domingo, 6 de janeiro de 2013

ESPERANÇA: CAMINHO E HORIZONTE




Caríssimas e caríssimos,

Quais os nomes da Esperança? Para os apreendermos e mastigarmos, diz-nos Luísa Alvim, “é preciso erguermo-nos da tenebrosa profundidade e lembrarmo-nos de voo possível das aves do céu que nos elevam a ver os lírios” (ver Mateus 6, 24-34). O repto do projecto evangélico remete-nos para os gritos dos muitos que estão no fundo do poço…

E, em cada gesto acolhedor, em cada palavra de ternura, será possível ir descortinando “o nome da esperança”? (ver ANEXO)

Com estima fraterna,

grão de mostarda


O Nome da Esperança

Viva caríssimo Valentim!

Cem espantos possíveis, e no espanto uma esperança[i]. Exclama o poeta e também eu neste principiar de ano. Começar com o que não fomos e permitir que em nós se recomece o espanto das coisas simples, dos lírios do campo e das aves do céu, que os nossos irmãos do grão de mostarda (*) se referiam, na sua carta de dezembro, para falar de uma vida generosa, fraterna e esperançosa!

As decisões de esperança germinam no natal de Jesus, na pobreza, na pequenez em que ele decidiu viver, e na história de vida que nos ofereceu: desde o comer e o beber com os pecadores, ao abismo das tentações do deserto, culminando na redenção na cruz.

Mastigo a esperança[ii]. Não poderá ser de outro modo, porque todos os dias nos confrontamos com a dor, o conflito, o sofrimento e caímos exaustos. A esperança é filha desta agonia e filha do Eterno. É preciso erguermo-nos da tenebrosa profundidade e lembrarmo-nos de voo possível das aves do céu que nos elevam a ver os lírios. O fio da esperança move-se. Ascende[iii].

Mastigar a esperança a partir do evangelho é o meu ponto de partida para desfiar o seu fio para os outros, num movimento de partilha sem fim, face ao desmoronamento dos que não têm trabalho, à falta de certezas dos que se sentem abandonados pelo amor, face aos nossos irmãos que pressentem ou vivem a miséria e a pobreza no mundo.

As delícias desta espera tranquila, que falavas na tua carta (**) sobre o remar contra a corrente, no colocar no nome próprio de cada um a ação de transformar a humanidade num lugar de esperança, é a vitória de Jesus.

A comunidade de Terraços da Ponte (***), e todos os locais onde estamos terão que ser lugares de esperança. Temos que despertar dentro dos vivos aquilo que está morto para a vida. E, como tão bem disse Etty Hillesum, “e se Deus não me ajudar mais, nesse caso hei-de eu ajudar Deus”[iv]

Do fundo do poço, de onde muitos dos nossos irmãos nos gritam, gostaria de ter o nome de Esperança para lhes responder e de carregar com eles o peso das coisas para os ajudar a transformá-las em notícias boas. 

Caríssimo Valentim, desejo que a fome e sede de esperança nos animem a mastigá-la!

Abraço fraterno,

Luísa Alvim, que acredita na vitória do bem.


[i] José Tolentino Mendonça, Estrada Branca, Assírio e Alvim, 2005
[ii] José Rui Teixeira, Oráculo, Quasi edições, 2006
[iii] Gabriela Llansol, O começo de um livro é precioso, Assírio e Alvim, 2003
[iv] Etty Hillesum, Diário 1941-1943, Assírio e Alvim, 2008
(*) publicada a 15 Dezembro 2012
(**) publicada a 23 Dezembro de 2012
(**) bairro social no concelho de Loures, onde Valentim Gonçalves assume trabalho pastoral

Foto: “Esperança partilhada”, realizada por Mariana e Luisinha Alvim


Luísa Alvim, cristã empenhada na paróquia católica de S. Victor, em Braga – os seus “diários” da catequese no Facebook constituem verdadeiras parábolas sobre o Amor Infinito –, é também membro do Metanoia – movimento de profissionais católicos. Técnica superior (área de Biblioteca e Documentação), na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão – actualmente a trabalhar na Casa de Camilo - Museu e Centro e Estudos –, diz-se uma “sonhadora do impossível”.

Valentim Gonçalves é pároco da comunidade católica de S. Pedro do Prior Velho, desde a sua constituição como paróquia, em Outubro de 1999. A população do Prior Velho (concelho de Loures) conhece este missionário do Verbo Divino, desde há duas décadas, quando começou a empenhar-se no serviço aos moradores da Quinta da Serra – bairro ilegal, constituído maioritariamente por imigrantes africanos. Provincial da sua congregação e membro da Comissão de Justiça e Paz dos Institutos Religiosos, assume também trabalho pastoral na antiga Quinta do Mocho (actual Terraços da Ponte, em Sacavém), igualmente habitado por uma população de imigrantes africanos.

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