Caríssimas e caríssimos,
Susan aprendeu a ter uma atitude positiva perante a Vida. Não
permitiu que a fragilidade humana a aprisionasse; abriu-se à bondade,
usufruindo do amor de Alan e de cada momento vivido… Com uma singeleza profunda,
Ricardo Brochado dá-nos a conhecer duas pessoas que sabem Escutar a Vida (ver
ANEXO).
Fraternalmente,
grão de mostarda
UMA VIDA COMPLETA…
Num dia do
passado recente, numa das minhas obrigações (prazeres) pessoais, estive a
acompanhar um casal britânico dos seus setenta anos no Parque Nacional
Peneda-Gerês. No momento em que os conheci, percebi que não eram pessoas
comuns. O homem perguntou-me imediatamente se tinha sentido de humor, porque se
não o tivesse, podia-me ir embora.
Respondi
que não tinha e rimo-nos todos.
Não
queriam pessoas sisudas na sua Vida, para isso já bastavam os jarretas dos
amigos e alguns familiares.
Mostrei-lhes
o Gerês e logo de manhã fizemos o teste de esforço. Susan, assim era o nome
dela, tinha alguns problemas de saúde, incluindo joelhos e ancas frágeis, e
pouca força muscular. Fomos devagarinho, por um trilho que estou habituado a
fazer com pessoas cheias de sangue na guelra, e pulmões saudáveis. Nada de
muito exigente, mas para aquela senhora seria uma grande conquista.
Quase
a chegar à zona final do trilho encontrámos um prado junto a um ribeiro e ela,
voluntariamente e com uma sageza que lhe provém da experiência, diz-me para
continuarmos os dois que ela ficava ali sentada a apreciar a natureza.
Eu
e o Alan descemos até ao terminus da caminhada, e voltamos… E ela lá estava, de
sorriso nos olhos. Sentada na toalha que lhe tinha deixado, explicou-me que a
imobilidade lhe revelara muitos segredos: as imensas quantidades de flores
silvestres e ervas diferentes que a rodeavam, os insectos que se alimentam
nelas, o barulho das águas do ribeiro e com um pouco mais de atenção a
variedade de pássaros diferentes que ouvira cantar.
Perguntei-lhe
se estava bem; respondeu-me que aqueles dez minutos ali lhe tinham carregado a
alma de sensações necessárias, que já tinha o dia completo independentemente do
que fizéssemos durante o dia.
Momentos
antes, eu e o Alan, diante de uma vista maravilhosa de quedas de água que
descarregam as águas do Rio Arado de alturas de mais de seis metros, em
sucessivos níveis, partilhávamos o valor destas experiências para todas as
pessoas. Que mesmo com setenta anos valia sempre a pena.
Tinham
morado em cinco países diferentes durante a vida, estavam juntos há mais de
cinquenta, e que o tempo deles estava a acabar.
Susan
tem uma doença terminal e restam-lhes, aos dois, poucos dias juntos, revelou-me
com as lágrimas escondidas pelos óculos de sol.
Ricardo
Brochado
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