sábado, 7 de abril de 2012

ESCUTAR A VIDA


Caríssimas e caríssimos 

Da bondade de coração é que nasce a CONFIANÇA... na Vida, na humanidade. No fundo, na bondade de coração “aprendemos a estimar este milagre de estarmos vivos... sem perdermos a inquietação pela dor dos que não a têm”. 

Em tempo de celebrar a VIDA pela vida de Jesus, o vivente, fundada na bondade e na confiança, Paulo França conduz-nos, na reflexão Escutar a vida, desta semana, pelos percursos da bondade de coração. Nestes caminhos, compreendemos o sentido das palavras do irmão Roger: “A bondade de coração é um inestimável estímulo à acção”.

Hoje ainda publicaremos ainda a Carta em busca..., que durante o dia estaremos em comunidade a partilhar, para que se torne “agenda” do nosso quotidiano até à Páscoa de 2013. O tema é “a multiplicação dos pães” descrita por Marcos (ver cap.6, vers.30-44). O desafio lançado por Jesus aos seus discípulos – “Dai-lhes vós mesmos de comer” – mantém-se actual.

Fraternalmente, 

grão de mostarda

-- até segunda-feira próxima, não será publicada a reflexão do evangelho do dia AO ENTARDECER...




Bondade de coração


A bondade só pode gerar mais bondade. Mesmo ante a raiva, melhor é contrapor a bondade. Mesmo que isto choque ou surpreenda os outros e até provoque o riso. E confiar sempre numa esperança cega e inesgotável, mesmo que esta atitude, por incompreendida, seja vista como uma loucura pelo mais comum dos mortais. Chamamos "loucura" àquilo que nos ultrapassa e não conseguimos compreender relativamente aos comportamentos divergentes. Contrapor o perdão e a paz como resposta à violência causa estranheza ao mais comum dos mortais.

Perdoar é uma forma elevada de amor, muito próximo do amor incondicional dos pais pelos filhos e vice-versa. Temos dificuldade em lidar com a dor e com o sofrimento dos outros, aqui a compaixão é uma prática excecional e incomparavelmente vantajosa para quem se sente acolhido, ouvido pelo outro mas também para quem é compassivo. Isto é outra forma grande de amor. Praticar isto de forma natural, ser-se compassivo com os outros, estar lado a lado com a dor dos outros é perceber que a dor faz parte integrante de se estar vivo. Quanta dor podemos causar quando nos esquecemos de ser compassivos e abandonamos quem está doente e só estamos nas ocasiões da festa e da celebração? É como só existíssemos na alegria dos outros e desaparecêssemos nos momentos de dor.

Na bondade, na misericórdia tem de estar o perdão. É o perdão que se revela a melhor forma de ultrapassar os conflitos. A guerra nunca resolveu coisa nenhuma. A violência só gera violência. Ao invés, a bondade só gera bondade. Todos tendemos naturalmente para o bem e para a bondade. E aqui, mais uma vez, lá está o perdão como condição sine qua non para que haja tranquilidade, pacificação. Menos fácil é sermos capazes de nos perdoar a nós mesmos ao nível intra-pessoal, quando não confiamos em nós, quando sentimos raiva por nós mesmos, aqui os outros podem ser nossos ouvintes e ser compassivos para connosco até sermos capazes de extinguir a nossa culpabilidade. O ressentimento, a raiva acumulada, a intransigência deixam-nos desgastados, intranquilos, sem paz interior, com a consciência pesada e sem sono tranquilo. Perdoar liberta quem perdoa e quem é perdoado, co-responsabilizando ambas as partes para não haver repetência no erro.
  
Mas também no erro se aprende. Quando deixamos de repeti-lo, já teremos então aprendido.

A esperança é uma capacidade inesgotável de viver em paz com o tempo. Mesmo nos momentos negros, escuros e que nos deixam perdidos, a esperança tranquiliza-nos interiormente na realidade de que o tempo é irrepetível, flui e não pára nunca. Esta consciência que nos faz confiar na ideia de que não há dias igual, nem horas iguais dá-nos a tranquilidade da esperança num futuro próximo melhor e mais favorável.

Confiar implica arriscar. Sem arriscar não podemos ter a perceção daquilo ou de quem é confiável. A desconfiança é o comodismo de não se querer arriscar ou ousar confiar mesmo naqueles que em quem a maior parte das pessoas deixou de acreditar. Mas é esta gente que mais precisa da confiança dos outros e de restaurar também a sua auto-confiança.

Para quê ter tanta pressa? Porquê querer tudo logo e já? Que não tenhamos tempo para ter pressa! Que saibamos esperar, sem desesperar e não aceleremos o ritmo natural da cadência da vida, assim como o ciclo do Sol, desde a alvorada ao crepúsculo. Sempre com simplicidade, naturalidade. Não podemos fugir ao desígnio de esta dimensão não ser para sempre. Que aprendamos a estimar este milagre de estarmos vivos e com saúde, sem perdermos a inquietação pela dor dos que não a têm. Não somos donos do tempo, estamos de passagem. Somos húmus na nossa essência, somos natos como a natureza, só temos que aceitar a passagem do tempo com naturalidade, viver num ritmo natural como a Natureza.

Simples, funcional e tranquilamente sem acelerarmos o tempo. Este aceleramento violento do tempo é falta de esperança, incapacidade de confiar nos outros, na vida e no facto de que as coisas se resolvem porque é tudo uma questão de tempo.

Paulo França

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