitalidade do cristianismo poderia nascer: um cristianismo humilde, que não impõe nada, mas que é sal da terra.”

Esta proposta tocou fundo nos nossos corações. E longe de desejar retomar qualquer triunfalismo ou de criar quaisquer estruturas paralelas (8), as palavras do irmão Aloïs despertaram o desejo de procurar possibilidades concretas que contribuam para uma comunhão efectiva de todos os cristãos. Uma busca feita em comum, realizada de jeito informal, mas capaz de levar a gestos concretos de solidariedade e a abrir caminhos de confiança mútua.

Hoje, ao nosso lado, é já possível identificar a dor e a desesperança das vítimas dos sistemas financeiros e políticos em nada distantes daqueles que o profeta Miqueias denuncia (9). Ignorar os gritos dos aflitos e injustiçados é recusarmos o apelo de Jesus: “Sereis minhas testemunhas”. Este testemunho de unidade, porém, só ganha sentido na “vida quotidiana de cada um de nós”, como sublinha Henry Quinson.

Com estima fraterna,

grão de mostarda

(1)   Henry Quisson, “Moine des cités – de Wall Street aux Quartiers-Nord de Marseille”, Nouvelle Cité, França, 2008. Versão portuguesa: “Do champanhe aos Salmos – de Wall Street aos Bairros-Norte de Marselha”, Paulinas, 2010
(2)   Iniciada em 1908, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é actualmente celebrada em todo o mundo por cristãos de Tradição Protestante, Ortodoxa e Católica, entre 18 e 25 de Janeiro.
(3)   O profeta Miqueias (740-700 aC) experimentou um momento histórico doloroso de opressão estrangeira – a Assíria exigia a Israel o pagamento de vassalagem –, e um conjunto de injustiças, por parte dos governantes de Jerusalém, que iludiam o povo com falsas promessas de solução cultual para uma libertação imediata.
(4)   Ascensão - Sereis minhas testemunhas in “Ousar acreditar – a celebração da fé em Taizé”, Paulinas, 2012
(5)   Ver texto bíblico de introdutório.
(6)   As divisões entre os cristãos precisam de ser curadas in “Deus só pode amar”, Gráfica de Coimbra, 2004
(8)   O irmão Aloïs, durante a reflexão da oração da noite de 31 de Dezembro passado, em Roma, sugeriu: “ (…) Não esperemos que o caminho da unidade esteja programado até ao fim; antecipemos a reconciliação! Já não podemos continuar a alimentar as separações. Por causa das nossas divisões o sal da mensagem evangélica está a começar a perder o seu sabor.”
(9)   “Ai dos que planeiam maldades e tramam iniquidades em suas camas! Ao amanhecer executam-nas, porque têm o poder nas suas mãos. Cobiçam terras e apoderam-se delas; cobiçam casas e roubam-nas; oprimem os homens e as suas famílias e tomam-lhes as usas propriedades (…). Escutai-me, chefes de Jacó, príncipes de Israel: vós odiais a justiça e desvirtuais o direito. Edificais Sião com sangue e Jerusalém com crimes. Os magistrados julgam por suborno, os sacerdotes pregam por salário (…).” Ver Miqueias 2, 1-2; 3, 9-11

ITINERÁRIO DE CONFIANÇA

“Recusemos fazer separadamente o que podemos fazer juntos. Visitemo-nos uns aos outros. Há também um desconhecimento recíproco entre diferentes confissões cristãs. Quando o ultrapassamos descobrimos tesouros do Evangelho nos outros.
Voltemo-nos juntos, com humildade, para Cristo, talvez em silêncio. Escutemos juntos a sua palavra.”

Estas palavras do irmão Aloïs, proferidas em Roma, são um convite a não desistirmos. Será possível iniciar um ITINERÁRIO DE CONFIANÇA no nosso país, de maneira informal, como refere o prior de Taizé: “Visitemo-nos uns aos outros…”?

O grão de mostarda, associando-se a este apelo, deseja partilhar com os cristãos de todas as Tradições este ITINERÁRIO DE CONFIANÇA, permitindo o encontro de quantos desejarem descobrir “tesouros do Evangelho nos outros”. Esta atitude de confiança tornará possível o cumprimento do desejo de Jesus: “Sereis minhas testemunhas”.

Para procurar caminhos para este ITINERÁRIO o grão de mostarda disponibiliza o espaço da comunidade em Forjães (Esposende) para o encontro de todas e todos que desejarem iniciar esta caminhada. E para permitir uma participação mais ampla, disponibilizamo-nos para encontros no âmbito geográfico das respectivas comunidades.

A esta iniciativa podem associar-se não apenas cristãos, mas todas e todos que, não partilhando o projecto de Jesus, procuram o bem da Humanidade.

Telfs.: 253193543 ou 965336325

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