Caríssimas e
caríssimos,
Quais os nomes
da Esperança? Para os apreendermos e mastigarmos, diz-nos Luísa Alvim, “é
preciso erguermo-nos da tenebrosa profundidade e lembrarmo-nos de voo possível
das aves do céu que nos elevam a ver os lírios” (ver Mateus 6, 24-34). O repto
do projecto evangélico remete-nos para os gritos dos muitos que estão no fundo
do poço…
E, em cada gesto
acolhedor, em cada palavra de ternura, será possível ir descortinando “o nome
da esperança”? (ver ANEXO)
Com estima
fraterna,
grão de mostarda
O Nome da Esperança
Viva caríssimo
Valentim!
Cem espantos
possíveis, e no espanto uma esperança[i].
Exclama o poeta e também eu neste principiar de ano. Começar com o que não
fomos e permitir que em nós se recomece o espanto das coisas simples, dos
lírios do campo e das aves do céu, que os nossos irmãos do grão de mostarda (*) se referiam, na sua carta de dezembro, para
falar de uma vida generosa, fraterna e esperançosa!
As decisões de
esperança germinam no natal de Jesus, na pobreza, na pequenez em que ele
decidiu viver, e na história de vida que nos ofereceu: desde o comer e o beber
com os pecadores, ao abismo das tentações do deserto, culminando na redenção na
cruz.
Mastigo a
esperança[ii].
Não poderá ser de outro modo, porque todos os dias nos confrontamos com a dor,
o conflito, o sofrimento e caímos exaustos. A esperança é filha desta agonia e filha
do Eterno. É preciso erguermo-nos da tenebrosa profundidade e lembrarmo-nos de
voo possível das aves do céu que nos elevam a ver os lírios. O fio da esperança
move-se. Ascende[iii].
Mastigar a
esperança a partir do evangelho é o meu ponto de partida para desfiar o seu fio
para os outros, num movimento de partilha sem fim, face ao desmoronamento dos
que não têm trabalho, à falta de certezas dos que se sentem abandonados pelo
amor, face aos nossos irmãos que pressentem ou vivem a miséria e a pobreza no
mundo.
As delícias
desta espera tranquila, que falavas na tua carta (**) sobre o remar contra a
corrente, no colocar no nome próprio de cada um a ação de transformar a
humanidade num lugar de esperança, é a vitória de Jesus.
A comunidade de
Terraços da Ponte (***), e todos os locais onde estamos terão que ser lugares
de esperança. Temos que despertar dentro dos vivos aquilo que está morto para a
vida. E, como tão bem disse Etty Hillesum, “e se Deus não me ajudar mais, nesse
caso hei-de eu ajudar Deus”[iv].
Do fundo do
poço, de onde muitos dos nossos irmãos nos gritam, gostaria de ter o nome de
Esperança para lhes responder e de carregar com eles o peso das coisas para os
ajudar a transformá-las em notícias boas.
Caríssimo
Valentim, desejo que a fome e sede de esperança nos animem a mastigá-la!
Abraço
fraterno,
Luísa Alvim,
que acredita na vitória do bem.
[i] José Tolentino Mendonça, Estrada Branca,
Assírio e Alvim, 2005
[ii] José Rui Teixeira, Oráculo, Quasi edições,
2006
[iii] Gabriela Llansol, O começo de um livro é precioso, Assírio e
Alvim, 2003
[iv] Etty Hillesum, Diário 1941-1943, Assírio e Alvim, 2008
(*) publicada
a 15 Dezembro 2012
(**)
publicada a 23 Dezembro de 2012
(**) bairro
social no concelho de Loures, onde Valentim Gonçalves assume trabalho pastoral
Foto: “Esperança partilhada”, realizada por
Mariana e Luisinha Alvim
Luísa Alvim, cristã empenhada na paróquia católica de S. Victor, em
Braga – os seus “diários” da catequese no Facebook constituem verdadeiras
parábolas sobre o Amor Infinito –, é também membro do Metanoia – movimento de
profissionais católicos. Técnica superior (área de Biblioteca e Documentação),
na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão – actualmente a trabalhar na Casa
de Camilo - Museu e Centro e Estudos –, diz-se uma “sonhadora do impossível”.
Valentim Gonçalves é pároco da comunidade católica de S. Pedro do Prior Velho,
desde a sua constituição como paróquia, em Outubro de 1999. A população do
Prior Velho (concelho de Loures) conhece este missionário do Verbo Divino,
desde há duas décadas, quando começou a empenhar-se no serviço aos moradores da
Quinta da Serra – bairro ilegal, constituído maioritariamente por imigrantes
africanos. Provincial da sua congregação e membro da Comissão de Justiça e Paz
dos Institutos Religiosos, assume também trabalho pastoral na antiga Quinta do
Mocho (actual Terraços da Ponte, em Sacavém), igualmente habitado por uma
população de imigrantes africanos.
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