Caríssimas e caríssimos,
nesta semana, De que mundo somos? fala-nos
de uma urgência do tempo atual: “dependentes do Amor“. Eles, escreve Luísa
Alvim na sua carta (ver ANEXO), são os visionários de
“um mundo novo”, que com “o seu gesto mínimo alteram a ordem e o ritmo das
vidas desgraçadas e doentes que encontram ao seu redor”.
Esta reflexão, torna-nos presentes palavras do
irmão Roger, escritas há mais de uma década: «Aqueles que buscam viver na
simplicidade, estão atentos a não ser ‘mestres da inquietude’, mas a permanecer
como ‘servidores da confiança’». Esta é a urgência da família humana...
Fraternalmente,
grão de mostarda
Luísa Alvim, cristã empenhada na
paróquia católica de S. Victor, em Braga – os seus “diários” da catequese no
Facebook constituem verdadeiras parábolas sobre o Amor Infinito --, é também
membro do Metanoia – movimento de profissionais católicos. Técnica superior
(área de Biblioteca e Documentação), na Câmara Municipal de Vila Nova de
Famalicão – actualmente a trabalhar na Casa de Camilo - Museu e Centro e
Estudos –, diz-se uma “sonhadora do impossível”.
Valentim Gonçalves é
pároco da comunidade católica de S. Pedro do Prior Velho, desde a sua
constituição como paróquia, em Outubro de 1999. Porém, a população do Prior
Velho (concelho de Loures) já conhece este missionário do Verbo Divino desde há
duas décadas, quando começou a empenhar-se no serviço aos moradores da Quinta
da Serra – bairro ilegal, constituído maioritariamente por imigrantes
africanos. Vice-provincial da sua congregação e membro da Comissão de Justiça e
Paz dos Institutos Religiosos, ainda desenvolve trabalho na antiga Quinta do
Mocho (actual Terraços da Ponte, em Sacavém), igualmente habitado por uma
imensa população de imigrantes africanos.
Viva caríssimo
Valentim!
Foi
uma Páscoa abençoada, como previas na tua última carta, e a interpelação de
salvar tudo e todos terá que estar sempre a desafiar-nos! Fazer cruzar o
caminho dos nossos irmãos com o caminho do Ressuscitado, permitir que todos experimentem
um encontro com ele através do nosso coração compassivo e uma presença viva nos
outros.
Ao
ter presente o tema-pergunta “De que mundo somos?”, que nos une nestas cartas,
fico sempre perplexa com o mistério da vida, com todas as respostas diligentes
que cada um de nós dá individualmente e em comunidade. Penso, também, nas
pessoas profundamente resignadas e naquelas que vivem no ceticismo, sem
vislumbre de um tempo de esperança. Até neste tempo de crise, no tempo de
chorar, temos que consolar na esperança e fazer acreditar que se seguirá um
tempo de alegria.
A
missão de colocar no coração dos outros a dimensão de eternidade é a faceta do
tempo que mais me comove. Anunciar o evangelho no tempo de doença e de pobreza
é revelar um tempo medicinal e sagrado que só é possível gozando e ensinando a
confiança no Pai. O sucesso na vida é o reconhecimento que todos os tempos são
tempos de Deus e que depositamos o presente nas suas mãos, em total liberdade
para aceitar e receber por vezes o nada, mas gratos pelo êxito da dependência e
pela dimensão do eterno na velocidade do tempo.
Somos
deste mundo em veloz andamento, que ambiciona uma falsa riqueza e que nos
propõe genericamente uma vida comprada nos hipermercados e nos triunfos do
trabalho. Mas neste glorioso mundo em que vivemos existem também os dependentes
do Amor a propor uma vida não tão centrada no trabalho excessivo e na aquisição
exagerada dos meios para viver, a propor um bem-estar com o tempo, a viver
equilibradamente na natureza e a partilhar o que se tem com os outros, abertos
à confiança total do Amor.
O
mundo de hoje é destes visionários, dos que acreditam que há vida para além dos
despejos das habitações, dos dramas de não ter alimentos para os filhos, de não
ter possibilidade de trabalho, de nada ter e nada ser, e que com sua presença
evangélica e o seu gesto mínimo alteram a ordem e o ritmo das vidas desgraçadas
e doentes que encontram ao seu redor.
Qual
o segredo que possuem para a criação de um mundo novo?
Afirmas,
na última carta, que a chave do segredo não está nos livros, nos títulos, nas
normas humanas, mas na disponibilidade interior de compassivamente olhar o
próximo e de se alimentar do Amor Infinito. Temos que repetir exaustivamente
que é preciso ir ao Pai para receber TUDO, com coragem e humildade de pedir a
mão que salva.
O
segredo é ser um pedinte que dá, um professor que aprende, um dador que recebe.
Pedimos a mão que salva para salvar a vida do outro, e neste círculo espacial
do mundo em que estamos e somos, encontramos o tempo para o perder na
eternidade de Deus. Em nome de quem dou a mão?
Abraço
fraterno,
Luísa Alvim, que acredita que ao gritar pela salvação, Jesus estende-me a mão,
segura-me e permite que caminhe pelas águas revoltas a serenar e a tranquilizar
os que estão ao meu lado (Mateus 14, 22-33*).
*texto citado: ”...Depois disse aos discípulos que embarcassem
e passassem à frente para a outra margem, enquanto ele despedia a multidão. E
depois de despedi-la, subiu só à montanha para orar. E ao anoitecer ainda
permanecia, sozinho, ali.”
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