Caríssimas e caríssimos,
há já alguns anos, Ricardo Brochado teve a ousadia de preservar um
conjunto bibliográfico, com exemplares com mais de um século, e que, então,
iria ser destruído…
Ainda em Fevereiro todos ficámos consternados perante a destruição
de peças do Museu de de Mossul (Iraque), datadas entre os séculos VIII e VII
a.C., bem como da eliminação de vestígios de Nimrud, no passado dia 5. Fundada
no século XIII a.C. era uma das raras jóias da cultura assíria…
O património da Humanidade – material e imaterial – tem sido
ciclicamente devastado por obscuros “tempos de morte”. É como retirar a um
corpo um pedaço da sua essência. Preservar é permitirmo-nos estar atentos: o
futuro é construído pelo agora e Ricardo Brochado compreendeu, e empenhou-se, nessa
tarefa de humanidade, iluminadora das nossas vidas individuais e da história
comum de todas e todos nós. Hoje o seu gesto de há anos permitiu que alguém, do
outro lado do mar, desse continuidade a uma investigação em favor da
Humanidade…
Fraternalmente,
grão de mostarda
O futuro construído no agora…
No princípio do milénio corrente, passava
numa das ruas do Porto quando me deparei com uma carrinha de caixa aberta
carregada de sacos do lixo. Aproximei-me e percepcionei que dentro dos sacos se
encontravam livros. Intrigado constatei que se tratava de livros do século XIX.
Falei com os homens que estavam a carregar o
veículo e fui informado que tinham sido mandatários pelo dono de uma galeria de
arte, ali vizinha, que se desfizessem daquilo. Um deles, humilde mas mais
informado que o “taliban” do patrão, sugeriu que se chamasse um dos
alfarrabistas da rua ao lado ao que lhe responderam: “Vai tudo para o lixo, nem
para a reciclagem.”
Perguntei se podia levar um saco ao que me
disseram que até os podia levar todos. Assim fiz e levei para casa 3500 amigos
das mais variadas temáticas, na sua maioria com mais de cem anos.
Esta semana recebi um email
de um doutorando em tradução brasileiro, que me perguntava por um desses livros
que necessitava para os seus estudos e não encontrava em lado nenhum. Eu tinha
três cópias e cedi-lhe uma. Explicou-me que aquele livro o ia ajudar imenso no
aperfeiçoamento do estudo do processo de tradução ao longo dos tempos. Fiquei
feliz.
A cultura que o ser humano foi criando ao
longo dos tempos vai sendo aperfeiçoada com todos os contributos de uma
comunidade distribuída pelo tempo. É pena que pessoas, como o proprietário de
uma galeria de arte bem como terroristas que destroem preciosos vestígios da
nossa cultura, não estejam no mesmo comprimento de onda que o resto da
Humanidade.
Ricardo
Brochado
Sem comentários:
Enviar um comentário